“Me senti um lixo”. Foi assim que uma funcionária definiu a situação que viveu na empresa em que trabalhava, no Ceará. Insatisfeito com o resultado que sua equipe de vendas apresentava, um gestor identificado como Yago Monteiro promoveu uma indicação com votos abertos entre doze funcionários da a empresa de turismo, em Fortaleza. Ao final da dinâmica inspirada em uma formação de paredão do Big Brother Brasil, três deles seriam demitidos.
O caso foi parar na Justiça do Trabalho do Ceará, que condenou a empresa de turismo a pagar indenização por danos morais de R$ 14 mil a uma consultora de vendas que foi demitida depois de ser a mais votada pelos colegas de trabalho.
“Depois de atender entre 5 e 6 clientes, o gestor reuniu todos e os levou para uma antessala, alegando que eles não haviam efetuado nenhuma venda e que eles só estavam preocupados em comer; informou que naquele exato momento ia fazer um ‘Big Brother’ e mandou escolher um vendedor e um ‘fechador’ para votar para sair da equipe; que naquele momento o depoente ficou constrangido e se recusou a votar”, registrou o juiz Ney Fraga Filho na fundamentação da sentença.
Em entrevista à TV Globo, a consultora de vendas, que não quis ser identificada, disse que só lhe coube aceitar a situação e que até hoje precisa lidar com o “trauma”.
Me senti um lixo, me senti ineficiente, não tive nem a oportunidade de defesa, então só pude aceitar. Não posso dizer que não tenho traumas do que eu vivi, mas tenho que ser mais forte, não posso deixar que isso me atrapalhe”
Ela e os colegas de trabalho foram contratados pela empresa Somos Case Gestão de Timeshare e Multipropriedade para vender pacotes em acomodações de luxo em nome da empresa MVC Férias e Empreendimentos Turísticos e Hotelaria. Ambas são sediadas na capital cearense.
A dinâmica organizada pelo gestor durou cerca de sete minutos, segundo a TV, e foi gravada por uma das funcionárias presentes. “Sabe o que eu fico impressionado? Desde ontem nosso resultado foi uma m****, e vocês ficam preocupados com comer. Pra vestir essa p**** dessa farda aqui tem que merecer”, disse Yago Monteiro.
Então o que vocês vão fazer agora… Vão escolher um liner (consultor de vendas) e um closer (fechador, que negocia os valores) para sair da equipe e falar o porquê. Se não tiver 4 ou 5 vendas a gente vai fazer outro no final”
O primeiro funcionário foi demitido logo no início por se negar a votar em um colega de trabalho. Em seguida, os demais elegeram a consultora de vendas que estava há cerca de um mês na empresa e ainda não havia feito nenhuma venda.
“Além de ser responsabilidade dele e ele ter atribuído isso aos membros da equipe, ele simplesmente se sentiu ofendido porque eu não votei e achei aquilo injusto”, disse o primeiro funcionário a ser demitido, que não quis se identificar à TV.
Durante a dinâmica, o gestor ainda diz que uma funcionária era “burra” por votar em quem ela não tinha afinidade.
Isso aqui não é Big Brother, não. Isso é aqui é a vida real. Se você votar em quem você tem afinidade, você tá sendo burro! Você tem que votar em quem tira dinheiro da p**** do seu bolso”
Procuradas pela reportagem, as empresas negaram ter vínculo empregatício com a funcionária e informaram que irão recorrer da decisão judicial. Já o gestor Yago Monteiro não retornou às diversas ligações da produção do programa.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba