Governo premia lealdade de Hervázio

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Nonato Guedes

A manutenção do deputado Hervázio Bezerra como líder da bancada oficial na Assembléia Legislativa foi um reconhecimento, por parte do governador Ricardo Coutinho (PSB), à lealdade canina demonstrada pelo parlamentar à sua administração. Hervázio é filiado aos quadros do PSDB e suplente de deputado estadual. A sua ascensão ao mandato titular decorreu de uma manobra feita pelo governador, que remanejou parlamentares do seu bloco para secretarias de Estado. Hervázio sucedeu no posto de líder ao deputado Lindolfo Pires, do DEM, que além de vir enfrentando problemas em plenário, foi derrotado como candidato a prefeito de Sousa nas eleições do ano passado pelo ex-deputado peemedebista André Gadelha.

Hervázio, que já foi da “copa e cozinha” do senador Cícero Lucena, tornou-se aliado de Ricardo Coutinho seguindo a orientação do senador Cássio Cunha Lima que, em 2010, no afã de derrotar José Maranhão ao governo, apostou fichas no então candidato socialista, em detrimento do próprio Cícero Lucena. A relação estreitou-se quando Hervázio demonstrou, em manifestações na tribuna, identificação com o projeto administrativo de Ricardo. Ele optou por nomear Hervázio para líder, supostamente em virtude, também, da sua experiência maior, pelo fato de ter sido vereador, secretário da prefeitura e deputado.

Como líder, Hervázio foi posto à prova em situações difíceis, várias vezes, quando do envio de matérias do Executivo. No Palácio da Redenção, porém, a análise feita foi no sentido de que o problema não estava na sua dificuldade de conseguir apoios, mas na falta de um reforço do próprio governador, que teria que mudar sua postura com a classe política a fim de ganhar adesões. Ricardo foi refratário a essa hipótese em inúmeras abordagens que enfrentou a respeito, mas no final do ano passado chegou à conclusão de que precisava oferecer logística mais consistente ao trabalho do líder, diante de derrotas em votações consideradas valiosas ou imprescindíveis. O esforço de Hervázio nunca deixou de ser reconhecido, mas ele se tornou, também, porta-voz de queixas de parlamentares da base quanto ao tratamento dispensado diretamente pelo chefe do Executivo.

A gota d´agua deu-se em dezembro, quando o plenário acabou aprovando alteração no quorum para aprovação ou rejeição de matérias do Executivo. O quorum acabou sendo baseado no critério da maioria simples e não na maioria qualificada de votos. O governador acusou o golpe e insinuou que a Assembléia Legislativa, por meio do seu presidente Ricardo Marcelo, presidente do PEN, estava querendo medir forças com o Executivo. Num primeiro momento, Coutinho desabafou que não ficaria refém dos deputados estaduais e chegou a demitir correligionários de parlamentares que ora votavam a favor, ora votavam contra o governo, a exemplo de José Aldemir Meirelles. Hervázio recebeu, então, carta branca para mapear a situação e identificar as reclamações mais comuns, levando-as ao conhecimento do chefe do Executivo. Desde então, Ricardo – que já foi deputado estadual, de oposição – operou mudanças no estilo de se relacionar com os integrantes da base.

Passou a conceder audiências a deputados e a prefeitos levados pelos parlamentares. Despachou pleitos favoráveis a interesses dos municípios e das regiões de atuação dessas lideranças. Enfim, promoveu um encontro no Hotel Tambaú, agregando prefeitos, prefeitas e parlamentares, a fim de lançar a nova versão do Pacto pelo Desenvolvimento Social do Estado, acenando com a celebração de parcerias com os municípios. O clima desanuviou, e o trabalho de Hervázio foi facilitado. Ele aproveitou o período do recesso parlamentar e caiu em campo para atrair adesões ao governo, independente de filiação ao PSB ou a outros partidos da base. Recebeu deputados oposicionistas que haviam sido sondados por Hervázio. A tendência pró-governo começou a ser revertida. Ainda não dentro do cenário que interessa ao governador, mas, sem dúvida, significando um avanço na relação com os deputados e deputadas. Hervázio diz que continua trabalhando para ampliar a vantagem, de forma a possibilitar tranqüilidade absoluta no plenário. Seu trabalho de “formiguinha” é respaldado, segundo algumas fontes, pela convicção de grande parte dos parlamentares de que ele é favorito para a reeleição em 2014. Na contabilidade dos votos em plenário, cujo colegiado é de 36 integrantes, há uma parcela da contribuição de Hervázio, ontem reafirmado no papel de líder, no dia em que Ricardo tomou café da manhã com deputados considerados fiéis.