1 " Sabido " prá 1000 " Bestas "

Bruno Filho

Passa ano e entra ano continua a mesma coisa. Todo dia sai um espertalhão de casa e vai enganar um monte de pessoas de bem, intencionados para ajudar, que são surpreendidos na sua boa fé. Aprendi a observar mais a fundo nas conversas que tive com o saudoso Lacerda. Pena que ele se foi, nunca aprendi tanto em tão pouco tempo.

Devem estar curiosos pelos exemplos, então vamos lá, são muitos. Começo já no primeiro farol que passo aonde alguns se aproveitam da época para mexer com o sentimento alheio. Colocam placas no peito denunciando doenças, juntam crianças quase nuas no meio dos carros e obrigam você a sentir culpa. A culpa, na verdade, é dos governantes.

Passamos pelo mercado, e em meio a 1 oferta especial, aparecem 100 produtos superfaturados. Artigos de Natal então nem se fala, coisas que normalmente podemos consumir ficam exorbitantes. Pensa em comprar enfeites para sua casa e cai nas mãos desses inomináveis chineses.

São Papais-Noel cantando, dançando, subindo em arvore, andando de bicicleta, dentro e fora de chaminés, e arvores que podemos escolher. Pequenas, médias, grandes e gigantes. Preços que parecem pequenos, mas se formos analisar chegamos a conclusão que carregam 2000 % de lucro.

Quem fabrica essas coisas são operários que vivem sob o regime da escravidão. Ganham muito pouco escondidos na informalidade. Não tem registro,não tem garantia social nenhuma e muito menos condições de sustentar uma família com dignidade.

Na vida cotidiana, vou contar histórinhas vividas por Dr. Lacerda. O transito parado…ninguém andava. Ele apressado estaciona o carro e pergunta…” O quê está acontecendo aÍ, é um circo que está chegando ?” A pessoa responde: “Não… é um mercado que esta sendo inaugurado”…inconformado ele prossegue…

…” E o mercado vai sumir ? vai sair daí ? Não é um mercado definitivo ? ” Resumo, era uma grande rede francesa de alimentos ludibriando o povo, como se aquele fosse o unico dia possivel para fazer compras. Em Campina Grande, Lacerda sai de sua suite no Hotel, que ele havia pago como todos os outros hospedes e não consegue andar…

O saguão repleto de mocinhas e rapazes chorando e gritando. Então resolve perguntar: ” É o Papa ? Ele está hospedado aqui ?” Em meio a xingamentos descobre que é uma Banda Musical. Então Lacerda pergunta de novo:” Eles morreram ? Por quê ta todo mundo chorando ?”

Percebe que tudo era apenas para uma foto ou no máximo um rabisco num pedaço de papel. O pior não é só o acontecido no Hotel. O que vem pela frente nos shows é muito mais. Centenas de reais são pagos por um ingresso, você entra e fica amassado pelo povo nas costas e os cantores nem aí…

Entram no palco atrasados, cheios de bebida na cabeça, cantam 1 musica inteira e depois é só o povo. Tipo…” Meu amor é infinito…vocêsssssss…” e o povão é que fica na obrigação de cantar o resto. Ele só mexe com as mãos para um lado e para o outro.

Em cima disso aparecem DVDS, camisetas, bonés e tudo o que é pertinente. E todo mundo comprando. No lado da estética é a mesma coisa. Um “sabido” pinta o cabelo com uma tinta qualquer e milhões de pessoas compram a mesma tinta e fazem a mesma coisa. Depois de uma semana está fora de moda.

Cabeludos e barbudos cortam cabelo e raspam a barba na frente das cameras e vendem aparelhos. Um milionário emagrece num programa de TV, coloca 5 milhões no bolso já repleto e o povo morrendo de fome. E o cidadão ainda é nosso representante na Unicef.

São muitos exemplos. Poderiamos escrever 100 páginas. Mas queria terminar falando do celular. Imbatível. Temos mais aparelhos do que gente. São 250 milhões num pais de 200 milhoes de habitantes. Entre minha casa e de minha sogra são 20, fora os carregadores todos perdidos nas gavetas. E eles basicamente fazem a mesma coisa.

Muitos que compram não tem sapato, calça, camisa, comida, trabalho, estudo, mas tem celular. Sem celular não há vida. Tudo pára. 1 “sabido” controla 1000 “bestas”. Nem vou falar de política, seria covardia. Neste Natal, mesas vazias nas casas da população contrastam com abundância e desperdício.

O comentário perde o efeito alegre e ganha conotação de tristeza e não é minha intenção. O que posso pedir a Deus é que oriente os “Bestas”. Cada dia mais que eles possam identificar os “Sabidos” que saem de casa com a intenção de achar as ingênuas e consumistas “ovelhinhas”.

Bruno Filho, jornalista e radialista, que escreveu para homenagear seu sogro Dr. João Pereira de Lacerda, esse era difícil de ser feito de “besta”, só se permitisse.

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