'a educação modifica vidas'

Jovem que estudou em casa sem energia elétrica, passa em medicina na UFRB: "Um sonho se concretizando"

Matheus de Araújo Moreira Silva, de 25 anos, quase atingiu a nota máxima na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 com 980 pontos. As aulas do tão sonhado curso de medicina começaram na segunda-feira (28), inicialmente de forma remota.

O jovem morador de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, que estudou em uma casa simples, emprestada da amiga, sem energia elétrica e internet, foi aprovado em medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) após quatro anos de preparação.
Matheus de Araújo Moreira Silva, de 25 anos, quase atingiu a nota máxima na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 com 980 pontos. As aulas do tão sonhado curso de medicina começaram na segunda-feira (28), inicialmente de forma remota.
“Para mim foi surreal, foram oito anos fazendo Enem. Há quatro anos que eu tento fazer medicina, então é um bom tempo estudando”, disse em entrevista ao G1.

Matheus de Araújo Moreira Silva fez o processo seletivo da UFRB por quase um mês. Agora, o jovem vai realizar o maior sonho: será o primeiro médico da família e da comunidade quilombola da qual faz parte.
“Minha família e minha comunidade quilombola de Antônio Cardoso (cidade onde nasceu) estão super felizes, porque é o primeiro médico da família, então eles estão em êxtase, em festa, por isso tudo, porque eles viram o meu esforço durante esse período todo. Estão muito, muito alegres”, disse.

“Eu só vou acreditar quando passar essa pandemia e eu puder me mudar para Santo Antônio de Jesus, que é onde tem o polo que eu vou fazer Medicina”, contou.

Com a aprovação desejada, Matheus pensa em conseguir formas de se manter no curso e conseguir se formar. A primeira estratégia pensada foi a realização de uma “vaquinha” virtual. Ele também procura um estágio para conseguir uma fonte de renda.

“Eu pretendo agora montar uma vaquinha para a manutenção do curso até eu conseguir uma residência universitária e, nesse momento que eu vou ter aulas remotas, quero achar um horário para eu conseguir um estágio, para conseguir um dinheiro e me manter”.
Entretanto, os problemas futuros, embora pensados agora, ficam em segundo plano, quando o jovem lembra que vai lutar para salvar vidas.
“Eu estou bastante honrado em poder fazer o curso que eu irei possibilitar mudanças de vida de várias pessoas. É um sonho se concretizando”, afirmou .

Sonho realizado

Estudante de escola pública, o jovem sempre desejou estudar medicina desde que concluiu o ensino médio, em 2013.
Em 2015, ele foi aprovado no curso de enfermagem na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).
No entanto, depois de dois anos ele trancou a faculdade, o que ele considera uma “uma decisão da vida”. A partir de 2018 decidiu se dedicar aos estudos para passar em Medicina.
Desafios com ajuda de uma amiga

O jovem, morador de um bairro periférico de Feira de Santana, filho de pais analfabetos, precisou superar algumas barreiras para seguir a carreira que desejava. Matheus estudava na biblioteca municipal da cidade, mas com a pandemia, o local precisou ser fechado.
Ele parou os estudos por um período. Matheus contou que em casa, com os pais e mais quatro irmãos, não era possível se concentrar nos estudos. Foi aí que entrou uma ajuda fundamental.
Em julho do ano passado, uma amiga de Matheus emprestou uma casa simples para que ele pudesse estudar. Porém, o local não tinha energia elétrica e ventilação adequada. Além disso, o novo espaço não havia internet. Ele precisou assinar um pacote de internet pelo celular.
Para o Enem, Matheus estudou sozinho, cerca de seis horas por dia, de segunda a sexta, e também nos finais de semana, por meio de apostilas e videoaulas online.

Há cerca de dois anos, ele passou a dar aulas de reforço escolar para pessoas do próprio bairro, para gerar renda e pagar as apostilas e plataformas de preparação para o Enem.
Com a pandemia dando sinais de que não iria passar, o jovem passou a estudar de máscara, mesmo sozinho na casa emprestada, para simular o cenário encontrado pelos candidatos no dia da realização da prova.

Ao G1, em abril deste ano, Matheus Silva foi enfático ao ser questionado sobre os planos caso não passe em medicina: “O ano da minha aprovação é esse”.
Na oportunidade, ele também chegou a lançar uma “vaquinha” virtual para arrecadar dinheiro para comprar um notebook e outros materiais de estudos. Após a repercussão da reportagem, o jovem ganhou o objeto desejado por meio de doação.
“Você tem que acreditar nos seus sonhos, porque se você não acreditar, ninguém vai acreditar. Tem uma frase que sempre utilizo: a educação modifica vidas, assim como Jesus modifica o nosso interior. Focar, acreditar e ter fé, que em algum momento, a vitória vai chegar”, disse na época, Matheus.

 

Fonte: POLÊMICA PARAÍBA
Créditos: G1 GLOBO