Histórias: Futebol e Avião (Parte II)

Essa é no mínimo hilária.E não aconteceu com jogadores, aconteceu com os amigos da imprensa, muitas vêzes “viajados”,mas que principalmente no passado guardavam ainda aquele provincianismo próprio dos que tinham o dom dado por Deus de falar ao microfone, mas que não eram catedráticos em cultura e experiência de vida.
Ano de 1958.Um antigo DC-3 decola do Brasil, em direção à Suécia, levando um grupo de jornalistas esportivos que fariam a cobertura da Copa do Mundo de Futebol.Para alguns a primeira viagem internacional, para outros a primeira viagem de avião de suas vidas e que por sinal era longa  demais.
Naquela tradicional rota que saía do Rio de Janeiro, passava por Recife, depois atravessava o mar em direção á Lisboa,como segunda parada.Na sequencia Londres , para  então poder seguir em direção de Estocolmo.Viagem que na época durava quase 24 horas.
A certa altura,já de noite e em cima do Oceano Atlântico, o avião começa a balançar muito,uma turbulência gigantesca que assusta a tripulação.Os passageiros, na sua maioria dormindo,permanecem quietos.Os jornalistas na sua maioria fingindo que não estava acontecendo nada,também quietos, para não dar o “braço á torcer”.
Bancos triplos, no meio de um deles, viajava um simpático narrador da Radio Sociedade da Bahia, com o sobrenome Teixeira,salvo engano da minha parte.Muito conhecido e famoso na sua terra,espirituoso, e como bom baiano de uma fé acima de qualquer precedente e inabalável.
Num rápido movimento, saca de seu bolsinho da calça, todos viajavam de terno completo,uma imagem do Senhor do Bonfim, e a coloca em seu joelho,começando a rezar imediatamente , sussurando para não chamar a atenção de ninguém.O avião com as luzes apagadas.
O companheiro jornalista que está a seu lado,entre-olhos,vê a cena e cruza as mãos na posição milenar de quem vai orar.O que está do seu outro lado, espia aquela cena e tremendo de medo faz a mesma coisa,cruza os dedos e cada um á sua maneira começa a apelar ao Criador.
A turbulência cada vez pior, as aeromoças e comissários procuram acalmar os passageiros e acendem as luzes para transmitir um tom de tranquilidade a todos.Neste momento já eram 8 rezando,pois os 3 de trás e os dois do lado passam a acompanhar aquela “mini-procissão”.
Teixeira então,com aquela calma peculiar dos irmãos da boa terra, vira-se para o grupo e diz:” O quê vocês estão fazendo ?…” O grupo desesperado, responde quase em uníssono…”Estamos rezando também !…” O baiano nervoso e aflito retruca…
“…Rezando ? No meu santo ? O homem não está  conseguindo nem atender o meu pedido, imagina se tiver que atender o de todos vocês…” Resultado, o avião desmancha-se numa gargalhada só,o medo passa, a turbulência termina e todos chegam sãos e salvos à Suécia.
O Brasil é campeão do mundo pela primeira vêz e todos retornam com a ” Jules Rimet”.Nunca mais ouvi falar do tal Teixeira,mas aqueles que lá estiveram naquela noite nunca se esqueceram dele.A maioria esmagadora já se foi…mas as histórias ficaram, dessa apaixonante profissão que é o jornalismo.
Bruno Filho,jornalista e radialista,que imagina a cena todinha e ri muito.Saudade do contador das histórias !
Twitter:BrunoFComenta