A paraibana que governou São Paulo

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Nonato Guedes

Luíza Erundina de Sousa, natural de Uiraúna, na Paraíba, ganhou notoriedade nacional quando foi eleita a primeira prefeita de São Paulo, representando, ainda, um partido de esquerda, como o PT. Eleita com 29,84% dos votos em 1988, Erundina é assistente social, atualmente deputada federal pelo PSB paulista e tem como uma das grandes emoções da sua trajetória o fato de ter saído da Paraíba, em 1971, por imposição do regime militar. Nascida em novembro de 1934, foi a sétima de dez filhos de um artesão de selas e arreios de couro. Começou a trabalhar ainda na infância, vendendo bolos feitos pela mãe. Repetiu a quinta série duas vezes para não parar de estudar, já que a cidade não tinha curso ginasial.

Foi morar em Patos com uma tia, em 1948, para cursar o ginásio. Formou-se em Serviço Social na Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa, em 1967, e seguiu para São Paulo em 1971 para fazer mestrado na Escola de Sociologia e Política. Erundina sonhava ser médica, mas por dificuldades diversas, teve que suspender os estudos durante nove anos. Mesmo assim, ajudou a fundar, em Campina Grande, a Faculdade de Serviço Social. Através da militância católica, assumiu em 1958 seu primeiro cargo público: diretora de Educação e Cultura da prefeitura de Campina, sendo efetivada como secretária em 1964. Na época, ela já fazia oposição ao golpe militar e apoiava as Ligas Camponesas. Atuou, posteriormente, em João Pessoa, na área da Previdência, trabalhando sob o comando do bacharel Amir Gaudêncio, recentemente falecido.

Ao se transferir para São Paulo em definitivo, em 1971, Erundina foi aprovada em um concurso público para assistente social da prefeitura, indo trabalhar com os nordestinos migrantes nas favelas da periferia da cidade. Aprovada em concurso para a Secretaria do Bem-Estar da prefeitura paulistana, passou a colaborar com movimentos de periferia que reivindicavam moradia e ocupavam terrenos públicos abandonados. Em 1980, foi convidada pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva a ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, pelo qual se elegeu vereadora em 82 e deputada estadual constituinte em 86. Em 85, foi indicada pelo partido para ser vice na chapa do candidato Eduardo Suplicy às eleições municipais. Suplicy ficou em terceiro lugar no pleito vencido por Jânio Quadros, mas a expressiva votação recebida pelo PT impulsionou o crescimento da agremiação na cidade. Em 1987, já como deputada estadual, Erundina foi agredida pela Polícia Militar durante manifestação de servidores contra o governo de Orestes Quércia, do PMDB.

Em 1988, candidatou-se às prévias do partido para a decisão de lançamento de candidatura à prefeitura de São Paulo nas eleições à vista. O outro candidato concorrente foi Plínio de Arruda Sampaio. Erundina venceu Plínio na disputa interna e se lançou à corrida municipal, concorrendo contra Paulo Maluf, João Oswaldo Leiva e José Serra, entre outros. Figurou na largada em terceiro lugar nas pesquisas, atrás de Maluf e de João Leiva, do PMDB e fazia uma campanha caracterizada pelos baixos recursos, militância pesada nos bairros e ataques eloqüentes no horário eleitoral à administração de Jânio Quadros e demais candidatos. Erundina acabou vencendo, favorecida pela repercussão de uma greve na Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda.

Como prefeita, elaborou ações importantes nas áreas de educação e saúde, além de investir em políticas sociais e na cultura. O aspecto mais polêmico da sua gestão foi a tentativa de mudança nas regras de cobrança do IPTU, o que foi rechaçado pela Câmara Municipal e criticado por setores da imprensa. Considerada uma das principais lideranças de esquerda no país, não conseguiu constituir um sucessor. O candidato petista Eduardo Suplicy perdeu para Paulo Maluf em 92. Em 96, 2000 e 2004, Erundina candidatou-se novamente ao cargo de prefeita, sem obter sucesso, apesar de ter disputado o segundo turno em 96. Com o advento do impeachment de Collor em 93, foi convidada por Itamar Franco a se tornar ministra-chefe da Secretaria da Administração Federal. A atitude contrariou deliberação do PT que suspendeu seus direitos e deveres políticos. Depois de 17 anos de militância, ela saiu do PT e em 1998 transferiu-se para o Partido Socialista, elegendo-se deputada federal. Nas eleições de 2012, ela foi convidada a ser vice-prefeita na chapa de Fernando Haddad, numa composição que abrigou o apoio de Paulo Maluf. Erundina contestou essa aliança e saiu da chapa, sem deixar de apoiar Haddad, afinal vitorioso. A deputada tem atuação elogiável na Câmara Federal e frequentemente visita a Paraíba, onde se encontra com familiares e pessoas do seu círculo de convivência, além de manter encontros com o governador Ricardo Coutinho (PSB).