2014: Ricardo Coutinho

Flávio Lúcio

O estilo Ricardo Coutinho de fazer política, especialmente no Executivo, pouco mudou quando ele assumiu o Governo da Paraíba. E sua trajetória vitoriosa é um poderoso argumento para que ele não o mude. Foi assim que RC se notabilizou como Prefeito de João Pessoa e, partindo da Capital, conquistou toda a Paraíba. Seguindo uma linha que ele chama ainda de “republicana”, RC conseguiu atender, pelo menos no nível do discurso, as expectativas de um eleitorado carente de representantes que expressassem seus desejos de novas formas de fazer política.

Se essa imagem correspondia à verdade é uma questão que a história cuidará de mostrar. O fato é que RC conseguiu traduzir o que ele dizer ser suas práticas na administração pública e na política numa novidade, o que foi entendido como uma ruptura com o passado, com uma política que já não mais representava um novo eleitorado – majoritariamente urbano e mais bem informado – que emergira já há algum tempo no Nordeste e na Paraíba. Quem acompanhou de perto o que aconteceu nas eleições de 2010 e 2012 em João Pessoa entende do que estou falando. A sociedade havia mudado e RC compreendeu muito bem que isso tinha acontecido.

O tortuoso caminho de RC até 2014

O problema de Ricardo Coutinho é que a política não é um mero embate de discursos. Mais ainda, que os discursos precisam se expressar em uma prática, especialmente quando quem os produz está no pleno exercício do poder. Enfim, o que queremos dizer é que o tal do “republicanismo” ricardista pode ser submetido ao teste da prática e, caso ele seja mesmo apenas “discurso”, sofrer um irreversível processo de desconstrução.

O segundo problema de Coutinho é que todo candidato a cargo majoritário necessita de uma base social, ou seja, ele deve representar determinados segmentos da sociedade. Quando era parlamentar, RC tinha uma forte inserção nos meios intelectuais, nos chamados movimentos sociais e artistas. Foi dessa base social, inicialmente concentrada em João Pessoa, que Ricardo Coutinho soube com competência atrair e cultivar, e com a qual o hoje governador iniciou sua ascensão aos mais altos postos da política paraibana.

A grande dúvida, depois de dois anos de governo e de uma relação cheia de conflitos com diversas categorias do Serviço Público estadual, é se RC mantém esses apoios de professores, médicos, fiscais, estudantes, sem falar na PM, categorias numerosas e influentes na sociedade. É quase certo que não, mas, assim como aconteceu em 2010, vai depender de quem será o principal antagonista de Coutinho. Ou seja, se o/os candidato/s de oposição serão capazes de dialogar, de elaborar um discurso e estabelecer compromissos para atrair esses segmentos.


A pesada derrota em João Pessoa

No seu primeiro teste eleitoral depois que assumiu o governo, Ricardo Coutinho sofreu uma derrota de largo alcance político naquele que foi seu principal reduto: João Pessoa, que é o maior colégio eleitoral do estado. E não foi uma derrota qualquer. Além de Estela Bezerra, que teve um excelente desempenho como candidata do PSB, não ter sequer chegado ao segundo turno, os outros três candidatos, que juntos somaram mais de 80% dos votos válidos, eram grandes adversários de RC. A situação do governador foi tão desconfortável que os dois candidatos que foram ao segundo turno rejeitaram peremptoriamente o seu apoio temendo perder votos, ao ponto de Coutinho preferiu viajar no dia da eleição.

Essa situação mudou? É bastante improvável, o que não significa dizer que Coutinho repetirá em 2014 o desempenho de sua candidata a prefeita na capital. É provável que, no mínimo, o eleitorado da cidade se divida, o que, mesmo assim, representaria um grande prejuízo eleitoral para RC, que obteve em João Pessoa 65% dos votos em 2010. No segundo maior colégio eleitoral, a situação política do governador não é nada confortável, ao ponto de RC não ter sequer aparecido na cidade durante a campanha para prefeito, e por exigência dos seus próprios aliados. Em Sousa, onde a presença do governador não foi rejeitada, seu candidato foi derrotado.

 

O peso da máquina do governo

Mas, que ninguém se engane. Mesmo com as dificuldades em João Pessoa e Campina Grande, os dois colégios eleitorais que asseguraram sua vitória em 2010, RC é um fortíssimo candidato à reeleição. Além de tempo para reverter parte dos prejuízos políticos, RC tem nas mãos um instrumento decisivo para vencer qualquer embate eleitoral na Paraíba: a máquina do governo estadual. Com ela, assim como aconteceu nas últimas eleições, o governador-candidato deve repetir, com uma regularidade quase científica, uma vitória nos pequenos municípios de até cinco mil eleitores, o que já representa uma importante vantagem. O problema de RC, assim como aconteceu com José Maranhão em 2010, é que metade do eleitorado paraibano está concentrado em cidades de até 20 mil eleitores, ou seja, não mais que 20 municípios. Nessas cidades, apesar do poder da máquina ser muito importante, o eleitorado se mostra cada vez mais independente, e, mais uma vez, a eleição de 2010 serve para demonstrar esse fato.

RC ainda tem outros problemas. No confronto aberto com o Poder Legislativo, não menos que 20 deputados, hoje, são antiricardistas e vão lutar para derrota-lo interior adentro, o que pode gerar impacto em sua votação nos redutos mais suscetíveis à força do governo.