Paulo Santos

Uma pergunta que não quer calar: a quem interessa esse clima de confronto entre dois Poderes constituídos da Paraíba – o Executivo e o Legislativo? É preocupante que não apareça nenhuma voz com respeitabilidade que consiga emitir uma palavra apaziguadora para, pelo menos, fazer ver que essa guerra não interessa à maioria. O chamado “espírito natalino” sumiu, desapareceu, tomou Doril na Paraíba.

A praça que oxigena os três poderes tem sido testemunha, ao longo dos tempos, de muitos conflitos. João Pessoa saiu de um daqueles prédios – o Palácio da Redenção – para tombar morto em Recife e se transformar no mártir da Revolução de 30. Mais recentemente os blindados do Exército desnecessariamente ali se alojaram para intimidar movimento grevista de policiais militares. Felizmente, dessa vez não houve derramamento de sangue.

A história está repleta de acontecimentos que começam com simples escaramuças e acabam em tragédias. A beligerância parece ser o oxigênio do poder, qualquer poder. Só há registros de confrontos entre Poderes constituídos nos períodos ditatoriais. Em pleno Estado de Direito isso é inconcebível. Menos na Paraíba onde todos os valores mais ou menos civilizados e democráticos são subvertidos e esmagados, quase extintos.

Palácio da Redenção e Assembleia Legislativa aumentam a cada dia o confronto e partem em direção a um ponto cujos desdobramentos são desconhecidos porque não fazia parte do script que os políticos se deixassem levar exclusivamente por seus inconfessáveis interesses particulares. O interesse maior é daqueles que pagam impostos.

Um lado e o outro desfiam suas críticas mútuas como se fossem o combustível dos seus mandatos. É um equívoco grotesco: ninguém está interessado em saber no que “A” ou “B” erraram, mas no que eles estão acertando. Cada um tem seu conceito próprio. Dizem os sábios que ninguém erra ou acerta sozinho.

Um confronto direto entre Poderes beira a insanidade. Os líderes desse conflito, sejam quais forem, não têm apenas compromisso com seus mandatos ou com seus pontos de vista, mas com as expectativas nascidas de um eleitorado sedento de água, de comida, de habitação, de transporte, de saúde, etc. Ninguém quer que a Paraíba seja o paraíso, mas ninguém suporta viver nesse inferno político.

Nesse instante fazem falta figuras como Dom José Maria Pires ou Dom Marcelo Carvalheira que, como chefes da Igreja Católica em tempos duros e difíceis, nunca se acomodaram diante das injustiças sociais ou políticas, mesmo que convivessem em harmonia com os Poderes. Não tergiversavam nem se omitiam. Não nomeavam nem demitiam, mas tinham autoridade. Éramos felizes e não sabíamos.

Como acreditar nas promessas de combate à violência diante do quadro de violência política que se estabeleceu neste Estado? É vergonhoso, ultrajante, ver homens e mulheres se engalfinhando com armamentos mesquinhos que deveriam ser utilizados para tirar a Paraíba dos ridículos patamares de pobreza e miséria escancarados pelos IBGEs e seus PNUDs da vida.

Há uma evidência ainda pior: os dois lados têm, por perto, gente acostumada a apaziguar ânimos, a por panos quentes em conflitos, mas estes “bombeiros” são propositalmente alijados das discussões que poderiam acontecer e não acontecem. Está sobrando arrogância e faltando bom senso. Muito coronelismo e pouca humildade. E a tendência, a preço de hoje, é que as coisas apenas piorem.

DOMÉSTICO
Em alguns ambientes onde só se respira política não faltam comentários sobre o descarte da atual secretária de Saúde, Roseana Meira, na equipe do futuro Prefeito de João Pessoa. Há quem diga que o ainda prefeito Luciano Agra estava exagerando nas exigências de aproveitamento de familiares na próxima administração. Cartaxo salomonicamente preferiu contemplar a atual mulher de Agra – a geógrafa Wellintânia Freitas dos Anjos – como adjunta do Meio Ambiente. E ainda aproveitou um sobrinho de Agra como Procurador-Geral Adjunto.

PRIORIDADE
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB) pode até acreditar que a Paraíba necessite da ponte entre Cabedelo e Lucena para desenvolvimento do turismo e, consequentemente, da economia. É questão de gosto. A emenda que o parlamentar reapresentou, em Brasília, deveria ter novo rumo: a construção de cisternas no Sertão e no Cariri. Guardar água é, com todo o respeito, melhor do que rechear as contas bancárias de construtoras com obras faraônicas.

ESFRIOU
Um passarinho que costuma bisbilhotar as conversas de personalidades importantes me diz que ficará para outra oportunidade um jantar que o governador Ricardo Coutinho (PSB) sugeriu a um deputado do PEN para se confraternizar com alguns prefeitos. A pequena ave sussurra que a votação do novo Regimento Interno da Assembleia fez a comida e os ânimos azedarem.

METADE DO PEN
O deputado José Aldemir Meireles estufou o peito nesta quinta-feira (20) nos estúdios da Paraíba FM de João Pessoa (101.7) e deu o grito de liberdade: “O PEN agora está na oposição”. O líder peniano esquece de um detalhe: só a metade da bancada se compôs agora com a oposição. A outra metade, caro deputado sertanejo, há muito era oposicionista.