A tensão entre o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), e o presidente Jair Bolsonaro está longe de acabar. Embora aliados tentem colocar panos quentes na situação, caso do deputado paraibano Wellington Roberto, Ramos não está disposto a cessar as críticas ao presidente. Ontem, Ramos afirmou que é preciso estabelecer um limite a Jair Bolsonaro. Para ele, o presidente não respeita ninguém, nem mesmo as instituições, exemplo da Câmara dos Deputados.
“A hora de reagir é agora. A Câmara precisa demarcar uma linha no chão de até onde ele pode ir”, afirmou Ramos em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, publicada na terça-feira (20). “Se não fizermos isso, Bolsonaro vai avançar e marchar sobre a democracia”.
Ramos e Bolsonaro têm tido confrontos públicos depois da aprovação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que destinou R$ 5,7 bilhões para o Fundo Eleitoral. O valor vem sendo duramente criticado e o presidente anunciou que irá vetar. Com o aumento da tensão, Ramos pediu acesso à cópia do “superpedido” de impeachment contra Bolsonaro. Segundo o deputado, se ele estiver em algum momento no comando provisório da Câmara, ele irá analisar se dá início ao processo.
Somente o presidente da Câmara pode decidir pela abertura do processo. Arthur Lira (PP-AL) tem segurado a análise dos pedidos afirmando que não há motivos concretos ou vontade política e mobilização social suficientes para deflagrar um processo de impedimento do presidente da República neste momento. Ramos, porém, pode assumir o comando da Casa em situações como viagens de Lira ao exterior, afastamento por doença ou caso ele assuma a Presidência da República temporariamente na ausência de Bolsonaro e Mourão.
“Uma coisa é dizer se sou a favor ou contra. Outra é a minha avaliação se, enquanto no exercício da presidência, posso ou não tomar essa decisão. Existem indícios”, afirmou. Entre os indícios citados por Ramos estão as falas de Bolsonaro sobre as eleições e a participação de atos que pediam o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal). Ramos também afirmou que Bolsonaro “é absolutamente inepto e não tem a menor condição de governar o país”. Mas o deputado também afirmou que “não existe recall” do presidente por “incompetência”.
Sobre a tensão entre ele e o presidente, Ramos afirmou que “se não fosse o governo Bolsonaro, não existiria fundão”. Segundo ele, o fundo eleitoral foi acordado em uma reunião entre os líderes da base do Governo e o presidente da Câmara, Lira. Também disse que em nenhum momento congressistas do Governo votaram contra o fundo.
Ramos disse ainda que ele não participou da reunião, não decidiu sobre nenhum aspecto do fundo eleitoral. “O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco [DEM-MG], me pediu para presidir [a sessão sobre a LDO] e para mim é motivo de orgulho dirigir o Congresso do meu país”.
Segundo ele, quando o presidente falou contra o fundo eleitoral proposto na reunião de líderes da própria base, ele ficou surpreso. Nesse momento, ele diz que entrou em contato com Lira. “Eu não queria que ele comprasse briga por mim, mas eu achava que ele tinha que dizer que eu não tinha me afastado nem um milímetro do regimento e nem um milímetro do que havia sido acordado pelos líderes, sob a coordenação do governo”. Lira não fez nenhuma declaração nesse sentido.
“O que algumas pessoas não perceberam é que eu sou a vítima da vez e que o bote dele é contra todos”, afirmou Ramos. “Hoje sou eu, ontem foi Joice Hasselmann [PSL-SP], anteontem foi Alexandre Frota [PSDB-SP] e, recentemente, foi a Luisa Canziani [PTB-PR]. Se não reagirmos, amanhã será Arthur Lira e a Câmara dos Deputados inteira”.
Fonte: Poder360
Créditos: Polêmica Paraíba