Uma das dimensões da desigualdade brasileira, a diferença entre a inflação para as famílias mais pobres e mais ricas da população deve diminuir no ano que vem, segundo previsão feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No agregado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve desacelerar em relação a 2021, mas ao desmembrar o indicador por faixa de renda, a economista do Instituto, Maria Andreia Lameiras, destaca que a inflação de ricos e pobres deve convergir, ainda que de forma lenta. O movimento deve ocorrer à medida que a cesta das rendas mais baixas sofrer um alívio em alguns itens (como alimentos), enquanto os preços de serviços e bens industriais, mais relevantes para as classes de maior poder aquisitivo, devem experimentar altas.
O Ipea divulgou seu indicador de inflação por faixa de renda: em outubro, pelo sétimo mês consecutivo, a inflação foi mais acentuada para as famílias de renda muito baixa, inferior a R$ 1.808,79 para todo o domicílio. Segundo o Ipea, naquele mês, a inflação sobre os mais pobres do país foi de 1,35%, índice 0,15 ponto percentual (p.p.) acima do registrado para as famílias de renda muito alta (1,20%). Essa disparidade vem se acumulando e se reflete no agregado dos meses.
No ano, informa o Ipea, a maior pressão inflacionária ocorre nas faixas de renda média-baixa e muito baixa, com altas de 8,59% e 8,57%, respectivamente. Nos últimos 12 meses, para as famílias de renda muito baixa, a inflação acumulada chega a 11,4%, mantendo-se bem acima (2,1 p.p.) da apurada na classe de renda mais alta (9,3%). No estrato de renda mais alta, segundo o Ipea, estão os domicílios com renda superior a R$ 17.764,49.
Segundo Lameiras, os técnicos do Ipea projetavam que a inflação de ricos e pobres já convergiria neste fim de ano, o que não aconteceu. Isso porque a desaceleração dos preços de alimentos, principal item da cesta dos mais pobres, não se confirmou.
Aliado a esse movimento, diz ela, não houve desaceleração dos preços da energia elétrica, que, segundo o governo federal, devem permanecer majorados até abril, pressionando a inflação. Corre por fora o preço do botijão de gás, que sobe influenciado pela alta dos preços internacionais do petróleo. “Tudo isso faz com que a inflação aos mais pobres continue pressionada”, afirma Lameiras.
Carne
Sobre a carne, cujos preços caíram 0,04% em outubro, Lameiras afirma que isso se deve ao encolhimento da demanda chinesa em função de problemas de certificação de alguns frigoríficos brasileiros. Isso reorientou a produção para o mercado doméstico, aumentando uma oferta que deve se normalizar no curto prazo, com manutenção de preços em patamares altos.
A saída mais consistente para o preço do item, diz, seria a normalização do abate, que esteve em níveis baixos este ano, e barateamento da ração do rebanho bovino, que também aumentou. Ambos os fatores pressionaram os preços da carne bovina, o que foi rebatido para outras fontes de proteína animal, que se tornaram opções e foram mais demandadas, vendo seus preços também subirem.
Gasolina
Quanto ao outro vilão do consumidor, desta vez mais importante para as rendas média, média-alta e alta, a gasolina tende a se manter em patamares de preço alto, mas com pouca variação, o que não deve pressionar a inflação no ano que vem.
“Será o que estamos vendo hoje ou com pequenas acelerações na margem. Mas é claro que isso depende do mercado internacional e do câmbio, para o qual projetamos estabilidade, se mantendo bem próximo dos patamares atuais”, diz Lameiras sobre os preços do combustível. O mesmo, diz, valeria para o gás de botijão que, importante na cesta dos mais pobres, não pressionaria a inflação para este grupo social.
Fonte: VALOR ECONÔMICO
Créditos: POLÊMICA PARAÍBA