O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prometeu apresentar “provas” de fraude nas eleições há 500 dias atrás. A declaração foi dada no dia 9 de março de 2020.
“Acredito que, pelas provas que tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno. Mas no meu entender houve fraude, tá?”
Desafiado a apresentá-las em três ações na Justiça, Bolsonaro se comporta como se estivesse diante de um e-mail da Pfizer: em absoluto silêncio.
Nos tribunais, o presidente não apresentou um indício sequer de irregularidade. Pelo contrário.
O blog apurou o andamento de algumas apurações que correm nos Tribunais de Justiça de São Paulo e de Santa Catarina e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
Ação em São Paulo
O processo foi aberto pelo movimento Livres e exige duas respostas: houve fraude nas eleições? Onde estão as provas?
A resposta veio por meio da Advocacia-Geral da União, pedindo a extinção da ação. Nenhum indício foi apontado. De certa maneira, o advogado da União Marcos Fujinami Hamada desmente o presidente ao afirmar:
“A manifestação pessoal do presidente expressada de maneira completamente informal não pode ser tomada como um ato formal”.
É como se dissesse: o que o presidente fala não se escreve. Ou, como diria o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, “é coisa de internet”.
O julgamento está marcado para o dia 29.
Ação em Santa Catarina
Injuriados com as calúnias contra o sistema eleitoral, servidores da Justiça Federal de Santa Catarina entraram com uma ação contra o presidente que pede indenização por danos morais. Eles também cobram explicações.
O roteiro é parecido com o anterior, mas ainda não tem data para julgamento. O advogado da União Dauton Luis de Andrade também não apresentou nenhuma prova e pediu a extinção da ação.
Ele argumenta que o ataque à democracia de Bolsonaro, ao minar a confiança no voto, foi feito de “maneira completamente informal”.
Outros argumentos são curiosos: as falas de Bolsonaro “não externaram a vontade da administração pública”; sua declaração não deve ser “atribuída como uma manifestação do Estado”; “os comentários pessoais do Presidente (…) não são passíveis de gerar obrigações e direitos para a Administração Pública”
Ação no Tribunal Superior Eleitoral
Com base nas declarações do presidente, inclusive a que você leu lá em cima, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral cobrou uma explicação em 21 de junho.
Luis Felipe Salomão deu 15 dias para Bolsonaro apresentar provas. Como o TSE entrou em recesso, o prazo foi estendido até agosto. Até agora, nenhuma autoridade pública se pronunciou.
Apuração realizada, o blog faz algumas reflexões. O que esperar de Bolsonaro?
Quem espera por alguma revelação bombástica vai se decepcionar. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho 03, já admitiu em 17 de maio que não há prova alguma.
O raciocínio, com o perdão da palavra, foi explicitado em uma sessão no Congresso.
“Da mesma maneira que nós não temos como comprovar que houve fraude, o outro lado também não tem como comprovar que não houve fraude.”
Com esse lampejo de genialidade, Eduardo Bolsonaro inaugurou o ônus da falta de prova.
É a teoria pela qual se prova que algo está errado justamente porque não há nada de errado a provar.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: G1 Paraíba