É comum, na política, a prática da antropofagia entre os grupos e líderes.
Antropofagia é um ritual em que humanos comem carne de humanos. E chama-se o antropófago de canibal. Seres da mesma espécie comendo uns aos outros. E há quem encontre grande prazer nisso.
A política tem outros rituais macabros. Por exemplo, o de matar pobres, não necessariamente a pauladas ou machadadas como se fazia no período da pedra lascada, onde, aliás, todos eram pobres e iguais. Mas já havia naquela época os políticos, os mais espertos que conseguiam estocar mais caças e provisões do que os outros, às vezes saqueando a caça alheia e as provisões dos mais honestos. Como parece atual! Quase nada mudou.
Nesta fase mais civilizada da humanidade, os pobres são mortos a fome, porque isso cria dependências e necessidades extremas, submissão, medo e vulnerabilidades. Comparando com o reino selvagem, é como se os leões encontrassem na selva uma manada de cervos famintos: teriam alimentos por muito tempo.
Entre os homens não é diferente. Especialmente nesta civilização dos Brasis interioranos, onde o pobre, além de faminto, é subnutrido culturalmente. É uma presa fácil, cambaleante, para os lobos humanos que garantem a sobrevivência com a miséria de sua própria espécie. Em sentido um tanto quanto figurado (embora pareça muito real), é o que se poderia chamar de antropofagia política, banquete sem facas ou garfos em que a carne humana é apenas simbólica, assim como o vinho simboliza o sangue de Jesus.
Mas há outras feições do canibalismo contemporâneo entre nós. É a morte por asfixia das ditas crias políticas por parte de seu criador. Ou, ao inverso,a morte do criador por parte da criatura. Neste período sanguinológico de nossa história em que pais matam filhos biológicos e vice-versa, não é de assustar essas mortes não carnais. Ou seja, o tipo de canibalismo que milita entre os militantes políticos é palatável e muito menos hediondo.
No cenário da Paraíba, há canibalismo tentado e também consumado nos últimos tempos. Ernani Sátyro matou os Gaudêncio para so breviver. Ivan Bichara matou Joacil de Brito. Burity que não alimentou cobras para morder seus pés, nem teve crias e nem sobreviveu. Wilson Braga criou Lúcia, que no duelo entre criatura e criador, murcharam os dois – ambos foram vencidos e nenhum venceu o outro. Mariz morreu para dar vida a Maranhão e nem precisou ser morto pela própria cria.
Ronaldo criou Cássio a quem transferiu por amor a própria vida política. Mas Cássio canibalizou Cozete e Félix Araújo em Campina Grande, e ainda não conseguiu devorar Rômulo, que escapa porque escorrega demais e pesa muito. Cícero escapou de Humberto Lucena que morreu cedo, não antes de impedir que fosse governador em 94. Humberto queria o lugar de Cícero que estava prontinho para a sucessão de Ronaldo Cunha Lima. Maranhão criou três criaturas: Veneziano, Wilson Santiago e Manoel Júnior. O primeiro, defenestrou logo em 2010. O segundo entregou ao tac ape de Cássio na luta senatorial. E Manoel Júnior, guarda para entregar às feras em 2012. Mata os três, mas corre o risco de não sobreviver.
Ricardo Coutinho e Luciano Agra, criador e criatura, respectivamente, vivem uma situação curiosa. Ricardo fez Luciano prefeito e se fez governador pelas mãos de Cássio. Mas tanto quanto Cássio fez com Cozete e Félix, Ricardo deixou na prefeitura problemas e complicações que não pode transferir ao governo. São problemas bons para devorar qualquer criatura, desde que não seja Ricardo ou Cássio, os criadores. É a liturgia da sobrevivência, que exige que um líder morra para que outro tenha sobrevida. Luciano terá de compreender, solitariamente.
Mas, depois disso, restando vivos Ricardo e Cássio, qual deles canibalizará o outro e quando?
Este artigo integrará o futuro livro: ‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’