Sobre o Concurso de Escolas de Samba

Bruno Filho

” Samba Business “. Já ouviu falar ? É o novo-velho genero sambístico que figura nas paradas de sucesso da Sapucaí, Anhembi e em outras pistas carnavalescas que existem pelo Brasil afora. Aquele que permite a existência de Paulo Barros e Rosa Magalhães e suas super Escolas de Samba S/A com megas carro-alegóricos, fantasias pirotécnicas ou pirocópteras.

Em resumo, dinheiro, muito dinheiro em jogo. Antes era samba-canção, samba-sincopado, samba-de-gafieira, e agora é samba-business. Reza a lenda que a ligação do jogo do bicho com o Carnaval remonta aos anos 30. O falecido Natal da Portela, um dos baluartes da azul e branca de Oswaldo Cruz ao perder um braço num acidente foi trabalhar como apontador do jogo.

Rapidamente tornou-se o maior da região de Madureira e com a morte de Paulo da Portela patrono e fundador da Escola, passou a injetar recursos das apostas na instituição como forma de homenagear o amigo. Surge então a figura do patrono-bicheiro, ícone e folclore do samba desde que o concurso existe. A ação desses “investidores” torna-se mais evidente a partir da década de 70 quando o concurso passa a ter visibilidade nacional.

Divertir as massas era o que o Governo da época mais queria e assim passar por cima dos outros milhares de problemas. Nos anos 80, o desfile ganha um peso maior ainda, saindo das ruas e ganhando a Sapucaí, o famoso Sambódromo. Os carros alegóricos não cabiam mais nas ruas. A transmissão pelas emissoras de televisão passou a ser no horário nobre.

Com as manchetes de jornais, a injeção de dinheiro do jogo do bicho é maior do que nunca. Os nomes de Castor de Andrade, Anísio Abraão entre outros passam a ocupar o noticário carnavalesco. Surgem os super-carnavalescos como Joãozinho Trinta, o maior de todos, e as mulheres que tornam-se pilares das comemorações de Momo.

Aparecem Pinah, com sua careca reluzente e desafiadora, as modelos Luiza Brunet e Luma de Oliveira. Aluizio Machado profetizou em 1982, através de sua Império Serrano…samba histórico e imortal que é dificil de esquecer…” Super Escolas de Samba, super alegorias, escondendo gente bamba, que covardia…bumbum praticumbum prucurundum…nosso samba minha gente é isso aí…”

Ao assistir a apuração carioca vi nas camisetas envergadas pela gente de Vila Isabel um logotipo central, muito bem colocado, da BASF. O enredo da campeã foi patrocinado pela multinacional alemã e custou 6 milhões para quem não sabe. Ou seja o business tomou conta de tudo, o samba ganhou novos patronos e novos interesses.

Quem não sabia ? Era evidente, estava escancarado. Algum ingênuo ainda acha que representa a festa do povo ? O pobre coitado das comunidades deve ainda colaborar com alguma coisa, com pequenas gotas de seu sangue, mas não passa disso, ele não tem mais espaço, cortaram seu elo com a tradição, como nós todos ele foi engolido.

Há escolas em que o homem da comunidade nem passa perto dos barracões. Ou voce acha que estamos na época de Barracão de Zinco ou de Chão de Estrelas ? Como diz Joãozinho 30 não cobremos pureza da comunidade. Cartola fugiu do morro para Jacarepaguá, pois não aguentava mais ver seu barraco alugado para turista ver. Ponto turístico é demais.

Certa vez Bezerra da Silva desceu o Morro do Juramento e levou um bico nos fundilhos dos traficantes que tomavam uma na birosca da esquina. O romantismo acabou na prática, e só permanece dentro dos corações daqueles que gostam e amam o samba e o Carnaval. Ainda restam Paulinho da Viola e Martinho da Vila que desfilam de peito aberto em cima dos carros mesmo sabendo de toda essa podridão.

Não estão nem aí, o amor pela Escola é maior do que tudo e eles peitam essa gente toda. A verdade é que esses caras nunca vão desistir de suas origens, mas infelizmente um dia vão morrer. Acontece que o samba nunca morre, ai está o “xis” da questão. As Escolas tem de tudo, tem coisa enlatada, tem criatividade tem verdade, tem alma e muita grana…

Resta o prisma pelo qual se enxerga, afinal um dos primeiros cordões que existiram no Carnaval tinha um nome bastante sugestivo e que cabe perfeitamente naquilo que se vê hoje em dia. Para quem não sabe o nome era ” Vai quem quer…” já diz tudo, e em se tratando de samba e Carnaval é assim mesmo seja hoje ou 100 anos atrás.

Bruno Filho, jornalista e radialista, em homenagem ao sobrinho Luiz Felipe grande enciclopédia do samba e mentor deste brilhante comentário.

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