Quase se danem as denúncias

Paulo Santos

É possível acreditar em denúncias formuladas por políticos? Seria fácil dar-lhes razão, credibilidade quando fizessem acusações. Mesmo sem provas talvez fosse razoável acreditar que estariam dizendo a verdade quando apontassem o dedo contra alguém e o couro comesse nas costas de quem estivesse errado.

Infelizmente não é assim que as coisas funcionam. Denúncias formuladas pelos políticos, com raras exceções, devem cair na vala comum do oportunismo. Como acreditar nas acusações que fazem se eles não se preocupam sequer em averiguar denúncias que envolvam quem pode chefiá-los? O cadáver ainda está quente.

Há pelo menos um mês os espaços da chamada “grande imprensa” têm sido tomados por denúncias envolvendo os favoritos para presidir a Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e o Senado, Renan Calheiros. Ambos não são “marinheiros de primeira viagem” nas águas turvas da corrupção.

Um – Alves – renunciou à candidatura de vice na chapa de José Serra por envolvimento em escândalos denunciados por sua ex-mulher. O outro – Calheiros – caiu da presidência do Senado após denúncias de envolvimento com construtoras que sustentavam, com todas as pompas, uma jornalista que se tornara amante dele.

Sabem o que querem esses senhores? Simplesmente se tornarem, se eleitos para os cargos que postulam, não apenas presidir a Câmara e o Senado, mas se tornam os terceiros e quarto nomes na hierarquia constitucional para assumir a Presidência da República no caso de impedimento de Dilma Rousseff e Michel Temer.

Quem tem juízo não pode sequer confiar em vender um carro usado a esses dois senhores porque ninguém saberá ao certo a origem do dinheiro com que pagarão a compra, mas os nossos doutos representantes no Congresso Nacional – 12 deputados federais e três senadores – fecham acordos com eles de olhos fechados.

A última piada dessa pantomima no Congresso é da lavra do deputado-major Fábio (DEM) que, em nota à imprensa, diz que Henrique Alves se comprometeu com ele a dar andamento na tramitação da PEC 300 (aquela que beneficia os policiais militares de todo o país e que causa alergia em todos os governadores).

O deputado-major Fábio pode acreditar em Papai Noel, em Saci Pererê e até no candidato a presidente da Câmara, mas deveria deixar o eleitorado fora disso. Ele e qualquer outro tem seus compromissos, mas necessariamente não são compromissos que digam respeito ao povo, ao pobre e sofrido contribuinte, que sua para pagar as mordomias de Brasília.

Só quem tem compromisso com Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros são os deputados federais, os senadores e parte dos eleitores do Rio Grande do Norte e de Alagoas. O pacto de lama que firmaram com esses dois cidadãos enoja quem não quer chafurdar com porcos.
***
INFERNO ASTRAL
O ex-senador Wilson Santiago e seus familiares precisam urgentemente de um banho de sal grosso e muitas orações. Como se não bastassem as confusões internas no PMDB, nas últimas horas o deputado federal Wilson Filho diz ter sido vítima de uma “anomalia” que ocorreu no servidor de internet da Câmara e recebe queixas de que suas mensagens estão se multiplicando nas caixas de e-mail dos destinatários.
***
INCOMPREENSÍVEL
A propósito do ex-senador Wilson Santiago: ninguém compreendeu a tuitada que deu, nesta quinta-feira (24) exaltando todos os méritos e mais alguma coisa de Henrique Eduardo Alves para a presidência da Câmara. Tudo indica que os interesses pessoais, na eleição desse senhor do Rio Grande do Norte, estão muito além dos interesses da população brasileira. O “toma lá, dá cá” continua com força total na política brasileira.
***
TORRES NO ALTIPLANO
Um mega empresário pessoense – que também tem um mandato eletivo – obteve aval da Prefeitura da Capital para seus projetos imobiliários no Altiplano do Cabo Branco. É ali onde vão brotar, nos próximos anos, nada menos do que 11 prédios – ou melhor, torres – de 30 andares cada. É investimento de, no mínimo, meio bilhão de reais.