Presos apontados como integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) driblam a vigilância e produzem cachaça na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). A pinga artesanal fabricada clandestinamente pelos detentos é conhecida no sistema carcerário como “Maria Louca”.
O presídio é classificado pela SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) como unidade de segurança máxima, de alta contenção, destinada à custódia de presos de altíssima periculosidade, em sua maioria, líderes e integrantes de facção criminosa com longas penas a cumprir.
Chamada de “Supermax brasileira” por agentes penitenciários, a P-2 de Venceslau abriga desde maio de 2006 prisioneiros do alto escalão do PCC. Os principais chefes da facção criminosa cumpriram pena na unidade até fevereiro de 2019, quando foram transferidos para presídios federais.
No último dia 11, por volta das 9h30, agentes penitenciários, apoiados pelos homens do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), espécie de tropa de choque do sistema prisional, iniciaram uma revista no Pavilhão 4 da penitenciária. Logo na cela 1, os funcionários estranharam a atitude de dois presos.
Os detentos foram orientados a sair do xadrez. Ailton Lourenço Santana Lessa, 50, conhecido como Sombra do PCC, procurava distrair a atenção dos agentes, enquanto o parceiro dele, Antônio Carlos das Mercês dos Santos, 46, o Boy, tentava se livrar de algo.
Os agentes entraram na cela, sentiram forte cheiro de álcool e encontraram a bebida de cor amarelada. Era a “Maria Louca”. Os prisioneiros foram levados para o Pavilhão Disciplinar (castigo). A conduta deles foi considerada falta disciplinar de natureza grave.
No mesmo dia, agentes penitenciários também realizaram revista no Pavilhão 6. A cela 2 foi aberta e o interior dela exalava forte odor de bebida alcoólica. Sob o colchão da terceira cama os guardas encontraram, em meio a sacola de roupas, um grande volume de “Maria Louca”.
Os funcionários responsáveis pela blitz informaram à direção da penitenciária que o preso Regimar Lemos Gonçalves, 46, assumiu ser o dono da pinga artesanal. O prisioneiro também foi levado para o Pavilhão Disciplinar.
Esta não é a primeira vez que Regimar responde a procedimento disciplinar. No dia 30 de julho de 2020, ele foi acusado de cometer outra falta grave: homens do GIR disseram que o preso serrou as grades da janela da cela 311 do Pavilhão 3, saiu do local, chegou à área externa, tentou fugir e foi contido. O UOL não conseguiu contato com os advogados dos presos.
Agentes penitenciários disseram que os prisioneiros da P2 de Presidente Venceslau usam cascas de laranja, banana, maçã ou arroz cru para produzir a “Maria Louca”. “O miolo de pão é utilizado para fermentar a bebida alcoólica. O açúcar, porém, pode substituir a fermentação.
Um funcionário que pediu anonimato contou que um copo de “Maria Louca” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau custa ao menos dez maços de cigarro. “O dinheiro é proibido na cadeia e o cigarro é a moeda corrente”, explicou o agente.
A “Maria Louca” era produzida em grande escala nas décadas de 1980 e 1990 na antiga Casa de Detenção de São Paulo, no Carandiru, zona norte. Fotos da engenhoca usada pelos presos para fazer a cachaça artesanal podem ser vistas no Museu Penitenciário, também no bairro do Carandiru.
Por meio de nota, a Secretaria de Administração Penitenciária disse que, em 2021, foram efetuadas cinco apreensões da bebida na penitenciária.
“Nestes casos, os envolvidos são isolados preventivamente e, além dos devidos processos legais, são instaurados procedimentos administrativos para apurar as faltas disciplinares. Se comprovada a culpa do preso ele receberá uma falta disciplinar de natureza média”, diz a pasta.
Fonte: Uol
Créditos: Uol