Há quem diga que as articulações eleitorais para 2022 ainda não começaram, justificando a pandemia como prerrogativa. No entanto, sabemos que a articulação nunca parou. Na CPI da Pandemia o processo também é político e isso não anula o que as investigações estão mostrando. Mas na batalha política, a divergência entre o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e o senador Eduardo Braga (MDB-AM), na convocação do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), mostra como as disputas regionais influenciaram a queda de braço na comissão que culminou na convocação de mais 8 governadores.
O comparecimento forçado dos gestores regionais é um pleito dos governistas, que querem ampliar as investigações para além do governo federal, e não era consenso no chamado G7, grupo que reúne os senadores de oposição e os independentes. Inicialmente, o grupo chegou a tentar um acordo para não colocar em votação os requerimentos envolvendo governadores e prefeitos.
Porém, Aziz e Braga divergiram. Os dois são ex-governadores do Amazonas e possíveis candidatos ao cargo em 2022. O presidente da comissão era um dos que não queria chamar Lima, mas Braga pressionou para que o requerimento fosse votado. Aziz, então, propôs uma saída para diluir a presença do governador. Apresentou a ideia de que se convocassem, então, os governadores dos Estados onde houve operação da Polícia Federal ou investigação do MPF (Ministério Público Federal) para investigar mau uso dos recursos da União no combate à pandemia.
Governadores de 18 Estados e do Distrito Federal, no entanto, pediram ao STF (Supremo Tribunal Federal) que barre as convocações feitas pela CPI. Eles alegam que concordariam em ser ouvidos na condição de convidados. Nesta segunda-feira (31), a relatoria da ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) foi sorteada para a ministra Rosa Weber. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), coordenador do assunto da Covid-19 no Fórum de Governadores, disse que já está pedindo uma audiência dos 19 gestores e dos Procuradores-Gerais dos Estados com a ministra do Supremo.
Se a Corte mantiver a decisão do Senado, os governadores devem enfrentar uma exploração política e eleitoral de suas gestões. O próprio Dias, por exemplo, será questionado pelo senador Ciro Nogueira. O presidente nacional do PP deve disputar o governo do Estado no ano que vem.
O governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), também irá encarar o senador Marcos Rogério (DEM), que tem planos para uma futura candidatura.
Já o senador Jorginho Mello (PL), pré-candidato ao governo de Santa Catarina, poderá usar a CPI para confrontar seus possíveis adversários nas urnas, o governador, Carlos Moisés (PSL), e a vice-governadora, Daniela Reinehr (sem partido).
Outro possível confronto é o do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), contra o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas. Ele não é membro da CPI, mas compareceu à reunião deliberativa em que os titulares votaram os requerimentos envolvendo governadores para defender a convocação do potencial adversário nas urnas.
A convocação de Ibaneis foi motivo de bate-boca entre o relator da CPI e correligionário do governador, Renan Calheiros (MDB-AL), e Izalci. O alagoano o acusou de motivação político-eleitoral para querer convocar o chefe do Executivo do DF, enquanto o líder do PSDB respondeu que Renan só estava se insurgindo por se tratar de um colega de partido.
Divisão interna
Após o racha no G7, o relator da CPI disse que o grupo foi formado para eleger a cúpula da comissão e que não houve, até então, outras oportunidades de testar a união de seus integrantes. O vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por outro lado, disse que é importante a “volta do G7”e que acredita que o grupo seguirá unido.
Para evitar novos embates e quebras de acordos, os senadores do grupo irão pleitear junto a Aziz para que as próximas deliberações sejam decididas no voto registrado e não mais em votações simbólicas.
Veja, abaixo, os casos em que há governadores convocados dos mesmos Estados de senadores que integram a CPI ou têm comparecido às sessões:
Amapá
Governador: Waldez Góes (PDT)
Senador: Randolfe Rodrigues (Rede), vice-presidente da CPI
Amazonas
Governador: Wilson Lima (PSC)
Senadores: Omar Aziz (PSD), presidente da CPI, e Eduardo Braga (MDB)
Distrito Federal
Governador: Ibaneis Rocha (MDB)
Senador (não membro): Izalci (PSDB)
Pará
Governador: Helder Barbalho (MDB)
Senador: Jader Barbalho (MDB)
Piauí
Governador: Wellington Dias (PT)
Senador: Ciro Nogueira (PP)
Rondônia
Governador: Marcos Rocha (PSL)
Senador: Marcos Rogério (DEM-RO)
Santa Catarina
Governador: Carlos Moisés (PSL)
Senador: Jorginho Mello (PL)
Fonte: Poder360
Créditos: Polêmica Paraíba