Exemplo e Parâmetro

Bruno Filho

Quero pedir desculpas a Caetano e Bethania. Alguns dias atrás confessei inveja por sentir-me saudoso de ter meus pais vivos e citei o exemplo de Dona Claudionor, a angelical Canô. Pois ela se foi e não poderia ser diferente, o Dia de Natal acabou sendo o escolhido pelo Criador para levá-la.

Foram 107 anos de vida terrena, sempre no mesmo local que ela escolheu para dormir sua última noite. Santo Amaro da Purificação ficou mais triste, a Bahia mais triste e o Brasil desorientado, já que sempre que acontece a morte de alguém de idade avançada perdemos o parâmetro.

É sempre a mesma coisa. Quando sabemos da morte de alguém público a primeira pergunta que surge é… “Tinha quantos anos ? ou… ” Morreu de quê ? Estava doente ?. Raramente a resposta é negativa como a de hoje. Na primeira a resposta 107 anos e a segunda…não, adoeceu e em 7 dias partiu.

Nos sentimos órfãos nesse momento. É a unica hora em que reconhecemos a morte inexoravelmente perfeita. Se não leva por doença ou fatalidade, leva pela idade. O corpo físico se acaba por si só. Não há escapatória e nem como lutar contra. Quando é uma morte precoce o conformismo por incrivel que pareça é maior.

Tipo…” Aconteceu com fulano, mas não acontece comigo “. Saindo desse prisma, partimos para o exemplo. Não existem muitas pessoas que consigam viver uma vida inteira da mesma maneira. Dona Canô conseguiu. Na mesma casa, da mesma cidade e com os mesmos vizinhos e amigos.

Comandava seus 6 filhos, netos, bisnetos sempre com autoridade do alto de seu “um metro e cinquenta”. As ajudantes que mantinha na casa, ainda perguntavam a ela o que fazer para o almoço, o que servir no jantar, como arrumar os móveis, e se isso ou aquilo deveria ser trocado ou mudado de lugar.

Lúcida e inteligente ainda era o esteio da família e dava a palavra final em tudo o que os filhos faziam. Sempre consultada em todos os sentidos, acertou muito mais do que errou, criou uma família bonita, unida e exemplar. O Brasil sente demais este passamento.

Nossos pilares estão ruindo. Perdemos recentemente um deles na figura de Oscar Niemeyer, curiosamente na mesma idade e agora a senhorinha baiana dos cabelos prateados e compridos. Começaremos o ano de 2013 mais tristes e pobres de espírito. Teremos que compensar de outras formas.

Quando se convive com a morte nunca é facil explicar e tirar conclusões. Quando é uma morte anunciada, mediocremente nos conformamos de uma forma mais rapida pelas comparações e quando é uma tragédia apelamos diretamente as forças divinas tentando se isentar e sair da fila de próximo.

Não sei quantos ainda vivem neste Mundo que tem mais de 100 anos de idade. A tendencia é que aumente o número com as novas descobertas da medicina evitando doenças precoces detectadas com antecedencia. Só não sei se o aumento da média de idade será equivalente ás melhorias sociais.

Entendo que não. Portanto, no futuro espero que não tenhamos só terceira idade saudável, que tenhamos terceira idade com dignidade, reconhecimento dos governantes e beneficios sociais. Assim formaremos uma verdadeira população de idosos. Do resto eles cuidam. De nos transmitir conhecimento. Descanse Dona Claudionor ! O legado fica.

Bruno Filho, jornalista e radialista, faz apologia da famíla sempre. Triste demais com o acontecido.

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