Não há revelação maior da estupidez humana do que a atitude de fazer guerra. Esse instinto beligerante da raça humana vem desde o princípio da história das civilizações. É o império da brutalidade que domina os sentimentos dos homens, na lógica da competitividade guerreira. Por tudo se encontra motivos para a luta armada: questões territoriais, fundamentos ideológicos, etnias, diferenças religiosas, ambição de poder e de força econômica, etc.
A imbecilidade dos homens não tem limites quando se decidem entrar em guerra. Não gosto de homenagear os dirigentes políticos que produziram guerras e passaram para a história como heróis. Na verdade o heroísmo está nos que, forçados pelas circunstâncias, se submeteram a vontades políticas e perderam suas vidas em combates ou voltaram feridos. Esses são inocentes úteis, utilizados pela sanha da prepotência e insensibilidade dos que alimentam a cultura bélica para satisfazer interesses que nada têm a ver com o que deseja efetivamente a sociedade. Não consigo celebrar conquistas obtidas à custa de verdadeiras carnificinas.
Abomino o estado de guerra. Não há quem me faça compreender a sua razão de existir. O ser humano nivela-se ao animal irracional quando encontra justificativas para a guerra. É o domínio da insanidade, da vocação para a truculência e a barbárie. A guerra, além de matar pessoas que nada têm a ver com suas causas, deixa cicatrizes irremovíveis no inconsciente coletivo. Os combatentes sequer sabem porque estão colocando em risco suas vidas.
Matar indiscriminadamente em nome de ideais ou interesses políticos, é um crime inominável. Enquanto na humanidade se revelar esse impulso para a deflagração de guerras, estaremos nos afastando cada vez mais da consciência de necessidade da paz entre os homens, numa convivência fraterna e sem disputas alimentadas pelo desejo de uns parecerem superiores a outros. As atrocidades dos eventos bélicos estimulam a violência e , talvez por isso mesmo, vivamos um momento tão assustador no que diz respeito à insegurança social, onde a ação criminosa é banalizada, sem qualquer respeito à vida.
O pacto civilizatório firmado nas Convenções de Genebra, nos anos de 1864, 1906, 1929 e 1949, ratificado por 196 países, tentou impor limites na ação humana durante os conflitos armados. Sua aplicação deveria ser aplicada de forma universal. A perversidade das operações bélicas, porém, continua promovendo a banalização da violência. Como livrar, então, a humanidade da ameaça de guerras? Têm sido mal sucedidos os esforços empreendidos nesse sentido. Os homens continuam alimentados pelas psicoses do ódio e da destruição. O instinto agressivo permanece fomentando esse espírito de beligerância. A maldição da guerra produz permanente sensação de inquietação e de medo.
Em carta endereçada a Albert Einstein, por Sigmund Freud, em 1934, encontramos a seguinte observação: “As guerras somente serão evitadas com certeza, se a humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que ser• conferido o direito de arbitrar todos os conflitos de interesses. Nisto estão envolvidos claramente dois requisitos distintos: criar uma instância suprema e dotá-la do necessário poder. Uma sem a outra seria inútil”.
Lamentavelmente, não é isso que vemos acontecer. A humanidade vive em eternos conflitos bélicos. O instinto da morte prevalecendo.
O fantasma das guerras, grandes ou pequenas, ainda nos ronda. È hora de falarmos em paz e lutarmos por ela. Se todos conhecessem a paz, nenhum ser humano queria guerra.
Rui Leitão
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão