Advogando em Nome da Vida

Bruno Filho

Todas as vêzes que passo pela esquina de João Domingos com Epitácio Pessoa, e acontece todos os dias, continuo me perguntando como podem ter acontecido dois graves desastres naquele local que originaram mortes, senão por força de crime. Nunca, na minha opinião catálogá-los como acidente. Não foram acidentes e não devem ser tratados como tal.

No caso da família Ramalho, a justiça entendeu que não e condenou o réu à prisão, aliviando o clamor de justiça que tomou conta de toda a opinião pública. No caso da Defensora Pública Fatima Lopes, o julgamento mais uma vêz foi adiado, em virtude de outros argumentos da defesa do réu que foram aceitos. Não vou escrever e opinar sobre decisões judiciais, pois não me cabe.

Quero escrever sobre o que aconteceu no programa que apresento e que recebeu a visita de um jovem, extremamente educado, que eu não conhecia pessoalmente, e de uma personalidade que me impressionou muito. Apenas uma rapaz que acabou de sair da adolescência, mas que entre outras qualidades inerentes, percebe-se que o destino “marcou”.

Trata-se de Davi, filho da Defensora, que foi ao programa para falar sobre as expectativas do julgamento e da ânsia da família e amigos por justiça. Afinal, esse caso vem sendo adiado por inúmeros motivos e a cada dia cresce a angústia daqueles que estão envolvidos com o problema diretamente. Imaginem como deve raciocinar o filho da vítima.

Advogado, ele usou de argumentos jurídicos para tratar de alguns aspectos do caso, porém no fundo de seus olhos, atrás de um par de óculos, percebi o quanto de tristeza existia nas palavras proferidas. Ali na minha frente estava um advogado ? sim, estava sem dúvida. Mais do que isso contudo, ali na minha frente estava um filho…como tantos outros filhos.

Que forma dura de amadurecer. Não sei nem quando o rapaz formou-se na Universidade. O que tenho certeza, é que o acontecido em Janeiro de 2010 marcou profundamente a vida dele. Não se comenta nem o fato de ser oriundo de uma família de juristas, claro que isso faz parte. O que quero deixar claro é que o episódio para ele foi muito mais contundente do que 1 milhão de provas de avaliação.

Davi está advogando em nome da vida, do nome da família, e tem certamente que advogar em nome da justiça para o qual foi preparado. Amadurecer dessa maneira é importante profissionalmente, mas deve doer muito. Eu que tenho filhos, confesso que me emocionei. E posso imaginar o que deve passar pela cabeça do simpático rapaz.

Colocando-me no lugar dele, imaginei-me brigando contra aqueles princípios que devem ter-lhe ensinado nos bancos da Faculdade. O quê considerar ? O que aprendeu, ou o que sente o seu coração ? Difícílimo para uma pessoa apenas começando a vida em todos os sentidos , inclusive profissionalmente. Muito terá ainda pela frente, não sei se partirá para o Direito Criminal. Se assim for, mais ainda.

Tudo isso se resume por uma palavra proferida que marcou. Justiça. Essa pequena palavra resume tudo, que ela seja feita custe o que custar. Teremos um momento em que os recursos e atestados não serão mais utilizados e o julgamento acontecerá. Neste dia tenho certeza que o ainda quase imberbe Davi aprenderá muito mais. E enxergará um novo mundo à sua frente.

Tenho certeza que sua mãe, aonde estiver, e imagino num lugar aonde as qualidades e conceitos se sobrepõem aos malefícios, deve estar muito orgulhosa do filho, pois além de tudo ele demonstra segurança e postura para tratar com educação um caso tão triste. Que possa, e não sei se é possível, orientar com sua sapiência os passos do filho.

Agora eu sei porque Dra.Fatima está sorrindo naquela foto que foi colocada na esquina citada. Aquele sorriso entre outras coisas é de alegria. Por ter deixado um legado nessa terra, foi isso que transpareceu ao meu ver nestes poucos minutos de contato que tive com o Davi. São coisas que a profissão de jornalista permite. Conhecer personagens dos mais diversos e aprender todos os dias.

Bruno Filho, jornalista e radialista, que mesmo trabalhando diariamente e há muitos anos, sempre aprende…ainda bem.

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