Opinião

Sucessão projeta Lula de novo e coloca mandato de Bolsonaro em risco - por Nonato Guedes

O ano eleitoral de 2022 começa projetando, novamente, a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cenário político como candidato favorito a um terceiro mandato no Planalto, ao mesmo tempo em que põe em risco o primeiro mandato de Jair Bolsonaro (PL). A disputa começa com cinco presidenciáveis e quatro correndo por fora para a eleição, mas o quadro tende mesmo a encorpar. Na atual conjuntura, há sinais claros de polarização entre Bolsonaro e Lula, com a liderança deste, e 2021 fechou com o ex-juiz Sergio Moro tentando credenciar-se como nome da terceira via, pelo Podemos. O PT está em estado de graças não só porque recuperou filiados, voltando a fortalecer seus quadros, como por causa da reabilitação de Lula, que chegou a ficar preso por 580 dias na Polícia Federal e foi envolvido em inúmeros processos com acusações de corrupção passiva, que estão sendo demolidas na própria Justiça.

Coordenadora da pós-graduação de ciência política da Universidade Federal de São Carlos (SP), Maria do Socorro Sousa Braga disse ao UOL que ainda é cedo para trazer um quadro mais preciso para a eleição e que tudo vai depender dos movimentos em torno de Lula e Bolsonaro. “São eles que estão atraindo e afastando as forças”, observa. Cientista político e professor do Insper, Carlos Melo concorda que é prematuro fazer previsões. “Me parece cedo. Ainda que me pareça que Lula tenha se consolidado. Bolsonaro está em risco mas até aqui nenhum outro disparou para chegar a ele”. Na caminhada em busca da terceira via, Sergio Moro duela com o ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vencedor das prévias internas para escolha do candidato tucano. Braga e Melo concordam que as definições sobre federações, que devem estar prontas até o começo de abril, terão impacto nas conversas. Correm por fora, ainda sem grande popularidade ou expressividade nas pesquisas, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania), Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB) e o cientista político Luiz Felipe d’Avila (Novo).

Bolsonaro, após, finalmente, escolher um partido para disputar a reeleição – o PL – enfrenta hoje o pico da rejeição de seu governo, com má avaliação da gestão e, também, má avaliação da conduta do governo no enfrentamento à pandemia de covid-19. Com laços estreitos com o PP, de Arthur Lira, presidente da Câmara e do ministro Ciro Nogueira, sua chapa deverá unir bolsonaristas e Centrão. A rejeição do presidente é alta – gira em torno de 60%, mas o mandatário conta com um núcleo duro de apoiadores (cerca de 20%) que pode garanti-lo no segundo turno. Para Maria do Socorro Braga, o apoio do Centrão ajuda a pré-candidatura de Bolsonaro em um momento de baixa. “Mas o presidente precisa ficar atento aos efeitos da crise econômica, principalmente os números do desemprego e da inflação, que podem afetar a sua candidatura e levar a saída desses partidos que hoje o apoiam”. Ela ainda avalia que, se o nome de Bolsonaro for se desidratando para o pleito de outubro, a tendência é que surjam mais nomes de concorrentes, “haja visto que a direita está muito fragmentada”.

Sobre Lula, após ter de retirar a sua candidatura em 2018 por causa de condenação criminal, ele chega a 2022 com um cenário totalmente diferente: suas condenações na Lava Jato foram suspensas e seu nome desponta em primeiro lugar nas pesquisas, com indicação de vitória no primeiro turno no último Datafolha. Com aliança apalavrada com PSB e PCdoB, Lula poderá ganhar o reforço do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, ex-PSDB, para vice. A chapa, até há pouco tempo improvável, tem tomado corpo e já é aceita por muitos quadros do PT. Isso, porém, deve ter outras consequências, como perder o PSOL na aliança, refratário a uma união com o ex-tucano. O próprio PSOL já tem dialogado com a Rede para formar uma federação, o que pode mudar o cenário de apoio a Lula. “Pode impactar na apresentação de uma outra candidatura à esquerda. E isso pode reduzir a votação no ex-presidente”, analisa Maria do Socorro Braga.

Sergio Moro, depois de negar envolvimento com a política em diversas ocasiões, desembarcou dos Estados Unidos para se filiar ao Podemos em novembro e estreou em terceiro lugar nas pesquisas como aguardado nome forte da terceira via, olhado com atenção pelos outros candidatos. A pré-candidatura, porém, ainda não decolou, e ele enfrenta 30% de rejeição, segundo o Datafolha. Ex-juiz da Lava Jato, Moro se afastou do bolsonarismo ao deixar o governo e tem focado no discurso anticorrupção e nos bolsonaristas arrependidos par crescer. Há também a dúvida se, ao longo do primeiro semestre, Moro e Doria, que são próximos, não irão decidir que apenas um irá efetivamente participar da disputa. João Doria saiu fortalecido das prévias que o alçaram a pré-candidato tucano ao derrotar o governador gaúcho Eduardo Leite. A seu favor, tem a máquina do maior Estado do país e a CoronaVac, a primeira vacina contra covid-19 usada no Brasil. Mas Doria ostenta rejeição de 34%, segundo o último Datafolha.

Em relação ao ex-ministro Ciro Gomes, ele tentará, pela quarta vez, chegar ao Palácio do Planalto. Depois de ficar também em terceiro lugar em 2018, atrás de Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), com 12%, tem dedicado os últimos três anos a rodar o país e divulgar seu plano econômico. Em abril, contratou o marqueteiro João Santana, vitorioso com o PT, para tocar sua campanha com cifras milionárias – R$ 250 mil por mês. Crítico de Bolsonaro e de Lula, Ciro Gomes tem focado seus ataques, ultimamente, em Sergio Moro, do Podemos, com quem disputa a terceira colocação nas pesquisas. Há indícios de que Ciro Gomes tem se desgastado ao longo dos anos, diante da sua linguagem agressiva. É certo, pelo menos, que perdeu pontos junto a simpatizantes do ex-presidente Lula da Silva, contra quem abriu as baterias mesmo com o petista na cadeia. Até então, aparentemente, dono cativo da terceira via, Ciro está perdendo espaços para Sergio Moro e, também, para João Doria. Mas a temporada eleitoral começa sob o signo da imprevisibilidade para muitos analistas políticos.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes