Cássio X Vené: A disputa começa antes

Gilvan Freire

Quatro gladiadores centrais estão treinando há algum tempo para o confronto de titãs que a arena política da Paraíba prepara para o grande público interno em 2014. O povo precisa de lutas, porque os próprios gladiadores educaram a população para os confrontos entre eles, como acontecia nos tempos antigos do Império Romano, onde os mais fortes teriam de usar as suas habilidades e forças para angariar prestígio e fama, a fim de sobreviverem.

As lutas aqui não são como as dos romanos, em que prisioneiros ou súditos grandalhões teriam de enfrentar-se a custa de comida, a busca da liberdade, ou a preço da própria morte.

Entre nós, os gladiadores são reis ou príncipes, e súditos mesmo são o povo, que precisa de batalha entre os membros das realezas provinciais para que se escolha o soberano de ocasião. Nada de luta mortal: no máximo, algumas feridas mais profundas que transfixam o corpo e fazem sangrar a alma, de preferência que não cicatrizem rápido. Isso pode.

NO TERRITÓRIO ESTADUAL, Cássio e Maranhão já se enfrentaram ferozmente, ambos saíram machucados mas cada um levou um pedaço do poder como recompensa e troféu pelos ódios destilados – uma arma não letal que não aleija o corpo mas deforma o espírito dos mortais. Tudo passa, como já disse um sábio, a ponto de, como acontece com duas linhas paralelas, ambas podem se encontrar no infinito próximo. Em política, o infinito nunca fica distante.

Cássio e Ricardo Coutinho são gladiadores que lutam um defendendo o outro, até onde um não possa destronar o outro, ou enquanto outro gladiador não possa ameaçar os dois. Por enquanto olham para Sansão, um lutador desafiante e novo cuja força ameaçadora parece concentrar-se em seus cabelos e caracóis. Cássio já viu de perto sua fúria, avassaladora como um tufão enfurecido.

Fica em Campina Grande o epicentro da batalha que pode abalar a arena política da Paraíba. Como descobrira Dalila na lenda de Sansão, é preciso tirar o escalpe de Veneziano para que seus cabelos e tranças não virem magia, capazes de mexer com a crendice popular, depois que o povo perdeu a crença em santo de barro (que nada sente, não faz milagre e nem chora).

ROMERO E RONALDINHO SÃO OS BARBEIROS DE CÁSSIO encarregados de desmistificar o cabeludo e espantar o fantasma de Sansão, que se libertou de sua Roma e vagueia agora pelo Estado. Parte dos caracóis está sendo cortada à muque, enquanto o gladiador esperneia e se solta. E se a força dele não estiver concentrada apenas em seus cabelos?

Ricardo Coutinho não deverá ter medo apenas do que está na cabeça de Sansão. Cabelos à parte, deve temer mais a sua própria cabeça, que é uma arma poderosa apontada contra a sua própria sorte. Já Cássio, precisa livrar-se do lobisomem dos caracóis, sem precisar cortar-lhe os cabelos, pois os barbeiros podem errar no excesso de pressa e na demasia do corte. O próprio Cássio sabe, por conta própria, que os cabelos ajudam, mas só a cabeça pensa. Suas franjas já foram tesouradas sem sucesso: quanto mais a cortavam, mais sua força crescia.

De qualquer maneira, a luta entre Vené e Cássio recomeçou, muito antes do que se previa, no mesmo lugar de sempre: o território natural dos dois. Maranhão e RC passam a ser gladiadores coadjuvantes. Quem mandou não terem nascido em Campina?