Em ao menos dez Estados, sete dos quais no Nordeste, os atuais governadores de segundo mandato deverão renunciar em abril aos executivos estaduais se resolverem concorrer a outros mandatos, como sinalizam as projeções. Essa situação não afetará o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), que foi eleito em 2018 e somente em outubro do próximo ano disputará a reeleição, sem precisar desincompatibilizar-se, passando o cargo à vice-governadora Lígia Feliciano (PDT). Em regra, os que concluirão mandatos executivos ambicionam concorrer ao Senado ou à Câmara Federal, mas isto vale, principalmente, para os que são considerados bem avaliados.
Uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” cita que em face das eleições vindouras os candidatos à presidência da República poderão encontrar uma configuração diferente da atual no cenário dos palanques regionais onde buscarão apoios e votos, mediante a ascensão de vices de partidos e alinhamento eleitoral diferentes do titular. Isto equivale dizer que, na prática, os mandatos ‘tampão’ poderão mexer com os acordos regionais no período da campanha eleitoral. O Nordeste é apontado como região estratégica na campanha presidencial, responsável por 17% dos votos na eleição de 2020, e onde candidatos do PT ao Palácio do Planalto geralmente registram maior concentração de votos. Nem todos os gestores que estarão na iminência de renunciar tratam do tema abertamente, mas, nos bastidores, aliados e correligionários da maioria deles admitem que o Parlamento é o caminho natural para quem está no segundo mandato consecutivo e com bom índice de aprovação.
O único dos dez Estados onde o vice é do mesmo partido que o governador é o do Piauí, onde Wellington Dias (PT) vai disputar o Senado e deixar a vaga para a petista Regina Souza. Mas o Estado mais emblemático é o do Maranhão. O governador Flávio Dino, que recentemente deixou o PCdoB e se filiou ao PSB, avisou que vai renunciar para disputar o Senado, e quem assumirá em seu lugar é Carlos Brandão, do PSDB. Dino já foi tratado como presidenciável mas hoje está afinado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por sua vez, Brandão é próximo ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vai disputar as prévias tucanas para indicação de candidatura à presidência da República. Outros Estados potencialmente problemáticos para o PT são o Ceará e a Bahia, ambos governados pela sigla.
Reeleito em 2018, Camilo Santana, do Ceará, ainda não definiu seu futuro, mas se decidir tentar uma vaga de senador terá que deixar a administração nas mãos de Izolda Cela, do PDT. “Izolda é militante nossa e vai dar palanque ao Ciro Gomes”, já alertou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Enquanto isso, na Bahia, o vice de Rui Costa é João Leão, do Progressistas, legenda do Centrão, que hoje dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro. No plano local, a legenda está alinhada ao mesmo tempo com Costa e o grupo de ACM Neto (DEM, que comanda a prefeitura de Salvador. Em 2002, ACM Neto planeja disputar o governo estadual e deverá ter o senador petista Jaques Wagner como adversário. “O fato de um governador apoiar um candidato presidencial tem um peso enorme, que é a máquina”, avalia o cientista político Túlio Velho, da Fundação Joaquim Nabuco (Recife).
Túlio Velho ressalta também: “Com a caneta na mão, o chefe do Executivo tem um espaço enorme nas administrações municipais e capacidade de aglutinar. O governador tem muita relação com o poder local”. Em Pernambuco, lembra o “Estadão”, o governador Paulo Câmara, do PSB, não tornou pública sua decisão pessoal no próximo ano, mas sinalizou para aliados que vai disputar o Senado. Nesse caso, sua vice, Luciana Santos, do PCdoB, assumiria o governo por oito meses. O PCdoB está na órbita de Lula, mas o PSB ainda resiste em subir no palanque do ex-presidente e mantém diálogo com Ciro Gomes, do PDT. Na cena regional, PT e PSB têm uma relação conturbada marcada por rompimentos e atritos. “A expectativa de poder fala mais alto e o PSB se aproxima de Lula. Mas se o partido se alinhar ao Ciro, isso iria gerar muita tensão para Luciana Santos, caso ela assumisse o governo”, afirma o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco.
Em Alagoas, se deixar o cargo para disputar o Senado, Renan Filho (MDB) será substituído pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Vítor (SD), porque, em 2020, o vice-governador Luciano Barbosa foi eleito prefeito da cidade de Arapiraca. Assim, o filho do relator da CPI no Senado Federal deixaria o governo para um deputado ligado ao presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, do Progressistas de Alagoas, aliado do presidente Jair Bolsonaro. Embora algumas desincompatibilizações de governadores atuais possam mudar cenários de alianças regionais para o Palácio do Planalto em 2022, interlocutores de candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) consideram que o segundo turno possibilitará uma maior homogeneidade nos apoios, reforçando substancialmente palanques que se enfrentarão. Lula da Silva, inclusive, atento a mudanças pontuais em regiões estratégicas para a campanha, vem abrindo pontes não apenas com legendas de esquerda mas com partidos do centro conservador, a fim de alicerçar melhor o seu projeto ambicioso de voltar, pelo voto, ao Palácio do Planalto.
Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba