Sentado em um canto reservado de uma espaçosa sala comercial de dois andares no centro empresarial Brasil 21, em Brasília, Valdemar Costa Neto, comandante do PL, mantém uma intensa agenda com deputados, senadores e dirigentes partidários. Do “Escritório”, como seus aliados batizaram a sede do partido, ele dá as cartas no jogo político, mostrando a sua influência no governo Bolsonaro.
O PL, de Costa Neto, está entre os quatro maiores partidos da Câmara dos Deputados e tem ao menos 15 cargos relevantes em órgãos como o Ibama, Incra, DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
O controle sobre essas áreas é fruto do casamento político entre o mandachuva do partido e Bolsonaro. Essa relação começou em maio de 2020, quando o presidente montou uma espécie de consórcio com o Centrão para governar, e foi sacramentada em abril deste ano com a posse da deputada Flávia Arruda (PL-DF) como ministra da Secretaria de Governo.
O comandante do PL já foi preso, condenado no esquema do mensalão, ganhou perdão da pena e virou réu no ano passado por suposta cobrança de propina na Ferrovia Norte-Sul. Ele nega qualquer irregularidade. Mesmo com um histórico político espinhoso, o dirigente segue cortejado não só por Bolsonaro como pelos principais candidatos à eleição em 2022.
Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou deputados avisarem a Costa Neto que pretende se encontrar com ele para discutir uma eventual aliança no ano que vem. O cacique do PL declinou e afirmou que não pode conversar com mais ninguém enquanto integrar a base do governo Bolsonaro. Mas a regra, claro, não vale para conversas reservadas, discretas no “Escritório”. José Dirceu, por exemplo, é um contato frequente de Costa Neto, assim como diversos outros petistas.
A postura de político que cumpre acordos é o que fortalece Valdemar Costa Neto diante de seus aliados. Em 2016, às vésperas da votação do pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, Lula ligou para o político para pedir ajuda para converter votos de outros partidos e, assim, manter a petista no Palácio do Planalto. Pragmático, o comandante do PL explicou que a derrocada seria inevitável, mas que faria movimentos para garantir votos do PL a favor de Dilma. Conseguiu o apoio de 13 deputados (dez a favor da presidente e de três que se ausentaram).
Segundo interlocutores do dirigente partidário, Costa Neto se comprometeu com os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), e Luís Roberto Barroso, que também é do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a garantir que seu partido não atuaria para alterar o sistema eleitoral. O PL foi uma das legendas responsáveis por enterrar o projeto do voto impresso na Câmara. O acordo irritou Bolsonaro. Mesmo assim, o cacique do Centrão manteve a sua influência no governo e, recentemente, gravou um vídeo para justificar seu posicionamento.
— Temos o controle das urnas. Todas as eleições, são sorteadas urnas que os partidos são convidados, junto com a PF (Polícia Federal), para checar. E isso não se trata de ser a favor ou contra o Bolsonaro, mas de defender os interesses do país — disse, no vídeo.
Prazo para “recall”
Ao contrário de Ciro Nogueira, presidente do PP e ministro da Casa Civil, Costa Neto não defende publicamente algumas posições extremistas de Bolsonaro. O comandante do PL tenta se manter distante da pecha de bolsonarista, mas conversa regularmente com o presidente pelo telefone. A última visita ao Palácio do Planalto foi para empossar a deputada federal Flávia Arruda como ministra da Secretaria de Governo, em março.
Se houver um desembarque do Centrão do governo Bolsonaro, Costa Neto deve ser o último a apagar as luzes. Isso porque o PL, explicam seus líderes, é um partido de parlamentares, voltado para o Legislativo e interessado em controlar cargos em órgãos estratégicos. Se por um lado o dirigente não dá prazo para reavaliar a aliança com Bolsonaro, por outro os seus aliados dão. A ministra Flávia Arruda, por exemplo, deve se desincompatibilizar da função em abril do ano que vem para disputar novas eleições. A partir daí, Costa Neto avaliará se permanece aliado de Bolsonaro, se volta a ter uma aliança com a esquerda ou se aposta numa eventual “terceira via”. Seja qual for a decisão, ele permanecerá orbitando no poder.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba