Ainda criança aprendemos inúmeras palavras nas quais nunca refletimos de qual a origem delas. Quando pequenos, é compreensível, afinal apenas reproduzimos o que ouvimos nos contextos em que vivemos. No entanto, com o tempo é necessário pensarmos sobre o que falamos e sobretudo aquilo que ensinamos para novas gerações.
A Língua Portuguesa está cheia de palavras e expressões que carregam consigo a dor e o sofrimento do povo negro, de mulheres, da população LGBT e um passado marcado pela desvalorização de vidas humanas. Contudo, é preciso se atentar ao fato de como a utilização de algumas palavras afetam diretamente a vida e os sentimentos das pessoas.
Na década de 70, durante a Ditadura Militar, o brilhante compositor Chico Buarque relatou em forma de carta a situação de terror que o Brasil vivia. Mesmo passando por um momento que beirou o terror da ditadura, fosse hoje, Chico certamente não diria mais que “A coisa aqui tá preta” .
Outro brilhante compositor brasileiro, Belchior não cantaria que “O homem é para a mulher”. Essas expressões fizeram parte do dicionário português por muito tempo, e não retiram o brilho e a genialidade de tais composições, mas hoje é momento de desconstrução.
No dicionário não faltam palavras para substituir as que comumente utilizamos e, mesmo sem querer, alimentamos o preconceito. No século passado, até haviam desculpas para reproduzir o vocabulário sem reflexão. Mas hoje, com a abundância de informações e o crescimento dos movimentos sociais, não há mais justificativa para dar espaço ao preconceito.
Veja abaixo, uma lista de palavras e expressões para riscar do nosso vocabulário e sugestões para nos adaptarmos. Vale lembrar que essas são só algumas e que o ideal é seguir o velho ensinamento: Pense antes de falar.
Mulata
O substantivo vem de “mula”, animal derivado do cruzamento de um burro com uma égua. Era como as filhas bastardas de homens brancos, geralmente Senhores do Engenho, com mulheres negras, gera.
Doméstica
A palavra, usada hoje para retratar secretárias do lar, vem do termo “domesticado”, que é tudo aquilo que o homem pode domesticar, incluindo animais. Surgiu em meados do século XVI, da necessidade de patrões brancos encontrarem um termo para classificar as escravas negras que trabalham para eles e eram domesticadas através da tortura.
Denegrir
Segundo o dicionário Michaelis, a definição de denegrir é ficar ou fazer ficar escuro, ou manchar a reputação. O termo é ofensivo porque atribui um caráter negativo a algo que seja negro. Você pode substituí-la por sinônimos como difamar ou caluniar.
Da cor do pecado
A expressão é usada erroneamente como elogio, principalmente por pessoas brancas. O termo propaga a ideia da época da escravidão de que o corpo negro é sensual e sexualizado, e atribui essa cor de pele a algo pecaminoso (pois eram com as escravas que os Senhores de Engenho se divertiam na cama; mulher negra serve para diversão, só para o Carnaval).
Criado-mudo
O termo usado para nomear o móvel que fica ao lado da cama surgiu de uma das tarefas que os escravos eram obrigados a realizar: segurar objetos para os seus senhores. Por serem proibidos de falar e conversar, eram chamados de mudos. Substitua urgentemente por mesinha de cabeceira.
A coisa está preta
Quer dizer que a coisa está ruim, perigosa, complicada – porque, afinal, está preta, e nada que é preto pode ser bom. É uma expressão racista para nunca mais usar.
Judiar
É um termo antissemitismo, ou seja, de preconceito contra judeus. A palavra nasceu, inclusive, com o sentido de maltratar um judeu. Evite também judiação e judieira.
Homossexualismo
Tem caráter de doença. Vai falar sobre orientação sexual? Use homossexualidade.
Dia de branco
A expressão nasceu em alusão aos oficiais da Marinha que vestiam seus uniformes brancos para voltarem ao trabalho na segunda-feira. Contudo pode sim se associar ao preconceito de que “negro é preguiçoso” ou que “negro não trabalha direito” – ainda resquícios do período da escravidão.
*Com informações de Abril, O Globo, Descontruindo
Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Polêmica Paraíba