Punição ou " Bode Expiatório " ?

Bruno Filho

Nada vale mais do que uma vida neste mundo. Principalmente se essa vida for a de uma criança indefesa, gozando de sua juventude em plena saúde e com uma longa história pela frente. E esse humano pode estar aqui na Paraíba, em algum lugar do Brasil ou em qualquer parte do mundo, independe de raça, religião, condição social ou qualquer coisa que o valha.

Partindo desse princípio concluímos que quando ela é ceifada não há retorno, não adianta chorar em cima do caixão, e que a única forma que temos para abrandar um pouco o sofrimento é tentar consertar o que está errado e não deixar que o fato venha a se repetir. E é exatamente ai que estamos pecando. Não conseguimos resolver pequenos problemas o que dirá os grandes.

A morte do jovem torcedor boliviano atingido por um sinalizador atirado por alguns torcedores corintianos que estavam no Estádio em Oruro nos leva a crer que a hora das soluções já passou faz muito tempo. Ninguém faz nada para resolver, e agora quando a porteira teve sua tranca mais uma vez arrombada, todos correm para achar a solução.

O Corinthians é muito grande. Uma nação sem precedentes carregada de paixão e amor ao longo destes 102 anos de existência. Dentre os torcedores do clube existem pessoas de bem, de respeito, cultuadoras da ordem e que se aproximam de 35 milhões no total. Pois bem, dito isso, vamos a punição diretamente falando: o clube está proibido de receber torcedores em seus jogos. Jogará com portões fechados.

Não é correto ! Os torcedores que na maioria são da ordem e da lei não podem pagar pelos atos de outros que fizeram ou não atos de vandalismo. A punição deve ser exemplar para quem a cometeu, e nunca generalizar. Concordo até que o clube possa ser penalizado com suspensão, mas tirar da torcida o direito de ir a campo, nunca.

Então vamos fazer o seguinte: vamos fechar todas as boates do Brasil, em função do sinalizador que matou 239 pessoas em Santa Maria. Não seria correto na minha visão. Não é hora de “Bode Expiatório”, mas entendo que trata-se de uma decisão de populista, pois se está punindo o Campeão do Mundo, então uma demonstração de força para punir qualquer um.

Abro mão de meu direito de torcedor se o clube for eliminado das competições, porém em favor de nunca mais termos um sinalizador sequer nos Estádios, nenhuma briga nos gramados e nenhum tumulto nos arredores das praças esportivas. Se assim for, fiquem a vontade, punam. Mas lembrem-se que estão punindo uma agremiação, não estão punindo a corrupção e nem os desmandos.

Se os corruptos continuarem existindo, sinalizadores e rojões continuarão a ser vendidos em campo. Se não punirmos quem vende bebidas alcoolicas nos arredores dos palcos do futebol, não adianta proibir a bebida na parte de dentro. Os que gostam já entrarão bebados para assistir o jogo. Se vendermos spray colorido teremos sempre os grafiteiros, e se comercializarmos dinamite teremos explosões de caixas e bancos.

O âmago da questão é combater o mal lá na raiz, e não impedir que os torcedores do bem vejam jogos. O mal não pode nunca vencer o bem. Existem leis, polícia e justiça para que se faça isso. Os que erraram que paguem, os que não erraram que continuem a viver a vida normal. Repito, “Bode Expiatório” não, não aceito de forma nenhuma.

Antes de punir um time de futebol, punam-se os dirigentes, aqueles que roubam medalhas, fazem “gato” de energia, importam com dinheiro publico artefatos para a montagem de bares e restaurantes, compram imóveis sub-faturados, mantem dinheiro ilicito no exterior, negociam vendas de sede de Copas do Mundo com lavagem de petrodólares e mais…mais…mais…

Não façam cortesia com o chapéu alheio, e não molestem milhões de almas. Criem vergonha na cara e punam a quem deve ser pounido exemplarmente, mas não punam uma nação. Se assim for feito, todos nós que somos do bem juramos que abriremos mão de nosso direito inquestionável de ir e vir, mesmo em se tratando do apaixonante futebol. Pois nada vale mais do que uma vida humana, o que diria a corrupção.

Bruno Filho, jornalista e radialista, indignado com a imagem de que os dirigentes são sérios !

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