Agra polemiza com Ricardo Coutinho e Cícero favorece Cartaxo

Nonato Guedes

Um cenário paradoxal marca o fim da gestão de Luciano Agra em João Pessoa e o prenúncio de instalação do governo de Luciano Cartaxo, do PT. Enquanto o alcaide que se despede polemiza com seu ex-aliado, o governador Ricardo Coutinho, sobre débitos a receber, o senador Cícero Lucena (PSDB) manteve em Brasília um encontro amistoso com Cartaxo, que o derrotou no segundo turno, e assumiu o compromisso de lutar para que verbas provenientes de emenda de sua autoria e destinadas a obras de mobilidade urbana, bem como à construção de um ginásio de esportes no bairro do Alto do Mateus, sejam liberadas no exercício financeiro de 2013, uma vez que constam do Orçamento proposto pelo Congresso para o referido período.

Cícero justificou seu gesto afirmando que considera definitivamente virada a página da disputa eleitoral travada este ano e que sua obrigação, como parlamentar, é a de favorecer os projetos de interesse da população da capital. “Desarmei o palanque desde o fechamento das urnas, e estou pronto a colaborar com a futura administração”, pontuou o parlamentar tucano, que recebeu agradecimento da parte do prefeito eleito petista pela sua atitude.

De sua parte, Luciano Agra rebateu, hoje, com veemência, as insinuações feitas pela secretária de Comunicação do Estado, Estelizabel Bezerra, sobre suposto calote por parte da prefeitura em relação a pendências financeiras. Agra (sem partido, desde que deixou os quadros do PSB), salientou que o governo deixou de repassar recursos do Detran para a prefeitura e alegou desinformação por parte da administração estadual no que diz respeito ao acerto de contas. Ele concluiu seu breve comentário sugerindo diretamente ao governador Ricardo Coutinho que “procure olhar para o seu próprio umbigo”.

O vereador Zezinho do Botafogo, do PSB, reforçou a artilharia contra o atual gestor e insinuou que Luciano Agra já está se deixando contaminar pela sensação de ostracismo diante da iminência de deixar o cargo e ficar sem espaços na mídia nem ter aliados para facilitar um virtual projeto político nas eleições de 2014. O vereador socialista frisou, em tom de ironia, que Agra começa a sentir saudades do peso da caneta, “que demite e nomeia”. E previu que ele tende a ficar isolado depois que passar o cargo ao sucessor Luciano Cartaxo.

Em meio ao fogo cruzado, o presidente do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, Rodrigo Soares, esteve no gabinete do prefeito e aproveitou para dizer aos jornalistas que a legenda continua à espera de uma definição de Luciano Agra quanto a uma provável filiação às suas hostes. Salientou que respeita o tempo de que o prefeito dispõe para tomar uma posição, avaliando o que for mais conveniente à sua situação política, mas enfatizou que há espaços disponíveis, inclusive, para Agra concorrer a um posto majoritário nas eleições de 2014.

Rodrigo Soares reiterou que o PT vai começar a construir o lançamento de candidatura própria ao governo do Estado, mirando-se no bem sucedido exemplo de retomada do protagonismo este ano em João Pessoa, com a vitória de Luciano Cartaxo no segundo turno derrotando o senador tucano Cícero Lucena. “O processo de construção de candidaturas será feito de forma democrática, como é da praxe do Partido dos Trabalhadores, consultando-se todas as instâncias de deliberação”, acentuou o presidente do PT. Agra teria sido sondado por outras legendas, e constaria na sua agenda uma conversa com o deputado Ricardo Marcelo, presidente estadual do Partido Ecológico Nacional, que supostamente teria interesse em contar com ele como reforço para a disputa de 2014. Ricardo Marcelo é cogitado como alternativa do PEN para disputar o Senado. Estará em jogo uma única vaga, a que hoje é ocupada pelo senador Cícero Lucena.