A tolerância religiosa

Marcos Tavares

Foi preciso o humor um tanto ácido de João Agripino e seu proverbial desrespeito às convenções para que os tambores pudessem soar livremente na Paraíba. Até João, catimbó era coisa de pobre, marginal, reprimido pela polícia na maioria das vezes com violência e vandalismo. Era o resquício da intolerância da escravidão e da Igreja Católica, que não admitia outros deuses no panteão cristão. Agripino decretou o candomblé livre e as diversas nações religiosas passaram a comemorar Iemanjá em frente à sua casa no Cabo Branco, festa que o tempo transferiu para o busto de Tamandaré e hoje faz parte do calendário oficial.

Iemanjá é uma corruptela do nome Ioruba Yeyé Omo Ejá, algo que poderia ser traduzido livremente como ”mãe cujos filhos são peixes”. No culto, Ioruba Iemanjá é rainha das águas, oceanos, rios e lagoas, e ela herdou essa conotação no Brasil principalmente na Bahia, onde seu dia é comemorado a 2 de fevereiro, data que fez dela a padroeira dos pescadores e dos marítimos em geral. É uma deusa vaidosa e bela, por isso em suas oferendas vão perfumes, espelhos e escovas para que ela penteie seus longos cabelos e garanta a segurança de quem trabalha no mar, bem como uma colheita abundante de peixes.

Se a intolerância diminuiu e hoje Iemanjá é livre, muito de sua festa é visto pela população em geral como um espetáculo folclórico onde a dança dos iniciados e os apelos de pais e mães-de-santo são vistos como algo pitoresco. Na realidade, para o povo da Umbanda, é uma festa de consagração, de agradecimento, de alegria e comemoração à vida, muito embora isso fique apenas para alguns iniciados. Mas seria exigir demais de um país criado no catolicismo espanhol que houvesse mais atenção para um culto de pretos escravos que saiu das senzalas e hoje ocupa seu lugar devido na sociedade.
Gafes
A solidão do planalto central afasta gestores da realidade e faz com que eles cometam seguidas gafes ao se referir ao Nordeste. Inicialmente disseram que nosso povo “tem fé” e por isso pode esperar indefinidamente as melhorias.
Agora a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ousa afirmar que, apesar de toda a seca, ninguém passa fome na região.
Ora senhora ministra! Até o gado que come folhas está passando fome, imagine o povo acostumado a um cardápio mais seleto. Lá em Brasília a fome é só de empregos, mas aqui ela é real.


Mediocridade
A Paraíba se esmera em ficar na contramão da história e ser motivo de chacota nacional. Petistas juramentados do Estado vão receber José Dirceu para uma homenagem/desagravo e talvez até fazer pingar alguns Reais no seu bolso para ajudá-lo a pagar suas multas.
Dirceu seria hoje a última pessoa a ser homenageada por qualquer pessoa que tivesse o mínimo bom senso e igualmente o mínimo de dignidade e zelo pela coisa pública.
Pobre Paraíba!
Bondade
Nada como um fim de mandato para despertar a bondade. A Prefeitura não vai cobrar nada nem cadastrar quem quiser armar barracas na praia para o Réveillon.
Tudo de graça nessa hora de despedida.

Medalha
O deputado Luiz Couto será condecorado pela presidente Dilma Roussef. Não é por ter votado contra seu Estado e a favor do PT na questão dos royalties.
É um prêmio concedido pela luta na área dos direitos humanos.

Voando
A Polícia Militar da Paraíba compra dois helicópteros; operação que já está em fase de licitação segundo seu comando.
Será que dois helicópteros vão mesmo diminuir a violência no Estado? Não existiriam outras prioridades?

Sede
Os funcionários da Prefeitura de Campina brevemente vão passar sede. Não é a inclemência da seca. É que nenhum fornecedor quer mais vender água mineral a Vené.

Fora
O vereador Durval Ferreira deixa a rede irritado com notícias, caricaturas e outras joias postadas contra ele.
É um dos percalços da vida pública. Ela não é feita só de carros pretos e gabinetes luxuosos.

Emplacando
O PT sai na frente na Prefeitura da capital. Emplaca o irmão do senador Lindemberg Farias como procurador-geral do Município.
Um cargo de relevo que o partido ganha de primeira.
Frases…

Escolha – Sua mãe escolheu onde você nasceria. Seus filhos vão escolher onde você morre.
Jogando – Quando não se tem nada a perder, o jogo está ganho.
Usadas – A prevalecer a tese da reencarnação, todos nós usamos almas de segunda mão.