Em razão da crise institucional do país e dos seus reflexos na economia, Paulo Guedes, ministro da Economia, foi questionado por investidores estrangeiros sobre as manifestações do 7 de Setembro e o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, em razão da crise institucional do país e dos seus reflexos na economia. Guedes reconheceu que o presidente pode ter se excedido em palavras, mas não em ações, e destacou a solidez da democracia brasileira ao afirmar que os excessos de um ator vêm sendo contidos por outras instituições.
“Atores, especificamente o presidente, podem ter ultrapassado os limites em palavras, mas não em ações. Mas a coisa é: e os atos? O presidente nunca mandou prender ninguém, nunca transgrediu nada no campo fiscal. O presidente está tentando muito, o máximo que ele pode, para ficar dentro das quatro linhas”, afirmou o ministro durante evento virtual do banco Credit Suisse.
Guedes quis explicar aos investidores estrangeiros, sobretudo aos americanos, a situação do país. Mais uma vez, ele afirmou que as democracias são barulhentas, sobretudo as emergentes, e disse que milhares de pessoas foram às ruas no dia Sete de Setembro para uma celebração pacífica da democracia.
“É um direito dos cidadãos manifestar sua opinião, mas nunca, nunca, com violência”, disse, acrescentando que isso também vale para a opinião sobre o trabalho das instituições.
O ministro defendeu que as instituições brasileiras estão trabalhando e que, quando há excesso por parte de um ator específico, as outras instituições aparecem para tentar contê-lo.
“Essa é a confiança que temos. Somos seres humanos, cometemos erros, às vezes ultrapassamos limites, mas o importante é que temos instituições evoluindo, e elas ficam melhores a cada tempo”, acrescentando que a cada vez que alguém ultrapassa limites, as outas instituições aparecem e demarcam esse limite novamente.
Em vários momentos da fala de Guedes, era possível ouvir sons de buzina ao fundo. O ministro estava na Esplanada, onde caminhões ocupavam as vias e canteiros desde a segunda-feira. Em certo momento, quando o buzinaço ficou mais intenso, Guedes explicou aos estrangeiros que assistiam que aquele era um exemplo de como a democracia brasileira era barulhenta e que os caminhoneiros estavam deixando o local.
Escalada na crise institucional
A crise institucional entre os Poderes atingiu seu ápice durante o 7 de Setembro. O presidente Jair Bolsonaro fez discursos com fortes críticas ao Judiciário, sobretudo ao Supremo Tribunal Federal (STF), para seus apoiadores em atos realizados em Brasília e São Paulo. O principal alvo das críticas foi o ministro Alexandre de Moraes, relator de inquéritos na Corte contra o presidente e seus aliados. Bolsonaro afirmou que descumpriria decisões de Moraes, a quem chamou de canalha.
O presidente acabou ficando isolado. Foi criticado por diversos atores, como seus aliados do Centrão, sua base de sustentação política, presidentes de órgãos da República, como os ministros Luiz Fux (STF), Luís Roberto Barroso (Tribunal Superior Eleitoral) e Arthur Lira (Câmara).
Além da crise institucional, os protestos de caminhoneiros bolsonaristas saíram do controle do Palácio do Planalto, já que a categoria manteve bloqueios mesmo diante do apelo do presidente para que liberassem o tráfego. A preocupação, neste caso, era com a economia e uma possível pressão extra na inflação, que já se aproxima dos dois dígitos. Os mercados também reagiram mal, com dólar e juros futuros subindo e a bolsa de valores caindo.
Para conter essa crise, Bolsonaro recorreu ao ex-presidente Michel Temer, que ajudou na redação de um documento, intitulado “Declaração à Nação”. No texto, Bolsonaro atribuiu xingamentos e ameaças ao STF a um arroubo provocado pelo “calor do momento” e disse que não teve a intenção de agredir outros Poderes. O gesto aliviou um pouco as tensões, embora tenha sido recebido com ceticismo por alguns setores, principalmente no STF.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: O Globo