O Brasil e o Chile foram os países vizinhos escolhidos pela Argentina para o início da abertura de fronteiras, após o país proibir a entrada de estrangeiros não residentes por 9 meses.
Nesta segunda (27), em uma iniciativa considerada como um “projeto piloto”, o departamento de Migrações da Argentina passou a permitir a passagem de turistas residentes de países limítrofes pela fronteira terrestre entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú, e pela fronteira entre o Chile e a cidade de Mendoza.
Essa é a primeira vez que as fronteiras terrestres são abertas para turistas estrangeiros em um ano e meio de pandemia. Podem passar para Puerto Iguazú brasileiros ou residentes de países limítrofes à Argentina que tenham estado no Brasil nas últimas duas semanas, que tenham o esquema de vacinação completo há pelo menos 14 dias e um PCR negativo realizado nas 48 horas anteriores à viagem. Também será necessário fazer um teste de antígenos ao chegar à Argentina.
A primeira brasileira a entrar na Argentina por terra após a abertura nesta tarde foi Andreia Chagas, que foi recebida pela filha Katleen com corrida para o abraço apertado.
Elas estavam sem se ver desde o começo da pandemia, e foram separadas pela ponte após o fechamento das fronteiras. A filha, que morava em Buenos Aires, acabou se mudando para Puerto Iguazú em janeiro, na expectativa de reencontrar a mãe.
É muita emoção, eu e meu marido — que voltou para Foz — viemos chorando pela ponte”, relatou Andrea a Nossa
Na expectativa pelos brasileiros
O movimento na alfândega argentina ainda é escasso — nada parecido ao local por onde passavam de 30 a 50 mil pessoas por dia, entrando ou saindo do país, antes da pandemia. Mas além dos abraços emotivos, a expectativa é que nos próximos dias a entrada de turistas movimente a economia da cidade.
Do lado argentino, horas antes da abertura, o clima era de expectativa pela reversão dos danos provocados pelo fechamento do posto fronteiriço da ponte internacional Tancredo Neves, que conecta a cidade com o Brasil.
Verónica Lugo tem um bar na zona comercial chamada de “Feirinha”, pela quantidade de brasileiros que frequentavam o local antes da pandemia.
“Cerveja, picanha e pastel”, ela responde prontamente e em português fluente a Nossa, quando perguntada sobre os produtos que os brasileiros mais pediam — ressaltando, no entanto, que quando eles falavam pastel, se referiam à empanada argentina, frita na hora.
Mas após o fechamento das fronteiras, os brasileiros, que eram 90% do seu público, sumiram.
Ruas vazias e desolação
Algumas consequências saltam aos olhos. No último domingo, dia da semana em que com a Ponte Internacional Tancredo Neves liberada teria forte movimentação, somente três lojas dos cerca de 40 estabelecimentos estavam abertos, e as ruas, vazias. Segundo Verónica, teve comerciante que faliu e teve que vender carro, casa ou terreno para sobreviver.
Essa notícia chega em boa hora. Foi mais de um ano e meio fechados, perdemos muita mercadoria, tivemos prejuízo”
Enquanto arruma o local, na expectativa da chegada iminente de brasileiros, Verónica explica que seu negócio sobreviveu graças às vendas por delivery. Mas muitas lojas da cidade fecharam permanentemente. Outras estão com persianas baixas, com comerciantes ansiosos pela retomada do turismo internacional que costumava animar as ruas da cidade.
Turismo interno
Moradores de Puerto Iguazú afirmam que desde julho a circulação e consumo aumentou bastante, devido ao turismo interno. Segundo o ministro provincial do Turismo, José María Arrua, nos últimos dias a ocupação hoteleira chegou a 70%, considerando uma operatividade de 80%. E muitos na cidade defendem — e chegaram a protestar, no dia 15 — a reabertura da fronteira com o Brasil, para a real reativação da economia.
“Estávamos acostumados com muitos brasileiros, que comem muito e bebem muito”, diz a Nazira Sales, garçonete de um bar na Avenida Brasil, onde trabalha há 1 ano.
Ela, que acabou demitida de outro bar após 5 meses após as fronteiras fecharem, conta que, antes da pandemia, muitos turistas chegavam em ônibus e vans vindas de Foz do Iguaçu para passear pelas Cataratas, fazer compras e comer, e voltavam para o Brasil no fim do dia. Agora, a expectativa é de que esse fluxo possa, aos poucos, ser retomado.
Bienvenidos, brasileiros
A vendedora argentina Graciela Da Rosa, que é descendente de brasileiros, conta que perdeu o trabalho em um estabelecimento que fechou durante a pandemia. Hoje, ela atua em outra loja de suvenires, que abriu há pouco mais de um mês.
“O turismo local aliviou muito a situação. Mas ainda está muito tranquilo”, diz, explicando que os brasileiros costumam buscar alfajores, azeite de oliva de Mendoza e salame argentino. Em um kiosco, também contam que havia uma alta procura por vinho — barato para o brasileiro pela desvalorização do peso — e doce de leite.
Laura Zarza, que trabalha há dois anos em outra loja de suvenires, conta que, após o fechamento das fronteiras, o estabelecimento ficou fechado 6 meses, e depois reabriu para “tentar salvar o dia”, mas que as vendas acabam sendo poucas. “Hoje é um dia atípico, a esta hora já teria muita gente na rua, e agora está vazio”, explica, no fim da tarde, lamentando o fechamento de diversas lojas da cidade.
Segundo ela, no entanto, muitos locais que fecharam estão sendo remodelados, já com a cabeça posta na reabertura iminente das fronteiras.
Estamos com muita expectativa de que haja mais turismo e muito movimento. A desvalorização do peso convém para os brasileiros, e essa cidade só funciona com o turismo, principalmente deles”, conclui.
A reabertura que aconteceu hoje é um projeto piloto que depois deve se estender às demais fronteiras terrestres. A previsão é de que em 1 de outubro, a Argentina volte a autorizar a entrada de estrangeiros de países limítrofes, entre eles o Brasil, pelo aeroporto de Ezeiza e outros aeroportos do país.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba