Geração Privilegiada

Bruno Filho

Costumo dizer que a minha geração foi a mais agraciada desta existência, em virtude dos inúmeros acontecimentos que vivenciamos em pouco tempo. e que sucederam-se em quase todas as áreas num período de 60 anos. Posso citar inúmeros que já ilustrariam este comentário, claro que é impossivel faze-lo. Vou destacar apenas alguns e os amigos irão certamente entender.

Na área musical vou escrever sobre os dois maiores: Beatles e Rolling Stones, e não é preciso dizer mais nada. Em termos de Brasil destaco o Rei Roberto Carlos e ponto final. No futebol estará de bom tamanho Pelé, Garrincha, Maradona e Messi ou precisa de mais alguma coisa ? Ainda no esporte vamos falar de Boxe…Cassius Clay e Mike Tyson preenchem as expectativas. No basquete Michel Jordan e no automobilismo Ayrton Senna.

Nos eventos, apenas a chegada do homem a Lua seria o bastante. Na tecnologia sobram assuntos, mas vou falar dos inacreditáveis ou impensáveis: o fax, o computador e todos os seus derivados, e o principal deles: o aparelho de telefonia celular. Não há parâmetro de avaliação com outras décadas e séculos. Estes são apenas alguns exemplos.

Tudo serve como preâmbulo para que eu chegue aonde desejo. Homenagear alguém que fez parte de um projeto na minha área de atuação que é o jornalismo, absolutamente inacreditavel para seu tempo. Se fosse nos dias de hoje ainda assim seria surpreendente. Aconteceu em 1969 ou seja há mais de 40 anos atrás. A história começa com Tarso de Castro, Jaguar e Sergio Cabral. Sobre este homem que escrevo…

Completa-se 25 anos da morte de Henfil. Então, “O Pasquim” volta à minha memória, este tablóide que ocupou grande parte de minha adolescência, permeada pela terrivel ditadura que tanto atormentou os dias daqueles que viveram na época. E os rapazes que citei acrescidos de Ziraldo, Millor, Ivan Lessa, Ruy Castro e tantos outros traziam um pouco de conforto a nós jovens amordaçados.

Dos personagens nem vou falar muito, defino em apenas um, criação de Henfil, o famoso “Fradinho”, que nas tiras dizia aquilo que não podiamos dizer. Foram muitos e sempre com alguma conotação político-social. O ícone sempre foi “Sig” o ratinho que carregava o nome abreviado de Sigmund Freud. Um pouco da história do jornalismo brasileiro.

Rapidamente vou contar como faziamos para adquirir a publicação que chegou atingir 200 mil exemplares. Tinhamos que ir à uma banca de jornais camuflada na Praça da Sé para podermos comprá-lo e tinhamos o maior cuidado de carregá-lo nas mochilas e bolsas a tiracolo, pois se fossemos pegos pelos militares teriamos inumeros problemas.

Trata-se apenas de uma homengaem a este mineiro que infelizmente faleceu muito cedo aos 43 anos de idade, vitima do mal do século a AIDS, virus que adquiriu por ser hemofílico numa transfusão de sangue, assim como seu irmão o não menos genial Betinho. Até hoje o trabalho dos dois é motivo de orgulho de todos nós que optamos em nos preocupar com o sofrimento do povo.

Quase todos já se foram… Talvez Ziraldo, Sergio Cabral e Jaguar sejam ao lado de Ruy Castro os que ainda estão por aqui. Não pesquisei sobre o assunto morte, até porque não me interessa. O legado que ficou é que procuro guardar, como em meados de 70, com os fogos espolcando por todos os lados em virtude da conquista do Brasil na Copa do Mundo…

Neste momento eu, Tuna e Cidão parceiros inseparáveis de tantas jornadas desciamos a Rua da Glória repletos de orgulho por termos conseguido comprar mais uma edição do “Pasquim”, que na segunda-feira faria a alegria de toda a rapaziada que frequentava o recreio do Colégio Anglo Latino. Ali nós nos sentiamos soberanos, muito acima de metralhadoras e canhões.

Bruno Filho, jornalista e radialista, orgulhoso por fazer parte dessa geração. A mais antenada de todas, podem acreditar.

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