Dilma cortejou Ricardo para ganhar apoio do PSB

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Nonato Guedes

Não há dúvidas de que a presidente Dilma Rousseff, na sua vinda, ontem, à Paraíba, montou um palanque ecumênico, recebendo em audiência gregos e troianos e despachando gentilezas com lideranças políticas, indistintamente de partidos. Mas um fato chamou a atenção de observadores políticos: o interesse da presidente em estreitar relações com o governador Ricardo Coutinho, do PSB, a quem chamou, em público, de “parceiro”. Dilma considerou elegante a postura de Ricardo ao se dirigir a ela formulando reivindicações de investimentos estruturantes. Nessa ocasião, Coutinho deixou claro que não se tratava de pedidos, mas de desejos, e insinuou que a Paraíba ficaria muito grata se a presidente complementasse investimentos no Centro de Convenções e priorizasse reformas no aeroporto “Castro Pinto”, além de contribuir para modernizar o Porto de Cabedelo.

Valendo-se da sua própria intuição e, talvez, de sugestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma afagou o PT, incluindo o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, na comitiva que embarcou em Brasília. Mas ao chegar à capital paraibana, deu as mãos ao governador Ricardo Coutinho, que fora dos limites de João Pessoa, em outro discurso a céu aberto, fez a defesa das ações da presidente em favor da região e cobrou mais flexibilidade da classe política diante das limitações do governo federal para atender os diferentes pleitos apresentados. Coutinho foi convidado, também, a participar do almoço na chácara da família Ribeiro, nos arredores de Campina Grande. Todos esses movimentos de Dilma foram interpretados como uma estratégia para tornar Ricardo emissário de conversações com o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, com vistas a convencê-lo a apoiar a candidatura dela à reeleição. Campos, que governa o vizinho Estado de Pernambuco, está em francas articulações para sair candidato em 2014. Dilma sabe da influência do PSB no Nordeste, e quer contar não só com a adesão formal de Campos como do apoio do governador paraibano.

Quem se saiu aparentemente escanteado no cenário que marcou a vinda da presidente, pela primeira vez, à Paraíba, foi o PMDB, que tem o vice-presidente da República, Michel Temer, como aspirante a manter-se na chapa. Teoricamente, Dilma sinalizou em Brasília, inclusive, a líderes peemedebistas paraibanos, que a aliança com o PMDB será mantida. Ela está atenta, naturalmente, ao peso da bancada peemedebista no Congresso, onde o partido aliado controla as presidências do Senado e da Câmara. Mas há rumores de que a presidente teria sido desaconselhada a aprofundar a linha de compromisso com relação à provável candidatura de Temer a vice e, no reverso da medalha, investir na atração do PSB. A discussão sobre o formato da chapa ficará mesmo para 2014, mas o governo federal detém ministérios importantes que podem fazer parte de uma composição, se houver desejo de aproximação entre partidos que se mantiveram juntos até agora.

 

Houve quem notasse que foi mínima a presença de peemedebistas, ontem, nos eventos de que a presidente Dilma participou na Paraíba. A deputada federal Nilda Gondim preferiu ir a Itatuba para fazer parte da comitiva. Seu filho, o senador Vital, foi despachado para o Rio para uma conversa com o governador Sérgio Cabral sobre partilha de royalties do petróleo. E o outro filho da deputada Nilda, o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, pré-candidato do PMDB ao governo do Estado, não teve visibilidade na agenda presidencial cumprida na Paraíba, que agregou até políticos do DEM, do PEN e do PSDB. Dos deputados federais peemedebistas, apenas Manoel Júnior conseguiu se infiltrar na comitiva, tendo acesso ao almoço oferecido na chácara dos Ribeiro em Lagoa Seca, onde, naturalmente, os anfitriões foram o ministro das Cidades, Aguinaldo, e seus pais, o ex-deputado Enivaldo e a atual prefeita de Pilar, Virgínia Veloso. Alguns peemedebistas alegaram que já haviam estado com Dilma em Brasília numa recepção oferecida pelo vice-presidente Michel Temer e que tiveram a oportunidade de dialogar em torno de problemas da Paraíba. Mas a ausência, ontem, e os acenos emitidos pela presidente ao governador Ricardo Coutinho deixaram até petistas com a pulga atrás da orelha. O problema é que, como sempre, a eleição presidencial tem prioridade, por ser a mais importante, obviamente. Dilma armou de caso pensado o cenário que vivenciou, ontem, na Paraíba, Estado que agora pretende visitar mais vezes, superando, definitivamente, o jejum que havia imposto. Quanto a Ricardo Coutinho, saiu bastante valorizado junto à presidente da República. É o consenso entre lideranças menos passionais.