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Brasil vive cenário de gripe previsto para 2022, diz médica

Vacina aplicada neste ano não protege contra a cepa Darwin do vírus H3N2 em circulação, e gravidade é similar à das gripes de anos anteriores, diz especialista. Antecipação do surto pegou população desprotegida. Algumas regiões do Brasil estão enfrentando um surto de influenza, a gripe comum, provocado por uma nova cepa do vírus H3N2. O epicentro é a Região Metropolitana do Rio, onde foi declarado estado de epidemia, mas o número de novos casos também está crescendo em outros locais, como nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.

Vacina aplicada neste ano não protege contra a cepa Darwin do vírus H3N2 em circulação, e gravidade é similar à das gripes de anos anteriores, diz especialista. Antecipação do surto pegou população desprotegida. Algumas regiões do Brasil estão enfrentando um surto de influenza, a gripe comum, provocado por uma nova cepa do vírus H3N2. O epicentro é a Região Metropolitana do Rio, onde foi declarado estado de epidemia, mas o número de novos casos também está crescendo em outros locais, como nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.

Na última terça-feira, o secretário municipal de saúde de São Paulo, Edson Aparecido, reconheceu que havia um “surto” de gripe na cidade. A monitoração precisa dos novos casos, porém, está prejudicada por conta da instabilidade em sistemas federais de registro.

A nova cepa foi batizada de Darwin, nome da cidade da Austrália onde foi identificada pela primeira vez, neste ano. Ela será considerada na formulação da vacina contra gripe de 2022, que deve começar a ser distribuída no Brasil em fevereiro ou março.

A médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma à DW Brasil que o ciclo da gripe começou de forma muito antecipada neste ano e que o país vive, na prática, o cenário “previsto para o nosso outono-inverno de 2022”.

Ballalai explica que a vacina contra a gripe aplicada no primeiro semestre não protege contra essa cepa, e que os sintomas da influenza provocada pelo atual surto não são mais graves do que as gripes de anos anteriores, mas demandam cuidado.

“Não estamos vendo maior gravidade, mas aquilo que se espera de um surto de influenza, com a gravidade esperada. Emergências lotadas, não por gravidade, mas em busca de atendimento, internações e alguns óbitos esperados pela doença.”

Para evitar contaminação, as medidas são semelhantes às adotadas contra a covid-19: uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento.

DW Brasil: Por que o surto de gripe está acontecendo no verão neste ano?

Isabella Ballalai: É uma pergunta que não quer calar. Não temos evidências científicas para afirmar exatamente por que isso está acontecendo, mas há algumas suspeitas e considerações. Primeiro, o vírus influenza circula o ano inteiro no Brasil, não somente nos meses da sazonalidade. Na maior parte do país isso acontece nos meses do outono e inverno. Mas no Norte do Brasil a sazonalidade é antecipada, em dezembro e janeiro é quando começa por lá.

É a primeira vez que a gente assiste a uma antecipação tão grande. Já aconteceu em 2016, quando o surto de influenza no Brasil começou em janeiro e fevereiro. Foi um ano de muita circulação do vírus e de muito caos, pois a antecipação pegou todo mundo despreparado, já que a vacina no Brasil chega em fevereiro e março.

Outro fator é o uso da máscara, que diminui bastante a transmissão da influenza. Então temos uma população que não estava exposta ao vírus, mesmo que ele estivesse circulando entre nós. As pessoas estavam trancadas em casa ou saindo pouco, e usando máscaras e os cuidados de higienização de mãos e etc. Essas barreiras aumentam o número de suscetíveis, que são as pessoas que não tiveram contato ou que tiveram pouco contato com o vírus.

