Como ousas, Cristiano, sofrer um acidente de moto em pleno domingo à noite e vir morrer por falta de atendimento na porta do Hospital de Trauma de João Pessoa?
Certamente fizeste de propósito, só para causar danos à imagem do nosso excelso governante, só para que pensem que Ricardo Coutinho é intransigente, arrogante e autoritário, que não admite dialogar com quem protesta de algum modo e se recusa a trabalhar satisfeito só porque sofreu corte no salário.
Não compreendes, Cristiano, que as medidas do governo não podem ser contestadas nem criticadas, mesmo que isso custe vidas humanas? O que é uma vida como a tua ou um sacrifício como o teu diante da vontade, da determinação ou da nobre estratégia política de ser tão divinal como o nosso governador?
Vai ver, Cristiano, estavas conluiado com a oposição só para dar à opinião pública a impressão de que o governador está nem aí se os médicos se demitem por falta de salário digno e de condições de trabalho, só para que as pessoas pensem que os médicos têm alguma razão de não trabalhar sob permanente risco de morte de seus pacientes.
Na verdade, Cristiano, dá até pra duvidar se és mesmo o motociclista Cristiano Alves Correia, de 25 anos, que sofreu acidente de moto anteontem à noite em Itambé? Ei, peraí… Itambé não é aquela cidade de Pernambuco geminada com Pedras de Fogo, da Paraíba, reduto do deputado Manoel Júnior?
Hummm… Aí tem! Dá até pra desconfiar que estavas a serviço de Manoel… Não será surpresa alguma se tu fores eleitor desse ímpio que tenta em vão deter a marcha inexorável da Nova Paraíba rumo ao Novo Tempo, com o povo de mãos e braços dados com o escolhido para nos conduzir ao mais glorioso de todos os destinos.
Ah, Cristiano, agora que tu morreste, causando todo esse trauma, toda essa confusão, chamando a atenção do povo para outras mortes que podem decorrer do impasse nas negociações dos médicos com o governo, não me admira um tico se o governador mandar te processar por danos morais e políticos, cobrando indenização pesada a teus familiares.
E nem pensem eles nem seus amigos inventar de fazer protesto em frente ou dentro do Palácio da Redenção, porque terão o mesmo tratamento dispensado ontem aos professores grevistas ou àqueles meninos da Escola Normal que cometeram o atrevimento de pedir a permanência de uma diretora defenestrada pela Nova Ordem. Se vierem com gracinha, feito esses professores impenitentes, vai dar Agra, quer dizer, vai dar águia! Os seguranças de Sua Excelência já sabem o que fazer.
E se não fizerem bem feito, se não fizerem como faziam os bombados da Sedurb com os camelôs no tempo em que o homem era prefeito da Capital, eles é que vão saber o que é bom pra tosse! Vai ter corte de ponto, de produtividade e de merenda, quer dizer, de vale-refeição, para aqueles que são PMs.
E o pior de tudo isso, Cristiano, é que os médicos que você não encontrou no plantão e outros como eles que resistem em colaborar com os elevados propósitos do governador ainda escrevem para colunistas como esse tal de Rubens Nóbrega, dizendo coisas absolutamente reprováveis como essas que vão reproduzidas a seguir.
‘Ódio aos médicos’
Meu Caro Rubens, os acontecimentos dos últimos cinco meses no nosso Estado garantem: a população da Paraíba pode dormir tranquila, pois o ódio instalado não é voltado contra ela: é dirigido tão somente à classe médica.
Por ter permitido a saúde pública chegar ao ponto crítico, o que pode ser considerado atitude de imperícia, imprudência e negligencia – artigo 1º do Código de Ética Médica (que nós temos!), as atuais autoridades de saúde (e seus superiores) demonstram não ter interesse em resolver o grave problema de saúde pública que têm provocado. Eles serão responsabilizados por danos (incluindo morte!) que vierem a acontecer aos pacientes.
A estratégia desses gestores parece ser piorar o quanto puder a imagem do médico, para jogar-nos contra a opinião pública, para que, sensíveis que somos ao caos instalado, cedamos, e com isso essa turma aí de cima considere que nos venceu, que são os maiorais. É isso: querem dobrar os médicos para humilhar-nos. Só depois, com a sensação de importância, de vitoriosos, é que trarão de volta a normalidade aos nossos hospitais.
Acontece que o interesse maior da nossa categoria é unir boa remuneração a, principalmente, condições dignas de trabalho, para todos os profissionais de saúde (pois trabalhamos em equipe) e para o paciente. Não temos culpa por recalques (nem pela sede de vingança) de seu ninguém. É claro que queremos ter um bom salário. Quem não quer ser bem remunerado? Veja se algum desses secretários e assessores trabalharia de graça. Quantas vidas eles já salvaram? E o prefeito? E o governador?
Para finalizar, pergunto: a quem interessa esta política de terra arrasada? Se eles estão destruindo o Estado agora, imagine se eles forem derrotados e tiverem que entregar o poder!
Como se fosse pouco…
Bem que eu pedi a ele para não se meter nessa briga, mas o nosso I Juca Pirama é incorrigível. Vejam só o que ele me mandou ainda na noite de domingo.
***
Prezado Colunista, depois de 16 anos de impunidade, o monstro-genocida sérvio Ratko Mladic foi capturado. Ele foi encontrado dentro do Coletivo RC, onde já circulava livremente há seis anos pelo corredor, prestando consultoria, especialmente nas áreas de saúde e educação.
Para combater a Dengue, por exemplo, recomendou a importação da Iugoslávia do gás (usado na Bósnia) Genohxide®, derivado do Zyclon B, e sua borrifação nos bairros mais pobres da Capital e proximidades de hospitais públicos.
É muito bom: não escapa um só mosquito. O problema é o efeito colateral: atinge pesado pessoas na faixa de até um salário mínimo ou comissionados que trabalham de verdade. Curiosamente, não atinge comissionados recém-contratados.
Vinha sendo aperfeiçoado pelo general Mladic, mas com a sua ausência, e com a resistência mais forte e organizada dos médicos, professores e barnabés, é possível que o Coletivo abandone essas pesquisas. E o seu uso.