Nesta terça-feira, o Brasil ficou um pouco mais triste. Morreu Paulo Gustavo, ator, humorista, diretor e roteirista, aos 42 anos, em decorrência das complicações por covid-19, uma doença que o manteve internado desde o dia 13 de março no Rio de Janeiro. O artista engrossa a tenebrosa lista de mais de 400.000 vidas brasileiras perdidas para o coronavírus. Ele era casado há quatro anos com Thales Bretas e deixa dois filhos de um ano e meio.
Na segunda-feira, uma nota enviada pela assessoria de Paulo Gustavo informou que, depois “depois de alguma melhora”, ele “subitamente piorou” no domingo e, na segunda, sofreu uma embolia pulmonar. No boletim da equipe médica, constava que o artista chegou a acordar na tarde de domingo, “após redução dos sedativos e do bloqueador neuromuscular” e “interagiu bem com a equipe profissional e com o seu marido”. Às 21h12 desta terça-feira, porém, um novo boletim trouxe a notícia da morte.
“Em todos os momentos de sua internação, tanto o paciente quanto seus familiares e amigos próximos tiveram condutas irretocáveis”, diz o boletim. “A equipe profissional que participou de seu tratamento está profundamente consternada e solidária ao sofrimento de todos”, conclui a nota.
Durante todo o período em que esteve internado, seus familiares, especialmente sua irmã, Juliana, e sua mãe, Déa Lucia, usaram as redes sociais para pedir correntes de oração para o humorista. No dia 15 de abril, elas comemoraram com os fãs a notícia de que, pela primeira vez, o quadro de saúde de Paulo havia se estabilizado. Desde então, até esta segunda-feira, ele não havia apresentado novos sinais preocupantes.
É precisamente às mulheres da sua família, em especial, a mãe e as tias, que o artista dizia dever tudo o que conquistou. “Meu avô já falava que, por baixo daqueles vestidos, elas eram todas homens”, comentou ele, entre gargalhadas, em algumas entrevistas.
À rede de oração familiar não tardaram em somar-se os muitos colegas e amigos do meio artístico, como Tatá Werneck, Monica Martelli, Ingrid Guimarães e Juliana Paes, entre outras dezenas de celebridades, que hoje choram a perda do humorista. “Hoje a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu. Que triste é viver num mundo sem Paulo Gustavo”, despediu-se o também comediante Fabio Porchat nas redes sociais.
“Que você descanse e que Deus conforte sua mãe, sua irmã, seu marido, seus filhos, seus amigos, seus fãs. Somos todos sortudos por termos tido você”, escreveu a atriz Taís Araujo.
A atriz e comediante Tatá Werneck, uma das melhores amigas de Paulo Gustavo pediu, em uma mensagem de amor, que a morte dele não seja em vão. “Prestem atenção: não deixem essa dor ser em vão. Entendam a gravidade dessa pandemia. Usem máscara. Álcool gel. Distanciamento social. Por favor. Não deixem essa dor ser em vão. Não deixem 400 mil vidas em vão”, escreveu nas redes sociais.
Paulo Gustavo, conforme relataram seus familiares e amigos, não tinha comorbidades. Em entrevista nesta segunda-feira, a atriz Ingrid Guimarães relatou os cuidados que o amigo tomava para não se contaminar na pandemia e o susto dos amigos com a gravidade do seu caso: “O Paulo era um cara que estava completamente paranoico, estava na casa dele, na Serra, ele se cuidava muito mesmo”, disse a atriz durante o Encontro com Fátima Bernardes. “A gente nunca ia imaginar que um cara de 42 anos ia ficar grave como ele ficou”, acrescentou.
Sucesso de bilheteria
Nascido em Niterói, em 1978, Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros formou-se como comediante ao lado de muitos desses amigos, na Casa de Artes de Laranjeira (CAL). Foi ali que conheceu, por exemplo, Fábio Porchat e Marcus Majella, sucessos do Porta dos Fundos.
O primeiro sucesso de sua carreira foi também aquele que consolidou sua principal personagem, Dona Hermínia, apresentada na peça Surto. Dois anos depois, a jovem senhora dona de casa, quase sempre à beira de um ataque de nervos, engraçada e sem papas na língua —inspirada em sua progenitora— ganhou mais palco e fama com o espetáculo Minha mãe é uma peça, tornando-se depois um sucesso de bilheteria em suas três adaptações para o cinema (em 2013, 2016 e 2019, respectivamente), além de ser uma das personagens do elenco do canal Multishow. A trilogia de Dona Hermínia vendeu cerca de 22 milhões de ingressos e o terceiro e último longa-metragem detém a maior bilheteria de filme nacional da história, tendo arrecadado 143,9 milhões de reais.
Paulo Gustavo também protagonizou a peça Hiperativo, em 2010, sob direção de Fernando Caruso, atuou ao lado de Lília Cabral no filme Divã (2009) e, nos anos seguintes, ganhou cada vez mais destaque na televisão, quando assumiu a apresentação do 220 Volts, programa de humor do Multishow, onde estreou, em 2013, a sitcom Vai que Cola.
“Hoje, o Brasil perde um de seus artistas mais queridos. Para o público, um ídolo, um gênio da comédia. Para nós, além de tudo isso, também um amigo e uma parte importante da nossa história”, diz uma nota de pesar publicada pelo Multishow, que ressalta o talento do humorista.
“À família do Paulo —Dona Déa, Júlio Marcos, Juliana Amaral, Thales e os meninos, Gael e Romeu—todo o nosso carinho e solidariedade. Que a longa e difícil luta do Paulo pela vida seja um marco para que nosso país se una no combate à pandemia. Muito obrigado por ter dividido com o Brasil todo seu talento e sua alegria. Você marcou a nossa história. Palmas eternas”, conclui a nota.
Por vezes acusado de fazer um humor estereotipado e caricato, a despedida de Paulo Gustavo —e, com ele, da inesquecível Dona Hermínia—, deixa o país um pouco mais órfão de sorrisos. Caetano Veloso disse que o ator era “um poço de talento e gerador de prazer” e fez questão de pontuar que a morte do humorista acontece no mesmo dia em que começa da CPI da Pandemia, no Senado, que investiga as responsabilidades do Governo federal no agravamento da crise sanitária. “O povo brasileiro, que encheu o cinema para rir com Paulo Gustavo, está de luto. E deve revoltar-se contra os responsáveis por nossa vulnerabilidade frente à pandemia que nos tirou essa pessoa amada.”
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba
Fonte: EL País
Créditos: EL País