Rubens Nóbrega

A Prefeitura de João Pessoa vai contar com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) e da Caixa Econômica Federal para vir a ser de fato e servir como exemplo de cidade sustentável para o Brasil e o resto do mundo.

Esse apoio será possível porque o prefeito Luciano Cartaxo conseguiu fazer da Capital da Paraíba a primeira das quatro cidades-piloto que até 2014 contarão com recursos das duas instituições para aplicar a metodologia da Iniciativa de Fomento às Cidades Emergentes e Sustentáveis (ICES).

A ICES é um programa de largo espectro do Bid voltado para propiciar sustentabilidade ambiental e fiscal, desenvolvimento urbano e governabilidade às chamadas cidades emergentes – ou em franca expansão – da América Latina e Caribe. Objetivos e detalhes sobre o que isso significa na prática, como foi possível alcançar tal primazia junto ao Bid e à Caixa e o que tamanha inserção representa para o futuro da cidade serão revelados na manhã de hoje pelo alcaide em entrevista coletiva no Paço Municipal.

Mas, pelo que pude sondar e entender, o governo municipal pretende num primeiro momento pesquisar e identificar onde e em quê é preciso investir para um crescimento sustentável da cidade. Com o resultado desse levantamento, a Prefeitura terá em mãos uma ferramenta extraordinária para planejar o nosso desenvolvimento urbano no longo prazo.

Bacana a iniciativa do prefeito e muito bem-vinda a ajuda do Bid e da Caixa, que virá concretamente, presumo, na forma de financiamento e de orientação técnica para a implementação do Programa ICES em João Pessoa. Espero, contudo, que esse processo vá além das boas intenções e retórica com que tais projetos são apresentados.

Se me permitem, adianto a minha expectativa de que seja priorizada a execução de projetos com os quais sonha há muito tempo uma parte considerável dos viventes e sobreviventes da Capital, colunista incluído. Nessa linha, sugiro que o primeiro da fila seja recuperar a Lagoa como um parque de verdade, destinado ao lazer, recreação, práticas esportivas e contemplativas de seus usuários.

É perfeitamente factível e realizável se, entre outras providências, eliminarmos o trânsito de veículos automotores pelo anel viário interno, transferindo-o para as vias externas que podem perfeitamente ser alargadas. Que o Parque da Lagoa seja redimensionado, cercado, reflorestado e reajardinado.

Como pode ser

Lá dentro, os espaços deverão ser redesenhados para comportar alamedas demarcadas por árvores e bancos para descanso, leitura, encontros, namoro, bate-papo ou, quem sabe, uma partidinha de xadrez, dama, gamão… Ah, e entre um passeio e outro, mais árvores, grama à vontade e canteiros cheio de flores.

E olha que esses são apenas alguns dos muitos elementos de natureza, cidadania e fraternidade que podem substituir as pistas de asfalto e os estacionamentos de carro que vêm exterminando o verde e ar puro da Lagoa, um patrimônio dos pessoenses que tem tudo para voltar a ser a área pública mais bonita e acolhedora de toda a cidade.

De minha parte, confesso que sonho em viver o suficiente e com saúde para um dia, de preferência um domingo ensolarado, fazer um piquenique com a família no Parque da Lagoa, sabendo que lá encontrarei muitas outras famílias fazendo o mesmo programa. E a quem achar piegas, digo desde agora: “Piegas nada, gente fina! Isso é qualidade de vida”.

Mais providências: tem que fechar a Lagoa aos esgotos do Mercado Central e adjacências, recuperar a integridade do seu espelho d’água e repactuar a exploração de todos os bares e lanchonetes lá existentes, para transformá-los em ambientes limpos, saudáveis, capazes de oferecer serviços e alimentos de qualidade à clientela.

Salvem as calçadas!

O resgate do status de parque da Lagoa vai reoxigenar e reenergizar socialmente todo o Centro da Capital. Não imagino, sinceramente, ação tão consistente e efetiva de sustentabilidade ambiental em nossa cidade. Sem desconhecer, claro, dos complementos dessa intervenção em benefício da mobilidade de pedestres e motoristas na região.

Em relação aos primeiros, atrevo-me a lembrar ao prefeito o respeito ao Estatuto do Pedestre, que é lei em João Pessoa, embora letra morta desde sua promulgação. Estatuto e pedestres estão à espera de um governante que lhes ressuscite a dignidade. O que passa pela recuperação, regularização a uniformização do piso de nossas calçadas.

Não precisa ser com pedrinhas de diamantes, não. Uma intertravada já resolveria. Mas, se quiser avançar, aplique mosaico decorativo, com desenho capaz de dar novo diferencial ou nova marca à cidade. Tipo aquela do calçadão de Copacabana, por exemplo.

Quanto aos motoristas, não há como não atendê-los que seja não com a construção de edifícios garagens no entorno. A Prefeitura poderia ainda fazer receita com esse serviço, oferecendo-o (ou não) em parceria com a iniciativa privada. Já para resolver o problema de circulação de carros em volta da Lagoa, pode-se adicionar uma pista ao anel externo encurtando a calçada de contorno, com previsível transposição para o interior do parque de algumas árvores que serão inevitavelmente removidas.

Resumindo, dá pra fazer isso e muito mais para salvar a Lagoa. É só querer e começar. Afinal, como diria o poeta Peninha, “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”.