De norte a sul, em grandes e pequenas cidades, milhares de brasileiros saíram às ruas nos mais de 400 atos de manifestações do “Fora Bolsonaro!” neste dia 19 de junho de 2021, um sábado de outono cinzento e frio, quando o Brasil chegou à marca das 500 mil vidas perdidas para a pandemia, uma trágica coincidência.
Foi a segunda grande manifestação popular contra Bolsonaro em menos de um mês, um grito de libertação e esperança do povo brasileiro depois de passar quase um ano e meio sofrendo em silêncio as consequências dos desmandos e das omissões de um governo negacionista, que boicotou as vacinas enquanto pode e preferiu oferecer toneladas de cloroquina, e é até hoje contra o uso de máscaras e o distanciamento social, na contramão das autoridades sanitárias de todo o mundo.
Ainda esta semana, em sua livre semanal, o presidente teve a coragem de colocar em dúvida a eficácia das vacinas e defender a “imunidade de rebanho” como a melhor forma de combater a pandemia. Ou seja, você precisa pegar o vírus para se salvar da doença.
O tal “gabinete paralelo” montado no Palácio do Planalto, sob o comando do presidente, continua mandando no Ministério da Saúde, mesmo depois de ser desmascarado pela CPI da Covid, que está mostrando ao Brasil e ao mundo que aqui houve uma matança programada.
Quantos destes 500 mil brasileiros não precisariam ter morrido? Quantos mais ainda irão morrer?
Se desde o início da pandemia, o governo federal não tivesse menosprezado a gravidade da doença e assumido a coordenação nacional do combate à pandemia, convocando médicos e cientistas em lugar de palpiteiros interessados como os doutores de Bolsonaro, certamente hoje muitas famílias não precisariam ir aos cemitérios para velar os seus mortos.
Ainda que tomando todos os cuidados, milhares de brasileiros perderam o medo e se uniram nas ruas para dar um basta a tantas barbaridades _ e esse é o fato político mais importante desde o início da pandemia.
Por mais que queira negar a dimensão desses protestos e fazer comparações infantis com as motoceatas do capitão, daqui para a frente o governo saberá que o país ainda tem um povo com vergonha na cara e coragem para mudar o seu destino, que não é gado para ser tangido sem tugir ao matadouro.
Não haverá propaganda oficial nem dinheiro público correndo a rodo nos palácios e gabinetes capaz de mudar a história de horror que vivemos nestes tempos sombrios, em que a ignorância venceu a ciência e as mentiras superaram os fatos.
Quem foi às ruas é gente de todas as gerações, etnias, gêneros, partidos e classes sociais, das capitais e das cidades do interior, e até do exterior, que não perderam a esperança de acabar com esse pesadelo e resgatar nosso orgulho de ter nascido aqui.
Em São Paulo, com suas bandeiras de todas as cores, máscaras e faixas pedindo impeachment, bicicletas em lugar de motos, muitos jovens e até crianças com suas famílias, a grande manifestação se espalhou por toda a avenida Paulista.
Só não chamou a atenção da Globo News, que preferiu ouvir seus comentaristas no estúdio em lugar de repórteres nas ruas e demorou para entrar ao vivo. A CNN, que transmitiu por horas ao vivo a motoceata bolsonarista da semana passada, também limitou-se a dar flashes durante o dia. A TV Globo continuava passando o Caldeirão do Huck.
Como na campanha das Diretas Já, no século passado, o povo saiu na frente e a televisão brasileira vem a reboque, quando já não dá mais para esconder o que acontece.
Não queremos mais ser um país pária, que banaliza as mortes e nos faz passar vergonha nos fóruns internacionais, com um presidente que chegou a fazer propaganda da cloroquina dos seus amigos em reunião do G 20.
Bolsonaro e seus generais um dia vão pagar por seus atos, mas ninguém trará de volta as vidas perdidas e os sonhos desfeitos.
No final da tarde, a manifestação já ocupava toda a avenida Paulista e muita gente continuava chegando, apesar da ameaça de chuva, seguindo rumo ao centro da cidade.
Hoje, o governo negacionista e genocida começou a chegar ao fim. A civilização vencerá a barbárie e a vacina vencerá a cloroquina. Vai ser uma festa.
Vida que segue, para quem sobreviveu, agora com mais esperança de que todo o mal um dia acaba.
Fonte: POLÊMICA PARAÍBA
Créditos: UOL