Frituras e queimações

Rubens Nóbrega

Quando um governante apronta das suas e seus atos prejudicam os governados, há sempre um bajulador a postos em alguma tribuna, na imprensa ou no parlamento, pronto para descarregar a culpa pelo desastre no lombo do ministro, secretário, assessor…

Se for para livrar a cara do chefe, escamotear a incompetência ou camuflar a incúria do poderoso da hora, canalhas úteis botam imediatamente a frigideira no fogo começam a tostar o escolhido para o sacrifício em nome da ‘causa’. Ou do ‘projeto’, como costumam dizer na Paraíba de hoje.

Nessa fritura, de uma hora pra outra, sem que ninguém ou quase ninguém da plebe rude e ignara saiba o porquê, ocupante de vistoso cargo no governo desce repentinamente do céu ao inferno onde lhe condenam por ter subitamente perdido o prumo e o rumo, desviando-se das sagradas e infalíveis orientações do capo.

Assim, quando erros governamentais começam a surtir efeitos danosos à população, lesivos ao erário ou negativos perante a opinião pública, nesse momento começa a caça aos culpados e suspeitos de sempre. Tudo para descolar da figura do presidente, governador, prefeito etc. a responsabilidade pelo malfeito cometido.

Mal assessorado coisa nenhuma!

“Evidente que Fulano (presidente, governador, prefeito etc.) está mal assessorado”, conclui fácil e rápido aquele locutor ou escriba de plantão acionado para inculpar quem lhe paga o soldo da consciência e transferir a algum auxiliar descartável a autoria da decisão ou atitude de governo que fez mal, pegou mal.

Mediante técnicas e métodos semelhantes, já vi uma meia dúzia de super secretários de Estado ser alijada do círculo íntimo do poder na Paraíba. Não vou batizar a boiada porque algumas cabeças permanecem vivas e se bulindo por aí. Seria constrangedor, pois admiro e respeito entre eles aqueles que tiveram carreiras interrompidas ou encerradas por egoísmo ou canalhice de governantes a que serviram.

Eis por que ontem, hoje e sempre jamais me convenci nem me convencerão de que esse ou aquele auxiliar de governo pôde ser mais realista do que o rei.

Nunca me farão acreditar que um ministro, secretário, assessor, chefe de gabinete etc. induziu o soberano da vez a adotar medidas duras que no final mostraram-se ruins ou burras, porque administrativamente inócuas, socialmente injustas, economicamente improdutivas ou juridicamente inconsequentes.

Como diria o Compadre Horácio…

Não tem quem me bote da cabeça que esse povo instalado no topo do poder é fantoche nas mãos de eminências pardas fabricadas pela mídia ou auto-insinuadas. Os que assumem esse papel na maioria das vezes levam fama sem proveito, mas levam com gosto porque são capazes de tudo e um pouco mais para agradar ao boss.

Não venham me dizer, por exemplo, que FHC, Lula e Dilma chegaram à Presidência da República e de lá governaram o país graças tão somente ao gênio de gurus marqueteiros ou conselheiros que jogam pra galera e vez por outra se dão mal porque trombam com quem manda de verdade ou acabam fazendo m… mesmo.

Não fosse assim, presidente teria sido Sérjão Motta e não o Farol Henrique Cardoso. Não fosse assado, presidente teria sido Zé Dirceu e não Lula. Está aí a razão de não trazer no juízo a mais remota dúvida de que do Marechal Deodoro a Dona Dilma, por méritos alheios nenhum bilolinha morou no Catete ou no Alvorada.

Pra fechar, digo-lhes que em matéria de procurar saber quem é quem nessa história guio-me pela fina ironia do jornalista José Euflávio. Vez em quando ele conta que quando Deus distribuiu esperteza no mundo esse pessoal (presidente, governador, prefeito etc.) entrou na fila duas ou três vezes. No mínimo.

Aposentado, enfim, da obrigação

Encerrei oficialmente minha carreira no serviço público federal na última terça-feira, 19, data em que foi publicada a portaria da minha aposentadoria no Diário Oficial da União. O leitor nada tem a ver com isso, mas conto com a sua generosa condescendência e permissão para aproveitar o registro e agradecer publicamente a todos os colegas com os quais trabalhei nos últimos 35 anos na UFPB.

Agradeço particularmente aos companheiros e companheiras de trabalho na Procuradoria Jurídica da Universidade, órgão de minha lotação e exercício nos últimos dez anos, período em que servi à instituição sob a orientação, competência e decência do Doutor Gil Messias, nosso Procurador-Geral.
Formalmente aposentado da obrigação, pretendo dedicar-me com mais afinco e entusiasmo à devoção de escrever, inclusive escrevendo algo mais além desta coluna. Afinal, pretensioso por natureza como todo jornalista, projeto arriscar-me também na literatura. Darei notícia do que resultar dessa incursão.

E o faria até mesmo para validar uma das máximas prediletas do meu amigo Duda, o jornalista Luiz Eduardo Carvalho. “Caldo de galinha, água benta e pretensão não fazem mal a ninguém, camarada”, costuma dizer, sempre que apresentado a sonhos potencialmente inacessíveis ao sonhador. Vamos lá pra ver o que virá, então.