Nonato Guedes

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Não há outro termo: o PMDB paraibano está em parafuso. A legenda pilotada pelo ex-governador José Maranhão não consegue ser um primor de unidade interna. A pré-candidatura de Veneziano Vital, ex-prefeito de Campina Grande, é uma aposta incerta. Para alguns, é um risco na água. Equivale dizer: faltaria consistência ou argamassa para emplacar Veneziano, não obstante ser um quadro de valor, e integrar a categoria dos líderes emergentes, apelo que poderia vir a sensibilizar parcelas do eleitorado exigente. Além disso, tem uma trajetória pontual dentro do PMDB. O fato de não ter conseguido transferir votos para eleger Tatiana Medeiros à sua sucessão é relevado em nome de uma proeza maior: levou-a para o segundo turno, quando a favorita, nas pesquisas iniciais, era Daniella Ribeiro, do PP. Parou aí a força do cabeludo. Tatiana foi triturada no voto por Romero Rodrigues, alter-ego do senador Cássio Cunha Lima.

Nem por isso Veneziano perdeu cacife para o páreo majoritário. Passou a enfrentar resistências, o que estava na lógica do processo, já que o ex-prefeito de Campina não se preocupou em imiscuir-se no comando da legenda, de onde poderia solfejar éditos a serem cumpridos pelos filiados ou militantes. Entrou no circuito o ex-senador Wilson Santiago, que tem pretensão em ser oficializado candidato a posto majoritário. Não necessariamente ao governo, porque, de forma ambígua, cultiva canais com o governador Ricardo Coutinho (PSB), candidato à reeleição. Sente-se desconfortável no PMDB porque lhe faltou o mimo da sua projeção. Bravateou, era o que lhe restava. E foi facilitado na estratégia pelo convite de Edivaldo Rosas para cerrar fileiras nas hostes socialistas. Santiago, convém lembrar, é Defensor do Estado. Depois que ficou sem mandato, teve que se reapresentar à Defensoria Pública. E foi escalado pelo governo Coutinho para missões espinhosas em Brasília, como a de reaver honorários do Estado ou créditos pendentes. Isto lhe franqueou a possibilidade de aprofundar canais na capital federal, e avaliar os rumos a seguir.

Na Paraíba, Maranhão adota postura de avestruz, ignorando o peso de uma virtual dissidência, que se alastraria pela Câmara, através do deputado Manoel Júnior, e pela Assembléia, via Gervásio Filho, ultimamente freqüentador contumaz da Granja Santana, onde é sempre bem recebido. Mas Maranhão está sendo desafiado no seu instinto de sobrevivência política. Tem acumulado derrotas sucessivas em eleições, o que é fator de desestímulo no partido e faz esvair o culto à personalidade refletida por ele. Sem relação causal, mas passível de exploração inevitável, a sua esposa, desembargadora Fátima Bezerra, presidente do Tribunal de Justiça, tem mantido despachos regulares com o governador Ricardo Coutinho a pretexto de encaminhar pendências da sua gestão e obter adesão para metas de interesse público que deseja deflagrar. Maranhão fica acuado, por mais que a desembargadora sempre tivesse separado questão política de atividade judicante. Os ares da província favorecem especulações de toda ordem, a principal delas focada no sentido de uma reaproximação política entre o marido da desembargadora e o governador que a recebeu para audiência.

Para além das divagações, há uma tese na ordem do dia: o futuro do PMDB em 2014. Em 2012, Maranhão foi para o sacrifício como candidato a prefeito de João Pessoa. Não constava que ele tivesse chances, exceto nas primeiras pesquisas veiculadas no Jornal da Paraíba, que o mostravam em posição de polarização com Cícero Lucena. Depois disso, veio o dilúvio. Maranhão chegou ofegante a um quarto lugar no primeiro turno, dispensado, portanto, de confrontar-se em um novo páreo. A responsabilidade recaiu sob os ombros de Cícero Lucena, incumbido de dar combate a Luciano Cartaxo, afinal vitorioso, por uma série de razões. A derrota ou o resultado melancólico não impediu Maranhão de ascender ao comando regional do PMDB.

Mas isto é só. Sua liderança é contestada fortemente dentro das hostes peemedebistas. O partido cansou de vitórias morais traduzidas em derrotas nas urnas. Quer se reencontrar com a plenitude do poder. Maranhão não tem cargos nem caneta a ofertar. O Planalto prestigia gregos e troianos que possam contribuir para o projeto de reeleição de Dilma Rousseff. Cartaxo ainda ensaia seus primeiros passos. Coutinho avança na oferta de ações que minguaram na fase inicial, sujeita a oscilações, inclusive, da receita orçamentária. Há gente no PMDB hasteando “SOS”. Mas não é fácil comover a militância ou lideranças que se julgam donatárias de sufrágios. Falta um rumo adequado. Não houve luz nessa perspectiva. E as defecções se ampliam. O timoneiro, Maranhão, está às voltas com desafios emergentes, cuja natureza ele conhece muito bem. Terá poderes para reverter o quadro? É a incógnita!