A primeira-dama desassisada

Gilvan Freire

Vocábulo cujo uso na língua portuguesa vem do século XIII, ‘desassisado’ é palavra usual entre os mais velhos e, especialmente, os habitantes da zona rural. Designada para identificar pessoas de pouco ou sem juízo, serve também para apontar os extravagantes, gente desatinada que não tem senso de proporção ou autocrítica, descomedida ou ‘desmiolada’, como dizem os matutos em sua proverbial sabedoria.

O dicionário Houaiss afirma que, ademais, ‘desassisado’ quer dizer: doido, desvairado; antônimo de assisado, prudente. Na linguagem corriqueira, trivial, é comum se dizer dos impensados e não loucos diagnosticados: – ‘fulano é meio desassisado, miolo de pote, cabeça de bagre, juízo de galinha’. Quando não ‘acelerado’ ou ‘desparafusado’, ambos da língua popular, não menos sábia que o vernáculo castiço.

É no meio dessa parafernália de sentidos vocabulares apropriados ou aproximados que devemos encontrar um padrão léxico para definir Pâmela Bório, a primeira-dama do Estado, a quem já se comparou a Evita e Isabelita, duas mulheres que enfeitiçaram o coração do velho caudilho Juan Domingo Perón na Argentina do século passado, misturando amor ao Erário e paixão pelo poder. Ambas vinham do mundo artístico: teatro, cinema, música, moda, fama.

A PARAÍBA ENTROU NA ROTA DA RIDICULARIA

A revista ISTO É trouxe esta semana duas páginas inteiras consagradas à imagem negativa dessa Paraíba seca de água e juízo dos homens públicos, inaugurando na grande imprensa o que será doravante uma passarela de vexames e escárnio das extravagâncias a que se permitem o governador e a Granja Santana, um lugar de sultões que custa fábulas ao Tesouro e é entregue aos cuidados de uma corte de centena de serviçais (pessoas dignas, assalariadas da folha pública, que não guardam mais segredos das permissividades do poder luxuriante que testemunham).

A matéria da ISTO É, que traz as fotos de Pâmela e Ricardo, o casal mais complexo e esquisito que a Paraíba já teve no governo desde a sua fundação, não surpreendeu a parte mais bem informada da população do Estado, especialmente dos grandes centros urbanos, que vem comentando à boca miúda as excentricidades das duas figuras exóticas.

Vejamos os três principais tópicos da reportagem: ‘A EX-MODELO PÂMELA BÓRIO E O GOVERNADOR DA PARAÍBA RICARDO COUTINHO, CULTIVAM UM ESTILO DE VIDA EXTRAVAGANTE. MAS QUEM PAGA A CONTA É O CONTRIBUINTE’. E mais: ‘ESCANDÂLO – Auditoria do Tribunal de Contas do Estado na residência oficial revela o pagamento de despesas pessoais e gastos absurdos’. Ainda mais: ‘CASAL ROMÂNTICO – Pâmela promove festanças, expõe no Instagram coleção de lingerie e diz que o “maridão”, Coutinho, é quem “curte” as novidades.’ Não precisa comentar.