A Polícia Civil informou, nesta quarta-feira, que recolheu às armas dos policiais militares que participaram da ação que resultou na morte de lutador no Morro da Jaqueira, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Vítor Reis de Amorim estava no bar com amigos, nesta terça, quando foi alvejado por um tiro. A família do jovem acusa policiais militares de atirarem contra ele. Ele foi socorrido pronto-socorro da cidade, mas não resistiu. O corpo do lutador será enterrado nesta quarta-feira, às 16h, no cemitério São Miguel, em São Gonçalo. As investigações estão a cargo da 73ªDP (Neves).
Ainda segundo a Polícia Civil, os PMs e a família vão prestar depoimento. Os agentes buscam testemunhas que possam ajudar a esclarecer os fatos. A Corregedoria da Polícia Militar também analisa o caso.
O governador do Rio, Cláudio Castro, comentou o caso nesta quarta-feira. “A investigação já está na Polícia Civil. A nossa polícia é a que mais pune aqueles que erram. Se errou, será punido, mas eu nunca condeno antes do devido processo. Eu sou favorável à polícia, mas sempre respeitando que o agente não cometa o excesso. Se errou, será exemplarmente punido, caso contrário, não terá condenação antecipada do policial”.
Entenda
Segundo a família, Vítor Reis tentou fugir para se proteger, quando ouviu os disparos, mas testemunhas disseram que os policiais atiraram contra ele. O pai do jovem, Vanelci Ferreira, afirmou que o tiro atingiu as costas do filho e que ele era um menino trabalhador.
“Meu filho nunca perdeu uma luta, mas perdeu a vida para a polícia. A polícia chegou e atirou. É claro que quem escuta um tiro vai correr. Deram um tiro pelas costas de fuzil e minha esposa ainda foi humilhada pelos policiais, empurram ela. Minha esposa não sabia que ele estava baleado e pediu para ver ele. Nessa hora, os policiais falaram: ‘se a senhora quiser ver filho, faz outro'”, disse Vanelci ao ‘Bom Dia Rio’, da TV Globo.
“Não houve troca de tiros nenhuma. Eles são despreparados, porque um policial preparado não faz o que ele fez, atirar pelas costas. Eles têm que fazer o trabalho deles, mas se eles rendessem meu filho, ele não estaria morto, porque não iam achar nada de errado com meu filho”, acrescentou o pai.
Vítor Reis foi socorrido pelos próprios policiais e levado para o pronto-socorro de São Gonçalo, mas já chegou morto no local. Valneci disse que os policiais ocultaram a informação de que o filho já estava sem vida. “No hospital, eu perguntei aos policiais o que tinha acontecido e eles me engaram. ‘Nós demos um tirinho nele que pegou no ombro’ e era mentira, pegou na barriga”.
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, negou a versão dada pelo pai. “Os policiais informaram que de fato foram atacados e tenho um confronto, segundo relatos da ocorrência. Houve uma fuga dos marginais que atacaram os policiais. Logo após o confronto foi encontrado uma pistola e também o jovem morto”, disse ele ao ‘Bom Dia Rio’.
Segundo Blaz, o boletim médico indicou que o tiro que atingiu Vítor foi no peito e não nas costas, como a família alega. “Houve um embate verbal entre os policiais e a família do jovem, mas algumas informações passadas pelo pai do jovem não são verdadeiras. O tiro disparado, segundo o boletim médico, foi no peito. Não houve transfixação, ou seja, não passou pelas costas. Então, o tiro o atingiu de frente”.
“O relato dos policiais foi feito em sede da Polícia Civil e agora vamos ter uma investigação por parte da DH de São Gonçalo e a Corregedoria da Polícia Militar também já está no caso”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo informou “que o paciente deu entrada ao Pronto-Socorro Central já em óbito, às 16h37, com orifício de entrada na região peitoral à esquerda”.
Segundo nota da PM, uma pistola, munições e um rádio comunicador foram apreendidos no local da ocorrência. Os demais envolvidos fugiram para o interior da comunidade. O porta-voz disse que os policiais não disseram se Vítor estava com esses itens. “Isso não foi apresentado pelos policiais. Na verdade, o que foi dito é que após o ataque e o confronto armado os criminosos fugiram para o interior da comunidade, restando ali ao solo o Vítor e a pistola”.
O porta-voz afirmou ainda que pessoas da família de Vítor Reis tem envolvimento com o crime.
“A gente já sabe que nessa família outros elementos já foram presos. A gente sabe que ali há um contexto de violência envolvida com a realidade daquela localidade, sabemos que muitos jovens ali são envolvidos. Não estou aqui apontando que seja o caso do Vítor, mas, segundo alegação dos policiais, nós tivemos um confronto armado e que ele estava ali”.
Blaz afirmou que a Polícia Militar está constantemente investindo em treinamentos. “A gente tá dando início em mais uma rodada de treinamento de confrontos em baixa luminosidade para que a gente possa ter uma maior acuracidade nesses momentos. A gente sabe que as situações são complexas”, contou o porta-voz, que completou:
“Não dá para se disparar quando há inocentes no caminho. Não dá para se disparar quando há essa possibilidade de erro. Logicamente a gente leva em consideração que esses policiais já são experientes, já sabem lidar com essa realidade, inclusive essa guarnição já está há alguns anos ali no 7º BPM. É uma guarnição exitosa, tem um grande número de prisões em detrimento ao número de lesões. Então, é uma conduta muito positiva para esses policiais. Mas logicamente que nesse caso a gente precisa ter a análise da perícia”.
Homenagem dos amigos
Durante a tarde desta terça-feira, amigos de Vítor se reuniram para pedir justiça e apoiar a família. “Ele era um garoto talentoso, um atleta de ponta da nossa equipe. O sonho dele era ser lutador e eu abracei isso. O sonho dele era o meu”, disse mestre Romildo, professor de Muay Thai na academia PVRT, em São Gonçalo.
“Sempre foi um menino muito quieto, muito calado. Chegava no CT [Centro de Treinamento] e ficava no canto dele”, disse um colega de equipe.
A última luta do ano de Vítor estava marcada para acontecer nesta quinta-feira, em Araruama, na Região dos Lagos.
Fonte: O DIA
Créditos: Polêmica Paraíba