Ricardo e Estela reagem

Flávio Lúcio

A Secretária de Comunicação, Estela Bezerra, postou ontem em seu perfil no Facebook uma espécie de desabafo sobre a celeuma gerada na Paraíba depois da matéria publicada no último final de semana sobre a primeira-dama e os gastos da Residência Oficial do Governador. Estela Bezerra censura aqueles que, incapazes de encontrar motivos para criticar a vida pública de RC, atacam sua vida privada. Bezerra só esqueceu que, no caso de Pâmela Bório, não se trata de invasão de privacidade, mas de “evasão”, na medida em que a primeira-dama faz questão de publicizar não apenas opiniões, mas detalhes de sua vida íntima. Mas, deixemos de lado Bório e voltemos para Estela Bezerra e sua nota. Após conclamar os críticos a “Deixarem o Mago trabalhar!”, Bezerra lembra que não será com “dinheiro” e “mentiras” que será apagada a história de RC, que sempre fez da política “um lugar honrado.”

Entre outras coisas, a postagem de Estela Bezerra mostra bem a personalidade que cativou Ricardo Coutinho, ao ponto deste preterir o ex-prefeito Luciano Agra para torná-la a candidata do PSB à Prefeitura de João Pessoa. Além das “lisonjas” descritas acima, Bezerra recheia seu texto de termos relativos ao governador como “austero”,“respeitoso com o dinheiro do povo”,“corajoso” e“trabalhador”, que podem nos dar uma ideia do tipo de assessor que RC aprecia. Toda essa glorificação pública do chefe me fez lembrar de uma expressão que caiu em desuso, mas que pode muito bem servir para designar o que fazem os seguidores do governador: culto à personalidade. Coutinho é o líder infalível, incapaz de, mesmo diante das evidências, cometer erros, nem sequer escorregões. Desejam que o governador seja visto não como um homem em meio à política, mas um mito.

Para finalizar, Estela Bezerra conclama os críticos a ouvir os dois lados, indicando a leitura de uma Nota de Repúdio emitida pelo Governador. Como o espaço é limitado, tentarei fazer um resumo e, sempre que achar necessário, citar ipsiliteris o a nota de repúdio de RC.

Reações à mudança

Na nota, RC rechaçou “com veemência” a matéria publicada na Revista Isto É sobre os gastos do seu governo com a residência oficial onde vive com Pâmela Bório e seu filho de pouco mais de um ano. Segundo Coutinho, o conteúdo da referida reportagem feriu a sua honra e a de sua esposa, tencionando com isso “comprometer a seriedade com que conduzo meu mandato”. E o governador dá seguimento ao contra-ataque, afirmando que as informações que a revista deu destaque tem por objetivo “compor uma tese fantasiosa de desrespeito ao erário público e às normas da boa administração”, ao invés de ressaltar o que, segundo ele, seria o mais relevante, e que foi ignorado pela revista: a economia de gastos “da ordem de 12,9%no exercício de 2011” com a Granja Santana.

E seguem as explicações, que destacamos abaixo:

• “Os alegados gastos com o fornecimento de insumos alimentícios – citados na matéria – dizem respeito ao consumo de todo o ano de 2011.”

• “A residência oficial são servidas diariamente 120 refeições, atendendo não apenas ao governador e seus familiares (…) mas também a todos os servidores lotados na Granja Santana.”

• “Não foram realizadas festas em 2011 e 2012”

• “A referida compra de suprimentos de cama, mesa e banho deu-se nos parâmetros estabelecidos pela lei, para atender os moradores e as demais rotinas da residência oficial.”

• “O governo da Paraíba recorre à dispensa de licitação e/ou inexigibilidade em situações especiais, se necessário, e sempre de acordo com o que estabelece a legislação em vigor. As compras são feitas pela casa Civil do governo, atendendo às prerrogativas e aos preceitos legais.”

Esboçadas as explicações, o governador então situa a razão para as denúncias, que, repita-se sempre, estão em um relatório de auditoria do Tribunal de Contas: as mudanças que o seu governo implementa, que a “população da Paraíba acompanha e debate”. Mudanças, ressalte-se, não apenas na gestão administrativa, mas também na“cultura política”. E isso, segundo RC, tem incomodado tanto que, para enfraquecê-lo no seu propósito, manipula-se informação, o que é apenas uma maneira de defender“interesses dos que estão incomodados com a quebra de privilégios.”

Mudança? Qual mudança?

A resposta de RC e do seu governo dá apenas seguimento a uma prática que se tornou rotineira na política brasileira: a de se atribuir denúncias a adversários, em teorias da conspiração elaboradas para substituir a necessidade de explicações. A primeira questão a ser abordada nesse caso é que todo esse imbróglio começou depois da divulgação do relatório de uma auditória do TCE nas contas da Granja Santana. As críticas – é possível ainda fazê-las? – são direcionadas a determinadas compras que parecem misturar o público com o privado, um discurso tão caro à trajetória do governador, e que, provavelmente por isso, deve ser tão incômodo.

Quanto à intenção dos críticos – a Isto É deve ter mesmo muitos interesses contrariados na Paraíba – de evitar que as tais “mudanças” continuem, talvez seja hora de um debate aberto sobre a amplitude e a profundidade delas, começando pela discussão se elas existem mesmo, ou se são apenas discursos. Eu gostaria muito que elas fossem explicitadas para os paraibanos, especialmente aquelas que estão relacionadas à nossa “cultura política”Eis uma bela discussão que é urgente na Paraíba.

Em tempo: a coluna mantém-se aberta para uma avaliação do governo elaborada pelo próprio RC e já sugerida a um assessor muito próximo ao governador. Talvez, quem sabe, ela sirva de parâmetro da iniciar o debate sobre as mudanças na Paraíba.