E neste ano tivemos uma das piores coberturas vacinais para influenza no Brasil. Estava todo mundo em plena campanha da covid-19, muito mais preocupado em se vacinar contra a covid-19 do que contra influenza. É provável que o somatório disso tudo tenha levado a essa antecipação. A cepa prevalente que está circulando entre nós é a H3N2 Darwin, que foi anunciada pela Organização Mundial de Saúde como uma das que fará parte da vacina para 2022. Então estamos vivendo hoje o cenário previsto para o nosso outono-inverno de 2022.

Os sintomas da H3N2 são os mesmos de uma gripe comum?

Está todo mundo entendendo que é uma gripe mais forte, mais grave, mas não é. Tem a influenza de cada ano, o que é diferente é que essa chegou antecipadamente. Mas assusta todo mundo, após o pior momento da covid, e encontrou uma população sem vacina. Então faz esse número grande de casos como foi em 2016. Mas o H3N2, o H1N1 e mesmo os influenza do tipo B têm a mesma gravidade.

Normalmente as pessoas entendem que o H1N1 é mais grave, porque foi o causador da pandemia de 2009 e agora a tendência é achar que o H3N2 é mais grave, mas não. Não estamos vendo maior gravidade, mas aquilo que se espera de um surto de influenza, com a gravidade esperada. Emergências lotadas, não por gravidade, mas em busca de atendimento, internações e alguns óbitos esperados pela doença.

Quem é mais vulnerável ao H3N2?

Para a influenza, independente da cepa, o idoso é o mais vulnerável, além dos pacientes com doenças crônicas, semelhante ao grupo de risco da covid-19, e as crianças menores de seis anos. As crianças menores de seis anos são as que mais transmitem e por mais tempo. Elas tiveram um aumento de mais de 50% nas internações, mas morrem menos do que os outros grupos de risco.

A vacina aplicada neste ano contra a gripe ajuda de alguma forma no combate à cepa Darwin do H3N2?

As evidências, ainda não publicadas, são que no Brasil a proteção cruzada, que seria a proteção contra a cepa Darwin com uma vacina que não contenha a Darwin, é muito baixa. Além disso, depois de seis meses a vacina da influenza basicamente não protege mais. Então quem foi vacinado em abril já perdeu essa proteção, e a proteção cruzada tem sido baixa. Não dá para a gente pensar em se vacinar com a vacina deste ano com o objetivo de diminuir esse surto, não é uma estratégia muito efetiva. É claro que outros influenza estão circulando, mas não são eles os causadores do surto.

Para quem ainda não tomou a vacina contra a gripe neste ano, vale a pena tomar agora ou esperar a vacina do ano que vem?

Tomar a vacina agora significa se proteger contra outras cepas que estão circulando, mas que não temos um número grande de casos. Vacinar agora, para proteger desse surto, não é uma medida efetiva. E é importante dizer que quem se vacinar agora precisa se vacinar também o ano que vem. É um grande risco as pessoas entenderem que já estão vacinadas. Não é verdade, a vacina é diferente e provavelmente essa cepa da H3N2 vai continuar sendo a mais circulante entre nós. E só a vacina do ano que vem, que deve chegar em fevereiro ou março, é que vai proteger adequadamente dela.

Quem tomou a vacina contra covid-19 e decidir tomar agora a contra a gripe, tem que esperar?

Não. Hoje já temos dados e não se recomenda mais os 14 dias de intervalo entre uma vacina, seja de influenza ou de qualquer outra, e a vacina contra covid-19.

O que as pessoas precisam fazer para evitar pegar a H3N2?

Usar máscara. É a melhor barreira contra esse surto da influenza, já que a gente já precisa usar as máscaras para covid-19. Esse cuidado é fundamental. A influenza é bastante transmissível, talvez até mais do que a própria covid-19, e é uma doença potencialmente grave também.

É importante lembrar que precisamos também alavancar o número de pessoas com a segunda e a terceira doses da vacina contra a covid-19. No Brasil, a maioria dos casos de hospitalização por Síndrome Respiratória Aguda Grave é causada pela covid-19, e não pela influenza.

Fonte: Terra
Créditos: Polêmica Paraíba