Ferido de morte pelo Plano de Metas do presidente Juscelino Kubistchek que previa desenvolver o país 50 anos em apenas 5, em meados dos anos 1950, o modal ferroviário brasileiro foi literalmente abandonado e esquecido com a priorização do “rodoviarismo” que via na indústria automobilista e no transporte rodoviário um vetor desenvolvimentista imprescindível para deslanchar o inadiável processo de industrialização do país na segunda metade do século passado. Juscelino cresceu os olhos na longa cadeia de produção que a indústria automobilística iria impactar na economia do país. A partir dali o Brasil não mais montaria carros com componentes importados, passaria a fabricar carros. As fábricas de automóveis chegaram agregando pequenas industrias periféricas, desenvolvendo novas tecnologias, gerando emprego e transformação social que nos tornaram hoje no sétimo mercado automotivo do mundo.
A visão futurista de Juscelino ao abraçar incondicionalmente o rodoviarismo, apesar de uma decisão acertada na época, para alavancar o nosso desenvolvimento criou inexplicavelmente uma espécie de cultura antiferroviária na sociedade e dentro dos governos subsequentes a Juscelino, passando pelo governo da revolução até a era do partido dos trabalhadores. Obvio que não era necessário ser especialista para entender que não daria certo concentrar toda a logística de transporte em apenas no modal rodoviário num país com a quinta maior extensão do planeta.
Os números da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) atestam isso: toda a nossa malha ferroviária não chega a 30 mil quilômetros, a mesma há 100 anos, o mesmo quantitativo da malha ferroviária de toda a França que possui uma área semelhante ao estado da Bahia. A hipertrofia do transporte rodoviário chega a movimentar quase 65% das cargas no país enquanto o modal ferroviário não chega a minguados 20% disso.
É um absurdo e totalmente temerário depender do modal rodoviário de cargas num país de dimensões continentais. O Brasil perde competitividade interna e externa no transporte por caminhões devido aos desperdícios nos longos trajetos e aos crescentes custos do transporte encarecendo na ponta o preço final dos produtos. O que o Brasil precisa, na verdade, é de uma matriz de transporte inteligente. Os dois modais de transportes não concorrem entre si. Eles se complementam, o rodoviário atua em trechos iniciais e finais e em curtas e medias distancias e o ferroviário em longas distâncias.
Finalmente o Congresso Nacional com a aprovação do novo marco legal das ferrovias coloca literalmente o Brasil de volta aos trilhos com uma nova regulação introduzindo a inovadora e revolucionaria modalidade de autorização que simplifica e desburocratiza a construção de ferrovias e a realização de investimentos.
Já são 19 pedidos de autorizações contratadas prevendo a construção imediata de novos 5.600 Km de ferrovias com investimentos iniciais na ordem de mais de R$ 80 bilhões perseguindo uma ambiciosa meta para até 2035, sair de 20% para 45% de toda carga movimentada no Brasil, transportada sobre trilhos, isso com uma redução no custo do frete em 40%. É uma revolução ferroviária à vista.
Fonte: Alexandre Costa
Créditos: Polêmica Paraíba