“A classe LGBTQIA+ enfrenta em nosso País muitos ataques, críticas e preconceito. No Brasil e no mundo não há mais espaço para ‘brincadeira’ com crime. Homofobia mata. Não dá mais para tolerar”, disse ao vivo, em tom de desabafo, o âncora Daniel Adjuto no ‘Live CNN’ de quinta-feira (30).
O jornalista reagiu em solidariedade ao senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que foi convidado a ocupar a cadeira da presidência da CPI da Covid para confrontar o depoente Otávio Fakhoury.
Bolsonarista e assumidamente negacionista, o empresário fez uma postagem de cunho homofóbico contra o parlamentar, homossexual declarado, que faz oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Ao se desculpar, ele provocou indignação ao alegar ter sido “uma brincadeira”.
O posicionamento de Daniel Adjuto aconteceu dias depois de ele assumir em rede social o namoro com o médico Rafael Pinto Rocha. Até então, o âncora nunca havia comentado em público a respeito de sua orientação sexual. Tal ‘mistério’ alimentava a imaginação dos fãs do jornalista com pinta de modelo.
Para que o apresentador da CNN Brasil tivesse essa atitude corajosa em 2021, precursores precisaram abrir caminho ao longo de décadas. Homens famosos deram a cara a tapa ao falar abertamente que eram gays em tempos bem mais intolerantes. Entre eles, Cazuza, Ney Matogrosso, Marco Nanini e Aguinaldo Silva.
Recentemente, vários atores venceram o temor de prejuízo à carreira e também ‘saíram do armário’: Leonardo Vieira, Rodrigo Sant’anna, Luiz Fernando Guimarães, Nico Puig, Carmo Dalla Vecchia, Igor Cosso, João Côrtes, Jesuíta Barbosa, entre outros.
No telejornalismo, o tabu continua forte. Há muitos âncoras e repórteres gays ainda falsamente protegidos atrás da imagem de heterossexual. Importante ressaltar: ninguém deve ser obrigado a comentar sua sexualidade. Os sigilosos merecem respeito.
Em junho, o âncora Marcelo Cosme, do ‘GloboNews em Pauta’, se declarou gay diante das câmeras. Dois meses depois, deu outro passo: anunciou noivado com o médico Frankel Brandão. Sua atitude gerou elogios na mídia e nas redes sociais.
Quem também gerou manchetes foi Matheus Ribeiro. Em 2019, ele se tornou o primeiro jornalista abertamente homossexual a ocupar a bancada do ‘Jornal Nacional’, telejornal de maior audiência e prestígio do País. Atualmente, está na Record de Brasília.
No início de 2021, a imprensa destacou a decisão do repórter e apresentador Fabio Ramalho, da Record Rio, de falar de sua homossexualidade e expor o namoro com um rapaz 26 anos mais jovem, o tiktoker João Paulo.
Em junho, Mês do Orgulho LGBTQIA+, o âncora Juliano Dip, do ‘Manhã BandNews’, não só disse ser gay ao vivo na TV como usou uma máscara anticovid com as cores do arco-íris, símbolo da comunidade. “Tenho muito orgulho. Você também, orgulhe-se”, disse.
Dois jornalistas americanos deram relevante contribuição ao combate à homofobia nas redações e na reivindicação do respeito dos telespectadores aos gays nas bancadas de telejornais. Ambos são da CNN, emissora de notícias com viés progressista.
Anderson Cooper tenta conscientizar quem vive em conflito sobre a importância da autoaceitação. “Ser gay me fez uma pessoa melhor, um repórter melhor”, afirma. Ele se tornou pai solteiro de um menino gerado em barriga de aluguel.
Seu colega de canal, Don Lemon, enfrenta duplo preconceito. Pesquisas mostram que o negro homossexual é mais discriminando até dentro do próprio meio gay. Há sufocante expectativa de máxima heterossexualidade em relação ao homem preto. “Ser gay é delicado a um afro-americano”, afirma o apresentador.
Os jornalistas que desafiam a heteronormatividade viram alvos de críticas, ironias, xingamentos e ameaças. Apesar disso, não se mostram arrependidos de pagar o alto preço de viver sua verdade pessoal. Parecem seguir o conselho do dramaturgo irlandês Oscar Wilde, condenado à prisão no século 19 por não esconder sua homossexualidade: “Seja você mesmo”.