Veneziano mostra (algumas) cartas

Rubens Nóbrega

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No início dessa semana, o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, voltou para a Rainha da Borborema, depois de um mês de descanso com sua família na Praia do Poço, em Cabedelo. Desde que publiquei uma análise aqui neste espaço sobre o papel central do “cabeludo” na disputa para o governo do próximo ano, uma conversa ficou de ser agendada. Após conceder uma entrevista ao programa Correio Debate, da 98 FM, fui perguntado por telefone, via Hermano Nepomuceno, ex-Chefe de Gabinete de Vital do Rego, se essa conversa poderia acontecer na noite da última segunda, e, por volta das 20h, fui recebido pelo próprio Hermano, por Carlos Magno, ex-Secretário de Comunicação da PMCG, Daniel Chianca, da Juventude do PMDB, e pelo próprio Veneziano Vital. Em meio aos desarrumos de uma casa em mudança, sentamos os cinco para uma descontraída conversa sobre o presente e o futuro. De Veneziano e da Paraíba.

“Nenhum ataque ficará sem resposta”

A conversa se iniciou depois de uma pergunta que muitos fazem hoje: será que não seria melhor Vital do Rego sair do noticiário, deixando de replicar os ataques dos seus adversários políticos? A resposta a essa pergunta foi um incisivo “não”. “Existe um esforço de desconstrução de minha imagem e dos avanços de nossa administração em Campina. Se eu me escondesse, estaria fazendo o jogo dos meus adversários, que querem que os oito anos de gestão sejam julgados pelos factoides que eles criaram nos últimos dias de dezembro.” Veneziano acha que não será possível apagar da memória dos campinenses o profícuo trabalho administrativo, cujo rosário de realizações ele repete em todas as entrevistas e que lhe rendeu uma aprovação de mais de 70% de sua gestão. “Se fico calado pode parecer que dou razão aos meus detratores. Nenhum ataque ficará sem resposta”. Sobre a derrota na última eleição em Campina Grande, Vital do Rego lembra que, para explica-la, seria necessário entender os contratempos que dificultaram a ampliação do palanque da candidata do PMDB. “Muitos queriam ser candidato, mas apenas um poderia ter o meu apoio. E tinha que ser alguém que defendesse e representasse, sem nenhuma sombra de dúvida, o nosso projeto administrativo.” O ex-prefeito defendeu que, mesmo na derrota, o resultado eleitoral foi expressivo e mostra bem a força de uma administração bem avaliada.

“Lançamos uma candidata que, no início, poucos acreditavam em um bom desempenho. Há menos de um ano da eleição, Tatiana Medeiros, que até então nunca se candidatara a nada, pontuava com menos de 5%. Contra tudo e contra todos, crescemos e fomos ao segundo turno, quando Tatiana obteve mais de 40% dos votos. Eu considero esse resultado uma imensa demonstração de força, que surpreendeu muita gente. Isso explica em parte o esforço de desconstrução de nosso nome ora em andamento.”  Nesse momento, Veneziano não perdeu a oportunidade de alfinetar o governador Ricardo Coutinho. “Ricardo tentou fazer o mesmo em João Pessoa e veja o resultado. A candidata dele ficou em terceiro lugar e dois adversários foram para o segundo turno. Em Campina, ele foi proibido pelos aliados de aparecer por lá para Romero Rodrigues não perder voto.”

Críticas a RC e a seu projeto de governo

Por outro lado, Veneziano reconheceu as dificuldades que causaram a mudança repentina do PT na eleição de Campina, que deixou a aliança com o PMDB para se coligar com o PP, de Daniela Ribeiro. Essa situação, segundo ele, deixou sequelas que precisam ser superadas, e o caminho para isso será pela identidade que PT e PMDB tem hoje no plano nacional. Mas, não é só isso. Ele defende uma maior aproximação no plano programático para repetir aqui na Paraíba o projeto vitorioso que Lula começou e a presidente Dilma Rousseff dá continuidade. “Sinceramente, não vejo como estabelecer uma aproximação entre o programa de governo que PT e PMDB executam nacionalmente, com esse governo que PSB, PSDB e DEM fazem aqui na Paraíba.” E Veneziano cita uma divergência que pode demarcar as diferenças que ele pretende que se estabeleçam entre dois campos distintos em 2014: “Por exemplo, terceirizar a saúde pública? Isso eu jamais faria. Pelo contrário, o que eu fiz em Campina foi construir novos hospitais públicos e,ao invés de incentivar a contratação de terceirizados, fiz concurso público para todos os servidores da saúde de Campina.”Veneziano Vital do Rego ainda criticou o autoritarismo do atual governo quando se trata da UEPB. Ele lembrou as divergências entre o governador e a universidade por conta da Lei da Autonomia e a respeito da nomeação do candidato mais votado pela comunidade universitária. Segundo Veneziano Vital, a UEPB não merece esse tratamento pela importância que ela tem para o desenvolvimento do estado e para a formação dos nossos jovens. “Ricardo sentiu a força da UEPB e recuou do seu desejo de não nomear Rangel Júnior reitor, como ele queria. O que seria um absurdo, que nem a UEPB nem Campina aceitariam”.

No jogo pra ganhar

Como se vê, o ex-prefeito de Campina Grande está com o discurso afiado e a disposição redobrada para enfrentar a disputa de 2014 contra um governador que será candidato à reeleição. Parece que a disposição de Veneziano Vital é deixar a defensiva e partir para uma grande ofensiva política, mesmo tendo que enfrentar as dificuldades do pouco espaço na mídia que deverá sofrer como candidato de oposição. Por enquanto, Veneziano apresenta um esboço de ideias e de discurso que deixarão o governador Ricardo Coutinho bastante desconfortável quando chegar o momento de enfrentar o cabeludo de igual para igual – pelo menos no tempo de TV – quando a campanha começar. Por enquanto, Veneziano deixa a sensação de que está no jogo. E que entra em campo pra ganhar.