Jordânia Santos, 20 anos, é moradora de Coroadinho, uma das dez maiores comunidades do país, na periferia de São Luís, no Maranhão. Foi com acesso à internet que a jovem pôde manter a rotina de estudos com as aulas remotas do curso de Ciências e Tecnologia na UFMA (Universidade Federal do Maranhão), conquista obtida com a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e aplicada ao Sisu (Sistema de Seleção Unificada).
Filha de pedreiro e de mãe autônoma, Jordânia avalia que “a falta de planejamento na organização do bairro fez com que muitos problemas de cunho estrutural surgissem, já que na região existe uma defasagem no sistema educacional e o acesso ao ensino superior é uma realidade distante.”
“Moro em um bairro periférico, criminalizado onde muitos jovens acabam se afastando dos estudos”, lamenta.
Jordânia é uma das jovens ouvidas em uma pesquisa inédita realizada pelo Outdoor Social Inteligência, especializado na classe C. As pessoas consultadas para o estudo estão matriculadas em faculdades ou cursos técnicos e revelam dados sobre o ensino superior nesses territórios.
O estudo mostra que para 56% dos estudantes entrevistados do G10 — grupo das favelas com maior potencial econômico do país — vêem o ensino EAD (Ensino a Distância) como vantajoso, principalmente durante a pandemia da covid-19.
Para Emília Rabello, fundadora do Outdoor Social Inteligência, “temos de lembrar que favela é um fenômeno urbano e não social, ocorre em qualquer outro país em subdesenvolvimento”,diz. “O ensino EAD foi apontado na pesquisa como preferência, porque a mobilidade do estudante é melhor aproveitada.”
Segundo o estudo, o destaque está no potencial de consumo das favelas do G10. A cifra anual que os territórios podem gerar com cursos superiores é de R$ 75 milhões, já com cursos regulares, popularmente conhecidos como cursos técnicos, R$ 84 milhões. O potencial de consumo anual geral, ou seja, em todas as áreas chega à casa dos R$ 9,9 bilhões.
“Sabemos que existe violência nas regiões periféricas, pessoas em estado de vulnerabilidade, mas existe também uma população que estuda, trabalha e que tem sonhos”, destaca Emília sobre o potencial de consumo nestas regiões.
Ainda segundo a pesquisa, os cursos técnicos têm maior adesão. “A maior procura por cursos técnicos tem como motivação uma capacitação de curto prazo, já voltado para o mercado de trabalho”, observa a pesquisadora.
“Quando falamos em Educação, estamos falando de sonhos, de futuro e se não houver investimento poderá ter um apagão de mão de obra no país”, conclui.
O sonho de Sheila Maria Silva Barbosa, 43 anos, era ter feito faculdade de Serviço Social. Também moradora de Coroadinho, a dona de casa passou boa parte da vida tentando acesso ao ensino superior para ter uma profissão, mas não conseguiu.
“Quero poder realizar ao menos um curso profissionalizante, que tem uma duração menor, para me recolocar mais rapidamente no mercado de trabalho e ter uma vida melhor”, conta. “Na minha época não existiam tantas oportunidades como hoje, eu não conseguia comprar um livro”, lembra Sheila.
Desempregada, a dona de casa descreve sua realidade: “Em nossa comunidade, um pai de família que tem dois, três filhos, não vai pagar internet e deixar os filhos com fome”, relata. “Será que essas crianças estarão preparadas para o mercado de trabalho? Como será o futuro delas? Essa geração não está dentro das bibliotecas consumindo livros, mas está conectada e quem não tem acesso à internet?.”
Sheila acredita que a internet de qualidade para as pessoas que vivem nas comunidades periféricas do país deveria ser garantida. “É um investimento, os jovens são a base do nosso país, além de ajudar o estudante, é um incentivo para que ele continue a estudar”, diz. “Mesmo com todas as dificuldades, o estudo é o melhor caminho e é através dele que a pessoa pode mudar a sua condição de vida e de sua família”, conclui.
Fonte: R7
Créditos: R7