Cássio e Romero ajudam a recompor as peças que Ricardo Coutinho espalhou

Rubens Nóbrega

Vistas sob o ângulo do curto prazo, a composição do secretariado do novo Prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSDB, responde a acomodações próprias de um candidato que foi ao segundo turno e precisou fazer alianças para eleger-se. Vistas com o olhar voltado para 2014, elas projetam mais que uma rearrumação de forças, mas uma ampliação das bases que pretendem ajudar a reeleição do governador Ricardo Coutinho. O que, caso estejamos certos, é uma prova mais do que cabal de que o Senador Cássio Cunha Lima não tem outro projeto para 2014 a não ser manter a aliança vitoriosa em 2010, colocando no molho as barbas de muitas cassistas, alguns não declarados, que projetam um rompimento entre Cunha Lima e RC desde os primeiros dias do atual governo, tese na qual nunca acreditei.

Adesão de Guilherme Almeida a RC?

São sintomas do que afirmamos acima pelo menos duas nomeações, sem nos determos na de Marcio Canielo, professor da UFCG, filiado ao PT e coordenador do programa do PT em 2010: a do deputado estadual Guilherme Almeida, do PSC, e a da ex-reitora da UEPB, Marlene Alves, que pertence aos quadros do PCdoB. Comecemos por Almeida. Aliado do ex-prefeito Veneziano Vital do Rego desde 2004, Guilherme Almeida tinha pretensões de suceder o “cabeludo” e trabalhou para ter o seu apoio. Preterido pela médica Tatiana Medeiros, Almeida se lançou candidato quando obteve pouco mais de 3% dos votos. No segundo turno, surpreendeu a muitos ao declarar apoio ao candidato do PSDB.

A nomeação de Guilherme Almeida para a Secretaria da Agricultura campinense consolida o seu rompimento definitivo com o grupo liderado por Veneziano Vital do Rego e é um sinal claro de que o deputado do PSC não pretende apoiar o ex-prefeito peemedebista para o governo em 2014. Como em política as atitudes são mais eloquentes do que as palavras, ao aceitar o convite para ser secretário, Almeida ajuda Ricardo Coutinho onde o governador mais precisa no momento: na Assembleia Legislativa, ao abrir espaço para uma “ricardista” mais convicta, a suplente Iraê Lucena. Assim, Guilherme Almeida se poupa das aflições de todo “cristão-novo”. Ora, se Guilherme Almeida pretendesse permanecer na oposição teria ele aceitado o convite de Romero Rodrigues? Com essa atitude, Almeida pavimenta o caminho da adesão, que só será plena quando os palanques de 2014 estiverem formados.

Marlene Alves, o PCDOB e o PSDB

Não foi exatamente uma surpresa a indicação de Marlene Alves para a Secretaria de Cultura da Prefeitura de Campina Grande, isso por conta da trajetória da ex-reitora da UEPB de proximidade política com o Senador Cássio Cunha Lima. A surpresa maior acontece pela legitimação que deu a direção estadual do PCdoB para que um de seus membros participem de um governo do PSDB. Isso porque o porte e a importância política de Campina Grande exigiriam, em tese, um maior alinhamento de sua direção no estado ao posicionamento nacional do PCdoB, que se opõe com radicalidade ao projeto de poder tucano. E Romero Rodrigues, o Prefeito, compôs até bem pouco tempo a bancada federal oposicionista, sendo, portanto, expoente nacional do PSDB, além de ser primo de um atuante parlamentar oposicionista, cotado, inclusive para ser líder dos tucanos no Senado.

Coisas da política e do PCdoB, que rompeu em 2010 com o então candidato a governador, Ricardo Coutinho, por conta exatamente de sua aliança com o PSDB, indo alojar-se nos braços largos do ex-governador José Maranhão. Hoje, de volta ao governo estadual, o PCdoB mergulha fundo nas águas do ricardismo. E, se Romero Rodrigues ajuda a pavimentar o caminho de Guilherme Almeida para o governismo, com o PCdoB ocorre o contrário: é por conta da proximidade com RC que a direção estadual ratifica a decisão de participação no governo tucano. Uma troca de amabilidades que só pode ser entendida como o compartilhamento de uma estratégia comum para 2014, que deve trazer de volta Marlene Alves e a UEPB para a base ricardista, depois de meses de entrevero.

A nomeação de Rangel Júnior, que também é do PCdoB, para a reitoria da universidade não deve ser desconectada desses movimentos que visam reunir novamente o antigo bloco que deu expressiva vitória a Ricardo Coutinho em 2010 em Campina. Esses movimentos pretendem isolar as pretensões de Veneziano Vital de unir a cidade – e o campinismo – em torno de sua candidatura a governador. Cássio Cunha Lima e Romero Rodrigues ajudam a recompor as peças que os erros políticos cometidos por Ricardo Coutinho nesses dois anos espalharam pelo tabuleiro.

E um novo estilo político, moldado pelo instinto de sobrevivência, parece ganhar forma no início da segunda metade do governo de Ricardo Coutinho, que tenta parecer mais sereno e menos belicoso.
Não tenham dúvidas: 2014 já começou.

Caos em Campina Grande?

Quem assistiu a alguns programas de rádio ontem talvez tenha ficado com a impressão de que Campina Grande viveu um caos até a assunção salvadora de Romero Rodrigues: lixo pelas ruas, servidores sem salário, dívidas, num cenário grotesco que pretendia fazer crer que a gestão de oito anos de Veneziano Vital foi um fracasso. Candidatíssimo a governador pelo PMDB, Vital do Rego vai purgar pelos próximos meses nas mãos (e na língua) do governismo. Resta saber se a melhor estratégia para fragilizar sua candidatura é demonizá-lo ou deixá-lo no esquecimento.