Ricardo e o ano da compra e venda

Gilvan Freire

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Ricardo Coutinho não precisa violentar a sua natureza para ganhar a reeleição. Nada de mudanças de hábito ou de tratamento, no máximo um pouco de artificialidade para parecer menos arrogante e autoritário – mas nem isso será rigorosamente necessário. Aliás, parecer e não ser é a coisa mais fácil de ser de qualquer político.

2013 é o ano mais importante das eleições de 2014, porque durante o ano todo os governos podem tudo, a começar por Dilma, que poderá fazer mais do que fez em anos anteriores e do que fará nos próximos 4 anos do novo mandato, se reeleger-se. A reeleição é uma imundice institucional, um monturo legal rodeado de esgotos por todos os lados.

A presedintA (com o ‘a’ de ausente), poderá encontrar uma fórmula para ser boazinha para o Nordeste em 2013. Uma generosidade qualquer a custa do Tesouro para enganar o povo e encobrir sua indiferença à questão da seca e ao abandono das populações vulneráveis, vitimas desse duplo grande desastre natural: a falta d’água e a falta de líderes políticos confiáveis.

Quem sabe, Dilma pode até chorar por nós tardiamente, como fez no primeiro momento da Boate Kiss, em Santa Maria. Ela se emociona demais com o drama do povo dos Estados ricos, mas não se moveu (nem se comoveu) quando quase 30% da população brasileira precisou dela durante um ano inteiro na região mais pobre do país, agravando suas mazelas históricas.

NA PB, TODOS OS VENDILHÕES SE VENDERÃO

RC nem sequer precisa ter capacidade de arregimentação ou talento para convencer os ‘homens de boa vontade’: só precisa ter dinheiro. Dinheiro público, que é o fruto do suor e sacrifício de muitos, mas é sempre gastado de forma promiscua e nunca republicana por um homem só. E dinheiro público, assim como os santos atraem legiões de fanáticos pecadores, arrasta multidões de salafrários desviados.

O jogo, a partir de agora, será muito duro. E podre. Todos os que se vendem já estão negociando o preço. A tabela está pronta. Até gente que não vale uma pataca, terá oferta. Haverá dinheiro para qualquer mercadoria, mesmo para as mercadorias vencidas e as encalhadas, e as perecíveis.

Curioso é que o governante não tem que justificar nada. Ficará só recebendo apoios e adesões. Parece mesmo que o governador está imune à moralidade e somente os vendilhões cínicos é que terão de encontrar as justificativas. E não faltarão os motivos mais desavergonhados. Uns culparão outros pela sua falta de pudor, e alguns dirão que são capazes de fazer ‘grandes sacrifícios’ como esse só para ajudar aos pobres. Pobres coitados, todos!

Acompanhemos o desfile dos devassos. Nessa hora, a dignidade humana chega a maior expressão monetária e a menor expressão moral. Apontemos o dedo para aqueles que ocupam a passarela da sem-vergonhice e ultrajam a honra do povo, e ainda tentam explicar-se com a cara deslavada. Marquemos-os na nossa memória.

E resistamos com destemor. Talvez esse excesso de indecência seja o começo do fim. O início de uma grande virada. Isso é possível.