Indústria da mentira

Paulo Santos

O pleno desenvolvimento deste país dificilmente será alcançado, daqui a muitas e muitas décadas, porque a indústria que mais cresce, no Brasil, é a da mentira. É generalizada a satisfação, nos vários segmentos, em ter o engodo como referência, como algo importante nos usos e costumes.

A mentira se aprimora, por aqui, numa proporção muitas vezes superior à tecnologia. Os mecanismos de criatividade não estão vinculados diretamente ao bem estar, mas ao desejo de um enganar a outro e, o que é pior, muitos adotarem a enganação coletiva para atingirem seus objetivos.

A indústria da mentira enraizou-se neste país de tal forma que hoje não se tem sequer noção do que possa ser uma verdade. Nenhuma atividade está infensa a conviver com a mentira em suas entranhas, mesmo aquelas que pensamos serem castas e puras. Mas é na política onde isso mais se manifesta.

Quase não há exceção entre os políticos que se elegem com as mais diversas propostas e, tão logo eleitos, invertem suas perspectivas, adotam outros procedimentos, viram a casaca e passam a ser tão salafrários quanto seus similares que deixam os cargos. Eleição é festa, mas o exercício do mandato causa decepções.

Quem se der ao luxo ou ao desprazer de arquivar as propostas dos candidatos a quaisquer cargos terá uma infinidade de mentiras que não dependem de partido, de raça, de cor nem de nível de instrução dos que almejam chegar aos diversos patamares de poder. A mentira exerce um fascínio incontrolável sobre os brasileiros.

Houve uma época em que a máxima “os fins justificam os meios” esteve exageradamente em alta. Foi quando uma marca de cigarros fez do ex-jogador Gérson uma celebridade do besteirol dizendo que “o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo”. Por muito pouco o Congresso não votou uma lei consagrando esse princípio na Constituição.

Todos os setores da sociedade brasileira, sem distinção, padecem da atração pela mentira. A imprensa, as igrejas, as associações, os sindicatos, etc., estão repletos de adeptos da enganação, da sacanagem, da corrupção. Isso não é um fenômeno: é cultural.

Os que mais deviam dar exemplos são, porém, os que mais fazem uso da mentira. Mas há um aspecto que adoça ainda mais a boca dos mentirosos: a dissimulação. O fingimento é quase uma norma dos manuais de falta de ética no Brasil. Se o interessado em qualquer coisa mentir não tardará que apareça alguém para defendê-lo.

A judiação com as pessoas honestas não tem limites. Diz-se de tudo e inverte-se a ordem natural afirmando que o brasileiro tem memória curta. Não é à toa que, meses depois das posses dos políticos eleitos, faz-se enquete para saber quantas pessoas se lembram em quem elas votaram na mais recente eleição.

A mentira está por todos os lados. Os honestos, neste país, são ilhas cercadas de mentiras por todos os lados. Não se pode sequer elaborar um ranking sobre quem é mais ou é menos mentiroso. Corre o risco de qualquer sugestão soar como mentira, com o desejo oculto de prejudicar alguém. Deus nos proteja!

LENTIDÃO
Há vários dias que Carlos Dunga está com o terno engomado à espera da Assembleia Legislativa da Paraíba convocá-lo para tomar posse como deputado. O problema é que, até agora, Dunga ganhou mas não levou, ou seja, foi proclamado deputado pelo TSE, mas está sendo mais uma das vítimas da lentidão da Justiça. Dias atrás oficiou à presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Carmem Lúcia, pedindo para assumir a cadeira, mas foi informado de que deveria aguardar a publicação do acórdão. Está aguardando há mais de uma semana.

13º ESTADUAL
Funcionários da Secretaria de Administração do Estado estão debruçados sobre a folha do 13º. Tudo indica que não haverá mudança de planos: será mesmo no próximo dia 11.

ESCOLHIDO
O prefeito eleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, pode até negar, mas já tem gente convidada para o secretariado. O ungido não confirma nem desmente, mas quem o conhece sabe que a desenvoltura dos movimentos foi consequência de um convite.

NIEMEYER INESQUECÍVEL
Na primeira vez que percorri as ruas de Brasília, com um amigo paraibano, disse-lhe ter a impressão de que estava no futuro. Os traços de Niemeyer ordenam que você olhe para a Catedral, para o Congresso, para o Planalto, para o Alvorada, para todas as suas criações. Não são várias obras. É um conjunto, uma obra só. E inesquecível.