O Dia da Visibilidade Travesti e Transexual, comemorado nesse sábado (29/2), não é motivo para celebração no Brasil. De acordo com o Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra Travestis e Transexuais, 94% dessa comunidade afirma já ter sofrido algum tipo de preconceito.
Ser transexual ou travesti em território brasileiro é sobreviver em meio à incerteza de conseguir voltar para casa. O país é considerado o que mais mata transexuais no mundo. Somente em 2020, 175 pessoas trans foram assassinadas em solo brasileiro, segundo o mesmo dossiê.
Na contramão do preconceito e da discriminação, a informação é a maior arma dessa população invisibilizada pelos demais. Na última semana, o tema ganhou maior atenção depois que a atriz e cantora Lina Pereira entrou para o time do reality show Big Brother Brasil.
Transexual, Linn da Quebrada, como também é conhecida, enfrentou resistência de alguns participantes do programa em chamá-la pelo pronome correto. Com um “ela” literalmente tatuado na testa, algumas pessoas ainda ficam em dúvida sobre como tratar uma pessoa que não se identifica com seu gênero de nascimento.
Veja algumas dicas e orientações para não restar mais dúvidas.
Sexo biológico e expressão de gênero
Antes de mais nada, é preciso entender que os órgãos genitais de uma pessoa, no senso comum, são referências para caracterizá-la como menino ou menina. Denominado sexo biológico, possui três variações: feminino, masculino e intersexo. A intersexualidade diz respeito à pessoa que não nasceu com uma única anatomia reprodutiva.
O sexo biológico, no entanto, não quer dizer que a pessoa se identifique com a forma como ela nasceu. “A identidade de gênero é a forma pela qual eu expresso o gênero com o qual eu me identifico”, explica Beth Fernandes, transexual que preside o Fórum de Transexuais de Goiás e do Conselho Municipal da Mulher.
Orientação sexual
O mesmo padrão citado acima também foi determinante, por muitos anos, quanto à orientação sexual das pessoas. Ou seja, se uma pessoa nasceu como homem, automaticamente ela deveria se interessar por mulheres.
A orientação sexual, no entanto, nada tem a ver com a forma que a pessoa nasceu, ela diz respeito ao interesse sexual/romântico por outras pessoas.
Nesse sentido, esse interesse pode ser divido da seguinte forma:
Heteroafetivo/heterossexual: quando manifesta interesse por pessoas do gênero oposto ao seu;
Homoafetivo/homossexual: interesse por pessoas do mesmo gênero;
Bissexual: interesse por ambos os gêneros;
Pansexual: quando não há distinção e pode existir interesse pelos dois gêneros e pessoas não binárias;
Assexual: aqueles que não desenvolvem interesse sexual por nenhum gênero.
Cisgênero
O conceito de cisgênero diz respeito à expressão de gênero de um pessoa – explicado no primeiro tópico acima. Essa denominação é dada àquelas pessoas que se identificam com seu sexo biológico. Ou seja, uma pessoa que nasceu com órgãos e sistema reprodutor feminino e assume a forma de mulher, é uma pessoa cisgênero.
Na contramão desse termo e dessa identificação, existem as pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e não assumem tal forma. Essas pessoas formam os grupos de transgênero.
Transexual e travesti
Para Jovanna Baby, fundadora do Movimento Organizado de Travestis e Transexuais no Brasil, essa distinção entre travestis e transexuais não deve mais ser levada em consideração. “Essa diferença é política e a palavra travesti é marginalizada na sociedade brasileira”, relata.
“Trans são todas as pessoas que transitam entre os gêneros e toda travesti é uma pessoa trans”, esclarece Jovanna.
Nesse caso, pessoas transexuais são aquelas que não se identificam com seu sexo biológico e passam pela mudança de identidade. Os corpos mudam, elas passam a vestir roupas do sexo que se identificam, adotam um nome que combine com essa identificação e iniciam uma forma de deixar no passado aquele corpo que não cabe mais a elas.
É o caso da participante do BBB22, Linn da Quebrada. Apesar de ter nascido com sexo biológico masculino, a atriz não se identifica com tal gênero, mas sim como uma mulher. Uma série de fatores faz uma pessoa ser transexual: o nome que ela adota, o pronome com o qual quer ser tratada, as roupas que usa, a mudança corporal com hormônios, implantação do silicone ou a retirada do seio.
No caso oposto de Linn, temos o ator hollywoodiano Elliot Page. Ele usou as redes sociais para afirmar que não se identificava com seu sexo biológico feminino e estava passando pela mudança corpórea e adotaria, a partir daquele momento, o pronome ele. Elliot ainda afirmou ter realizado uma mastectomia, procedimento cirúrgico que retira os seios.
Ainda vale ressaltar que a identidade de gênero nada tem a ver com a orientação sexual. Ou seja, um homem transgênero pode ser bissexual e sentir atração por homens e mulheres. Ele pode ser heterossexual e demostrar interesse por mulheres ou pode ser ainda pansexual e ter interesse por homens, mulheres e outras pessoas transgênero.
Drag queen
Drag é o nome dado a homens cisgêneros que gostam de se vestir como mulher. “Ser drag queen é uma expressão cultural. É uma performance temporária”, explica Beth Fernandes.
“Ele vai se vestir, colocar seios, cílios e salto alto mas, acabou sua performance, ele vai se descaracterizar e voltar para casa como um homem”, esclarece a especialista.
Ele ou ela?
Para as duas experts e pesquisadoras de identidade de gênero entrevistadas pelo Metrópoles, é preciso ser cauteloso e, de acordo com elas, “mostrar o mínimo de respeito para com a pessoa que você está conversando”. Para isso, elas ressaltam a importância de perguntar como a pessoa quer ser tratada.
“Se não há o mínimo de conhecimento sobre os conceitos do mundo LGBTQIA+, pergunte como a pessoa quer ser tratada. Esse estigma de relacionar a pessoa à genitália é carregado de preconceito e nós somos muito mais do que isso. Merecemos ser tratadas com respeito e educação”, pondera.
O que não falar e cortar de vez do seu vocabulário
Veado: o nome animalesco é usado, muitas vezes, para se direcionar a homens gays e, mais uma vez, é um termo preconceituoso e pejorativo. “Não se deve chamar ninguém assim. Nós não somos animais”, ressalta Jovanna, uma das selecionadas no Edital Caminhos, da Fundação Tide Setubal.
Traveco/Traveca: outro termo que merece o veto é de “traveco”. De acordo com Jovanna, ele foi amplamente usado na década de 1970 para noticiar a morte de pessoas transexuais no Brasil. “Não é legal e conheço casos muito próximos de pessoas que se suicidaram por serem constantemente chamadas desse jeito.”
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Metrópoles