Eu nunca havia estado lá, ali…
Entre muros e grades.
O máximo que conhecia daquela atmosfera era através de transposições artísticas, jornalísticas.
Visões pautadas em livros/filmes como Carandiru, de Drauzio Varela, as músicas dos Racionais MCs “aqui estou mais um dia…”, matérias diversas, ou relatos de um amigo agente penitenciário.
Mas penetrar, pessoalmente, naquele ambiente de vida e regras próprias vai muito além de ficção.
Ali, no presídio, quase imperativamente, todos ressaltam que habitam histórias, muito mais que meros artigos do Código Penal.
Sim, é bem verdade, muitas vezes, histórias de algozes de outras vidas, outras famílias.
Homicidas.
Também inimigos do sistema.
Fraudadores, estelionatários.
Neste mesmo espaço também residem auto-proclamados injustiçados, em intensidade e realidade bem aquém do tradicional estigma “aqui todo mundo é inocente”.
Outros aliciados pelo crime desde cedo, seu vizinho mais próximo que o próprio Estado.
Outros, simplesmente, buscaram a opção mais fácil de viver melhor.
Alguns apenas quiseram ter uma vida “digna”, entendendo dinheiro, ostentação como dignidade.
Ouvi muitas confissões espontâneas, minuciosas, sempre de peito aberto.
Mais que isso, vi nos olhos o peso da privação de liberdade, do contato restrito com entes queridos.
Sim, eles têm família também. Todos eles.
Quase todos admitem que não largariam o crime voluntariamente, se não houvesse a prisão e a mudança radical de vida advinda daí.
Reconhecem o impacto da reclusão como lição de vida, maior punição e método de disciplina.
Mas goste você, ou não, invariavelmente, todos voltarão ao convívio social.
Muitos direto para o mundo do crime, é bem verdade.
Outros tantos buscarão reintegração à sociedade no modo “convencional”.
São os chamados reeducandos, que buscam trabalhar, ou estudar na prisão para aproveitar remissão de pena, aprender um ofício, gozar de benefícios por bom comportamento, evitar o mundo cão dos pavilhões das facções e vislumbrar um futuro diferente do lado de fora da prisão.
Você sabia, por exemplo, que a Paraíba tem um apenado com a maior nota no ENEM dentre todos os reeducandos do Brasil?
É sobre o papel do Sistema, do preso, da iniciativa privada e, por que não, seu, nosso, da sociedade em geral na ressocialização de apenados que tratará a série especial que irá ao ar pela Rádio Tabajara, será publicada no Jornal A União e postada em formato podcast, em produção exclusiva da Empresa Paraibana de Comunicação.
Fiquem ligados.
Fonte: Marcos Thomaz
Créditos: Polêmica Paraíba